Por Nikolaj Skydsgaard e Jacob Gronholt-Pedersen
COPENHAGEN (Reuters) - Autoridades de saúde da Dinamarca e da Noruega suspenderam temporariamente nesta quinta-feira o uso de vacinas contra Covid-19 da AstraZeneca depois de relatos de casos de formação de coágulos sanguíneos em pessoas que foram vacinadas.
A medida vem depois de a Áustria parar de usar um lote da vacina da AstraZeneca enquanto investiga uma morte provocada por disfunções relacionadas a coágulos e um caso de embolia pulmonar.
Autoridades de saúde dinamarquesas disseram que a decisão de suspender a aplicação da vacina por duas semanas foi tomada depois de uma mulher de 60 anos, que recebeu uma vacina do mesmo lote usado na Áustria, formar um coágulo sanguíneo e morrer.
As autoridades dinamarquesas disseram que responderam "a relatos de possíveis efeitos colaterais graves, tanto na Dinamarca, quanto em outros países europeus".
"Não é possível concluir no momento que exista uma relação. Estamos agindo preventivamente, precisa ser amplamente investigado", disse o ministro da Saúde, Magnus Heunicke.
Já o diretor de prevenção e controle de infecções do Instituto Norueguês de Saúde (FHI), Geir Bukholm, disse que a decisão tomada pela Noruega foi uma medida de precaução. O FHI não disse quanto tempo durará a suspensão.
"Aguardamos informações para ver se há uma relação entre a vacinação e esse caso de coágulo sanguíneo", disse Bukholm.
Também nesta quinta, a Itália anunciou a proibição de um lote da vacina da AstraZeneca diferente do usado na Áustria.
No Brasil, a vacina da AstraZeneca foi a primeira aposta do governo federal para imunizar a população contra a Covid-19, por meio de um acordo do laboratório com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para a produção de 210 milhões de doses.
A área técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acompanha a situação e já analisa as informações sobre os relatos de efeitos adversos para se posicionar, disse uma fonte com conhecimento do caso.
Até o momento, a vacina da AstraZeneca foi autorizada apenas para uso emergencial no país, embora o laboratório já tenha entrado com um pedido de registro definitivo junto à agência.
Devido a atrasos de cronograma, apenas 4 milhões de doses do imunizante, que foram importadas prontas da Índia, foram entregues pelo Ministério da Saúde aos Estados.
ABORDAGEM CAUTELOSA
Alguns especialistas em saúde disseram haver poucas evidências a sugerirem que a vacina da AstraZeneca não deve ser aplicada e que os casos de coágulos sanguíneos estão em linha com as taxas de casos deste tipo na população em geral.
"Isso é uma abordagem super cautelosa baseada em alguns relatos isolados na Europa" , disse à Reuters Stephen Evans, professor de fármaco-epidemiologia na London School of Hygiene & Tropical Medicine.
"O problema com relatos espontâneos de supostas reações adversas graves a uma vacina é que há enorme dificuldade de distinguir um efeito causal de uma coincidência", afirmou ele, acrescentando que a Covid-19 é fortemente associada à formação de coágulos.
A AstraZeneca disse em comunicado enviado à Reuters que a segurança de sua vacina foi amplamente estudada em testes com humanos e dados revisados por outros cientistas confirmaram que a vacina foi, no geral, bem tolerada.
No início desta semana, a farmacêutica disse que suas vacinas são sujeitas a controles de qualidade severos e rigorosos e que não houve "quaisquer eventos adversos graves confirmados associados com a vacina". Ela ainda disse que está em contato com autoridades austríacas e que apoiará totalmente sua investigação.
Na quarta-feira, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) disse que até agora não há indícios ligando a AstraZeneca aos dois casos na Áustria.
Segundo a agência, o número de eventos de tromboembolismo pulmonar – marcado pela formação de coágulos sanguíneos – em pessoas que receberam a vacina da AstraZeneca não é maior do que aquele visto na população em geral, e que 22 casos do tipo foram relatados entre as três milhões de pessoas que a receberam até 9 de março.
A EMA não estava imediatamente disponível para comentar nesta quinta.
Quatro outros países --Estônia, Lituânia, Luxemburgo e Letônia-- suspenderam as inoculações da mesma remessa enquanto uma investigação prossegue, disse a agência reguladora de medicamentos da União Europeia.
A remessa de 1 milhão de doses da vacina foi para 17 países da UE.
Autoridades suecas disseram não ter encontrado evidências suficientes para parar a vacinação com o imunizante da AstraZeneca. A Suécia encontrou dois "eventos tromboembólicos" em conexão com a vacina da AstraZeneca e cerca de 10 para a vacina da Pfizer com a BioNTech.
"Não vemos razão para revisar nossa recomendação", disse Veronica Arthurson, da Agência Sueca de Produtos Médicos, em entrevista coletiva. "Não há nada que indique que a vacina cause este tipo de coágulo sanguíneo."
Nesta quinta, a Espanha disse que não registrou nenhum caso de coágulo sanguíneo até o momento e continuará a aplicar a vacina.
(Reportagem adicional de Ludwig Burger em Frankfurt, Johan Ahlander em Estocolmo, Victoria Klesty em Oslo, Kate Kelland em Londres, e Ricardo Brito em Brasília)