Por Bernard Orr e Eduardo Baptista
PEQUIM (Reuters) - A população chinesa está preocupada nesta quinta-feira com a possibilidade de transmitir a Covid-19 para seus parentes idosos, à medida que planejam retornar às suas cidades natais para o período de férias que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), pode desencadear um surto violento do vírus.
O feriado do Ano Novo Lunar, que se inicia oficialmente em 21 de janeiro, acontece após a China abandonar no mês passado um regime de controle do vírus rígido --com lockdowns em massa-- que gerou frustração generalizada e levou à eclosão de protestos históricos.
Essa reviravolta abrupta permite que o vírus circule entre uma população de 1,4 bilhão de pessoas que carece de imunidade natural, tendo sido resguardada da infecção desde que ela surgiu pela primeira vez no final de 2019, e inclui muitos idosos que não estão totalmente vacinados.
O surto que se espalha das megacidades chinesas para as áreas rurais com recursos médicos mais escassos está sobrecarregando alguns hospitais e crematórios.
Com poucos dados oficiais da China, a OMS disse na quarta-feira que controlar o vírus durante o período de férias considerado a maior migração anual de pessoas do mundo será desafiador.
Outros alertas de importantes especialistas em saúde da China aconselhando que as pessoas evitem contato com parentes idosos durante as férias ficaram entre os mais lidos no Weibo, uma plataforma chinesa semelhante ao Twitter, nesta quinta-feira.
"Essa é uma sugestão muito pertinente, voltar para a cidade natal... ou colocar a saúde dos idosos em primeiro lugar", escreveu um usuário. Outro disse que não ousava visitar a avó e deixaria presentes para ela na porta.
"É quase ano novo e temo que ela fique solitária", escreveu o usuário.Mais de 2 bilhões de viagens são esperadas por toda a China durante o período mais amplo do Ano Novo Lunar, que começou em 7 de janeiro e dura 40 dias, segundo o Ministério dos Transportes. Isso é o dobro do volume de viagens do ano passado e 70% do observado em 2019, antes do surgimento da pandemia na cidade de Wuhan, no centro da China.
FALTA DE DADOS É CRITICADA
Governos estrangeiros e a OMS criticam a China por não ser direta sobre a escala e a gravidade do surto no país, o que tem levado várias nações a impor restrições a viajantes chineses.
A China registrou cinco mortes ou menos por dia ao longo do mês passado, números inconsistentes com as longas filas observadas nas funerárias. O país não reportou os dados de mortes por Covid-19 na terça e na quarta-feira.
Liang Wannian, chefe de um painel de especialistas em Covid sob a autoridade de saúde da China, disse a repórteres que as mortes só conseguem ser contabilizadas com precisão após o fim da pandemia.
Embora especialistas internacionais em saúde tenham previsto pelo menos um milhão de mortes relacionadas à Covid neste ano, a China registrou pouco mais de 5.000 desde o início da pandemia, uma fração do que outros países têm reportado à medida que reabrem suas economias.
(Reportagem de Bernard Orr, Liz Lee, Eduardo Baptista e Jing Wang em Pequim)