Em meio a preocupações sobre a crise hídrica e ainda tentando assimilar a perspectiva de aumento de tributação, o Ibovespa voltou a terreno negativo nesta terça-feira em que parecia a caminho de fechar no menor nível desde 31 de maio. Ao final, limitou as perdas e fechou quase no zero a zero, em leve baixa de 0,08%, aos 127.327,44 pontos, acima do encerramento de sexta-feira, com giro enfraquecido nesta terça a R$ 27,5 bilhões.
No mês, o índice acumula ganho de 0,88%, com avanço de 0,06% na semana - no ano, sobe 6,98%. Nesta terça, descolado de sessão em geral positiva no exterior - sustentada mais uma vez pelo trilionário pacote de infraestrutura nos Estados Unidos e por dados europeus favoráveis -, o Ibovespa oscilou entre mínima de 126.184,05 e máxima de 127.507,18, saindo de abertura aos 127.429,17 pontos.
Prevaleceram sobre o humor doméstico os desdobramentos em torno da crise hídrica - especialmente a elevação da tarifa de energia, pressão extra sobre a inflação -, o que deixou em segundo plano as boas notícias, como o desempenho da arrecadação federal em maio, no maior nível para o mês na série histórica iniciada em 1995, e o arrefecimento do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) em junho, a 0,60%, comparado a 4,10% em maio. Por sua vez, o déficit primário do governo central, a R$ 20,947 bilhões em maio, veio abaixo da mediana de projeções para o mês, de déficit a R$ 24,2 bilhões - o que contribui, assim como o desempenho da receita, para melhora da percepção sobre a situação fiscal, em recente recuperação.
"Neste penúltimo dia do mês, ainda pesou no humor a proposta de reforma tributária, com tributação de dividendos, assim como o reajuste na bandeira tarifária de energia elétrica. A arrecadação poderia ter injetado algum ânimo. Por outro lado, muitos analistas consideram que a Vale pode fazer antecipação de dividendos, com essas mudanças da reforma", diz Bruno Madruga, head de renda variável da Monte Bravo Investimentos, destacando também a cautela dos investidores com relação aos últimos desdobramentos da CPI da Covid, que contribuem para acentuar o risco político.
"A novidade do dia ficou por conta da elevação em 52% da bandeira vermelha, o que deve forçar ainda mais o IPCA este ano e sacramentar o fechamento, em 2021, acima do teto da meta. Em vista da medida, cresce a expectativa de o Copom acelerar o processo de alta da Selic - e de até mesmo atingir o patamar de 7% ainda neste ano", diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.
Para Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest, o comportamento do câmbio ao longo do mês reflete a perspectiva para a Selic e a percepção de que os Estados Unidos ainda manterão juros baixos por algum tempo, o que acabou enfraquecendo o dólar - um fator positivo para o Ibovespa. Nesta terça, mesmo com aversão a risco no plano doméstico, a moeda americana à vista permaneceu abaixo do limiar de R$ 5, em alta de 0,28%, a R$ 4,9419 no fechamento. "Temos empecilhos no Brasil que podem fazer com que a taxa de câmbio volte a depreciar: não só a pandemia como também a crise política e agora a hídrica."
Nesta terça-feira, destaque para as ações de commodities, especialmente Vale ON (SA:VALE3) (+1,73%), apesar do desempenho desfavorável dos preços do minério de ferro na China, em baixa de 2,88% (Qingdao). Petrobras PN (SA:PETR4) e ON (SA:PETR3) fecharam, respectivamente, em alta de 0,45% (na máxima do dia, a R$ 29,18) e 1,37%, o que, ao lado de Vale, contribuiu para mitigar as perdas observadas no segmento de maior peso no índice, o de bancos, em queda nesta terça-feira entre 0,60% (Santander (SA:SANB11)) e 0,99% (Itaú (SA:ITUB4) PN), ainda se ajustando às novidades tributárias propostas na última Sexta-feira.
Na ponta do Ibovespa, destaque para Braskem (SA:BRKM5) (+5,36%), à frente de Banco Inter (SA:BIDI4) (+4,13%) e de CSN (SA:CSNA3) (+4,10%). No lado oposto, Iguatemi (SA:IGTA3) cedeu 3,74%, Petrobras Distribuidora (SA:BRDT3), 3,52%, e Ultrapar (SA:UGPA3), 3,44%.