O Banco Daycoval (BVMF:DAYC4) anunciou lucro líquido de R$ 378 milhões no quarto trimestre de 2022, aumento de 9,2% ante igual período do ano anterior. O resultado recorrente somou R$ 394,2 milhões, expansão de 21%. A crise da Americanas também afetou o banco, que é credor da varejista e faz uma provisão de 50% dos cerca de R$ 500 milhões que tem com o grupo.
Em 2022, o lucro líquido recorrente do Daycoval somou R$ 1,3 bilhão, aumento de 5,3%, enquanto o contábil caiu 21%, para R$ 1,1 bilhão. O retorno patrimonial sobre o resultado recorrente ficou em 24,2%, queda de 0,8 ponto porcentual.
No balanço, o Daycoval não menciona o nome da Americanas, apenas faz um comentário que a provisão se deveu ao fato relevante publicado em 11 de janeiro, a data que a empresa anunciou o rombo de R$ 20 bilhões. A empresa foi reclassificada da linha "AA", no rating; de perfil de crédito do Banco Central, para a "F" e há chance de nova reclassificação para a "H" no primeiro trimestre de 2023, a linha que mostra créditos irrecuperáveis e que o Itaú (BVMF:ITUB4) já colocou as dívidas da varejista e que exige previsão de 100%.
A Americanas era cliente antigo do Daycoval e acabou pegando o banco de surpresa, assim como seus pares no mercado financeiro. O diretor de relações com investidores, Ricardo Gelbaum, conta que o banco já estava mais cauteloso em dar crédito no final de 2022 e esta preocupação prossegue agora. "De uma cabeça conservadora que a gente já vinha no início do quarto trimestre, ficamos mais preocupados."
Para Gelbaum, a mensagem principal neste momento sobre os números trimestrais do Daycoval é que a "foto do balanço está muito boa, mas estamos muito preocupados é com o filme".
O executivo diz que o episódio da varejista contaminou o mercado de crédito como um todo no sentido de gerar mais cautela. "Na hora que você começa a ver uma certa deterioração da qualidade dos ativos e das garantias, como recebíveis, acaba contaminando o ecossistema como um todo." Assim, o mercado de crédito como um todo fica mais sensível, sensação que piora com mais uma empresa do setor, a Marisa, anunciando reestruturação de dívida.
Para esta primeira metade de 2023, Gelbaum disse que o banco pretende ser "bastante seletivo, bastante criterioso na aprovação de crédito e na requisição de garantias".
Os indicadores de inadimplência do Daycoval ficaram, no geral comportados no quarto trimestre. A taxa para atrasos acima de 90 dias terminou dezembro em 1,5%, de 1,6% do trimestre anterior. A exceção foi a carteira de veículos, que subiu de 7,1% para 7,8%. A carteira é de veículos usados, já refletindo, segundo o executivo, a piora da economia por causa dos juros altos. "A gente sente que essa carteira antecipa um pouco a piora da economia."
Mesmo com a provisão maior para o evento da Americanas, o saldo de provisão para créditos de liquidação duvidosa do Daycoval não teve alta forte, encerrando o quarto trimestre com R$ 1,796 bilhão, aumento de 5,2% em relação ao trimestre anterior.
A carteira de crédito do Daycoval encerrou 2022 em R$ 55,4 bilhões, crescimento de 18,7% em 12 meses. Desse total, a grande maioria (74%) é de empréstimo para empresas, o negócio principal do banco, que ainda atua em consignado e veículos, esta última com apenas 2,3% da carteira.
O índice de Basileia, que mede a capitalização para emprestar no crédito, fechou dezembro em 12,9%, acima do mínimo exigido pelo Banco Central. No trimestre anterior, estava em 13,3%.