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ENFOQUE-Bancos locais ganham preferência de candidatas a IPO

Publicado 14.09.2020, 09:42
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Por Carolina Mandl

SÃO PAULO (Reuters) - Os dias de grandes bancos de investimento globais sendo o destino certeiro de empresas interessadas em listar suas ações na bolsa de valores podem estar ficando para trás, pelo menos no Brasil. O mercado brasileiro de ofertas públicas iniciais de ações está em alta este ano, apesar da pandemia.

Ainda assim, entre as cinco instituições financeiras que lideram o ranking de coordenadores em volume de negócios, quatro são nacionais, segundo dados da Refinitiv: Itaú Unibanco (SA:ITUB4), Bradesco (SA:BBDC4), Xp Inc (NASDAQ:XP) e BTG Pactual (SA:BPAC11). O outro é o Bank of America. Isso marca uma mudança acentuada em relação ao mesmo período do ano passado, quando quatro dos cinco principais eram grandes atores globais - Bank of America, Credit Suisse, Citi e HSBC - com apenas um brasileiro, Banco do Brasil (SA:BBAS3).

Ainda assim, especialistas do setor alertam que, apesar das tendências de mudança em 2020, é muito cedo para se decretar uma mudança estrutural no mercado de IPOs. Os principais fatores por trás dessa recente tendência, de acordo com especialistas do setor, incluem a crescente participação dos investidores domésticos nos IPOs e também aos relacionamentos dos bancos locais com uma nova geração de empresas que acessa o mercado de capitais - incluindo os empréstimos que concedem a elas.

Os investidores brasileiros estão enchendo seus portfólios de ações recentemente, à medida que as taxas de juros caíram para níveis históricos, tornando os investimentos em renda fixa menos atraentes. Os investidores estrangeiros responderam por 38% do dinheiro dos IPOs brasileiros neste ano, em comparação com 57% há dois anos e abaixo da média histórica de 60% desde 2007.

"Os investidores locais estão migrando para ações e os gestores de fundos estão tendo dificuldade em encontrar ações da empresa para comprar", disse Pedro Mesquita, sócio da XP. Quando a empresa de cashback Méliuz começou a planejar um IPO recentemente, por exemplo, poderia ter optado por bancos globais, como JPMorgan Chase, Morgan Stanley (NYSE:MS) e Goldman Sachs (N:GS), todos com escritórios no Brasil.

Mesmo assim, os fundadores e investidores de venture capital da Méliuz escolheram BTG Pactual, Bradesco, XP e Itaú Unibanco como os coordenadores de um IPO que deve ser lançado em breve. Os bancos globais, porém, provavelmente ainda serão escolhidos como destino certeiro para IPOs de grande porte e devem obter mandatos importantes até o final do ano, dizem especialistas do setor.

IPOs multibilionários, como os da seguradora Caixa Seguridade, da rede de hospitais Rede D'Or e da varejista Havan, serão coordenados por bancos internacionais e locais, por exemplo. "Os bancos locais costumam ter relacionamentos comerciais com empresas menores que crescem e atingem o porte necessário para um IPO, mas isso não significa que os bancos globais não liderarão em termos de volume até o final do ano", disse Fabio Medeiros, managing director no Morgan Stanley, em São Paulo.

CRESCIMENTO DE NEGÓCIOS NO BRASIL

IPOs no Brasil estão a caminho de seu maior ano desde 2007. Treze empresas já fizeram sua estreia e mais de 40 outras já entraram com pedido de ofertas junto ao regulador. Até agora, as empresas levantaram 3,1 bilhões de dólares, 113% a mais que no mesmo período do ano anterior, nos 13 IPOs - superando os IPOs globais, que têm alta de 20%, segundo dados da Refinitiv.

Na Índia, em comparação, houve 21 IPOs, mas eles levantaram 1,7 bilhão de dólares, queda de 22,8% em relação ao ano anterior, enquanto na China 328 negócios levantaram 52,4 bilhões de dólares, mais que o dobro em relação ao ano anterior.

Os quatro bancos domésticos que lideram o ranking de IPOs de empresas brasileiras responderam por 54,3% do volume dessas ofertas iniciais. Muitas das empresas dessa nova onda de IPOs vêm de lugares distantes do tradicional corredor comercial São Paulo-Rio, onde bancos globais geralmente não têm escritórios. "Por muito tempo, a bolsa brasileira girou em torno de commodities e bancos", disse Alessandro Farkuh, chefe da área de banco de investimento do Bradesco.

"Agora existem empresas de diferentes setores, do puro e-commerce a negócios de varejo mais regionais. Os bancos nacionais conhecem todas essas empresas."

COMPETIÇÃO AQUECE

Quando a construtora familiar Moura Dubeux (SA:MDNE3) contratou cinco bancos para seu IPO no início deste ano, quatro eram domésticos. A empresa era credora de três deles. O Credit Suisse, o único banco global escolhido, é o banco que gere os recursos da família proprietária da empresa.

"Percebi que a maioria dos meus investidores seriam brasileiros e acho que os bancos locais atingiram um padrão global para coordenar ofertas de ações", disse Diego Villar, presidente da Moura Dubeux, com sede no Estado de Pernambuco.

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Roderick Greenlees, diretor global de banco de investimentos do Itaú BBA, disse que os bancos domésticos foram se posicionando para a recente mudança no cenário de IPOs.

"Os bancos brasileiros perceberam que haveria uma demanda crescente por serviços de mercado de capitais e contrataram mais banqueiros nos últimos anos", acrescentou.

Com tantos bancos locais e globais disputando negócios no Brasil, o país é um mercado cada vez mais competitivo. As comissões médias pagas para os bancos em IPOs no ano passado foram de 3,3%, em comparação com 4,4% nos Estados Unidos, de acordo com o provedor de dados Dealogic.

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