Investing.com – Armazenamento de dados requer energia, e muita energia, o que é disponível no Brasil. Mas o país pode se tornar um potencial centro global para data centers de treinamento em inteligência artificial (IA)?
Com a expectativa de crescimento exponencial da demanda global por data centers nos próximos anos, em linha com o frenesi em inteligência artificial (IA), que requer alto processamento de dados e consumo de energia, o Brasil pode se beneficiar desse cenário, que traz uma série de oportunidades. Com excesso de oferta de eletricidade pelo Brasil, a segurança energética está entre as vantagens, com matriz robusta e diversificada, além de preços competitivos.
No cenário internacional, os Estados Unidos dominam a concentração de data centers, segundo o Santander (BVMF:SANB11), que detalhou o tema em relatório divulgado aos clientes e ao mercado. Com 11.879 data centers em 136 países, cerca de metade fica na América do Norte, com 48%. 45% estão nos EUA, 29% na Europa, 15% na Ásia, 5% na América Latina e 3% na Oceania.
Com problemas no fornecimento de energia nos Estados Unidos e Europa, assim como ações que visam reduzir as emissões de carbono, uma expansão mais robusta nesses locais pode se tornar problemática. Assim, o país poderia ajudar a suprir a crescente demanda internacional por data centers.
“Com a crescente demanda por armazenamento de dados, as grandes empresas procurarão países que ofereçam uma combinação de baixo custo, infraestrutura sólida e energia confiável. O Brasil se destaca globalmente em termos de geração de energia limpa, disponibilidade e eficiência de custos”, apontam os analistas Maria Paula Cantusio, Aline de Souza Cardoso e Andre Sampaio.
O excesso de oferta de eletricidade e menor uso de energias de origem com combustíveis fósseis coloca o Brasil em uma posição favorável. “Os data centers são edifícios que consomem muita energia e exigem um fornecimento confiável de energia para manter computadores e máquinas resfriados. A segurança energética é outra vantagem da matriz elétrica brasileira devido à sua diversificação e infraestrutura robusta de transmissão e distribuição, especialmente no Sudeste”, completam, lembrando de eventos climáticos com cortes de energia nos Estados Unidos e Índia no ano passado.
Além de focar em matrizes mais limpas, o Brasil adota ações de transformação digital como implementação da rede 5G, internet das coisas e promove cidades inteligentes. A proximidade geográfica do Chile, maior produtor mundial de cobre, necessário para as aplicações dos data centers e geração de energia renovável, também é um dos fatores citados pelos analistas.
Entre oportunidades e desafios
Apesar dos fatores que favorecem o Brasil como player para expansão dos data centers, o Santander menciona uma série de desafios: juros altos, carga tributária, infraestrutura de tecnologia de informação (TI) limitada, com maior concentração no Sudeste e a falta de profissionais com qualificação neste segmento.
Segundo o Santander, o país conta com somente três conexões internacionais de cabos submarinos e a infraestrutura das redes de transmissão e precisaria de melhorias robustas.
O banco menciona ainda o nível educacional com ponto a ser monitorado, diante da necessidade de qualificações especializadas para este setor, se quiser competir a nível internacional.
Ao se questionar se o Brasil poderia usar a sua capacidade de geração de energia renovável para exportar produtos com utilização intensiva de eletricidade, o Itaú BBA responde que, “dado o ritmo acelerado das mudanças em vários setores que estão caminhando em direção a uma economia com pegada sustentável, a resposta a esta questão estará em três áreas principais: regulamentação, expansão confiável da rede e estabilidade macro”, completam os analistas Fillipe Andrade, Thiago Alves Kapulskis, Marcelo Sá, Luiza Candiota, Victor Cunha e Maria Clara Infantozz.
Companhias beneficiadas
Com a perspectiva de possível expansão dos data centers, o Santander elenca companhias que podem ser favorecidas com esse cenário. No setor de utilities, Eletrobras (BVMF:ELET3), Copel (BVMF:CPLE6) e Eneva (BVMF:ENEV3); no setor industrial, Intelbras (BVMF:INTB3) e Telefônica Brasil (BVMF:VIVT3) (Vivo); no setor industrial Weg (BVMF:WEGE3) e Tupy (BVMF:TUPY3); em real estate Log Commercial Properties SA (BVMF:LOGG3) e fundos imobiliários.
Enquanto isso, o Itaú BBA acredita que, no curto prazo, o player favorecido seria a Serena (BVMF:SRNA3), pois está presente no Texas e possui “longo histórico de desenvolvimento de ativos dentro do prazo e do orçamento”. Além dela, cita Eletrobras, Engie (BVMF:EGIE3) e Auren Energia (BVMF:AURE3) como players para surfar essa onda, pois teriam “pipelines sólidos de projetos renováveis a serem desenvolvidos ou grandes volumes de energia não contratada que já poderiam atender a essa nova demanda”.
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