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ENTREVISTA - Tupy quer crescer em 2021 com pacote trilionário dos EUA

Publicado 20.11.2020, 17:33
© Reuters.
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TUPY3
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Por Ana Carolina Siedschlag

Investing.com - A Tupy (SA:TUPY3), empresa que fornece componentes sob encomenda para o setor automotivo e cuja receita é majoritariamente dolarizada, se prepara para abraçar o possível pacote trilionário de infraestrutura prometido para os Estados Unidos em 2021, disse Thiago Struminski, diretor financeiro da companhia, em entrevista ao Investing.com Brasil.

Fundada na cidade de Joinville, Santa Catarina, em 1938, a Tupy tem 85% da receita vinda do exterior e, no terceiro trimestre deste ano, atingiu o maior lucro financeiro e líquido e o maior Ebitda da história, marcados pela retomada das operações, pela recuperação parcial dos setores atendidos e pela valorização do dólar ante o real.

A empresa reportou receita de R$ 1,25 bilhão, com recuperação gradual desde o mês de junho e crescimento de 94% em relação ao segundo trimestre, Ebitda de R$ 248,8 milhões e lucro líquido de R$ 128 milhões, avanço de 93% na base anual. E, segundo Struminski, terá mais oportunidade de crescer no próximo ano.

Grande parte da produção da Tupy engloba peças para caminhões, ônibus, máquinas agrícolas e de construção, carros de passeio, motores industriais e marítimos. São blocos e cabeçotes de motor e peças para sistemas de freio, transmissão, direção, eixo e suspensão, além de conexões de ferro que atendem a setores diversos da indústria, quase todos ligados à infraestrutura.

Com isso, a empresa enxerga boas oportunidades no pacote de investimentos em energia, rodovias e aeroportos em tramitação no Congresso americano, além de esperar que as aprovações regulatórias da aquisição da Teksid sejam concluídas no primeiro trimestre do próximo ano. Para Struminski, existem outras oportunidades de aquisições, “mas que devem ficar mais para frente”.

Confira a entrevista completa:

Investing.com - A Tupy teve o maior lucro operacional, o maior lucro líquido e o maior Ebitda da história da empresa no terceiro trimestre. O que explica esse resultado?

Thiago Struminski: O que chama atenção neste trimestre é que, apesar da queda de 26% no volume físico de vendas quando comparado com 2019, nossa carteira teve um mix e um valor agregado muito melhor, ou seja, produtos com diferentes tipos de acabamento. Usinamos mais nesse trimestre, vendemos mais uma liga mais sofisticada. Isso deixou o mix muito mais atraente.

O câmbio também nos ajudou, já que 85% da nossa receita vem do exterior. Fizemos um esforço muito grande para melhorar o custo-caixa e as operações do México também tiveram uma melhora substancial. Até ano passado, o México não usinava, então tiveram uma dificuldade para contornar isso e, já a partir do primeiro trimestre deste ano, foram muito bem.

Inv.com - Quais as principais dificuldades enfrentadas pela empresa durante pandemia?

TS: O primeiro aspecto foi nos preocupar com a saúde física e psicológica não só dos nossos funcionários, mas das famílias. Esse foi o ponto central e, a partir daí, o que e como você pode produzir ganha muita restrição.

Outro ponto é que a Tupy é uma empresa global e que fornece para várias partes do mundo, e essas regiões foram impactadas de formas diferentes. Tivemos muita dificuldade de logística e transporte para atender o cliente, mas conseguimos nos adaptar a essa realidade. Abril e maio foram os meses mais intensos, queda de quase 70% do volume em relação de 2019, então aprendemos a trabalhar de maneira eficiente.

Aprendemos muito gerenciando a crise. Revisamos todos os processos internos, principalmente na produção de suprimentos. A maneira como reforçamos os laços com a nossa comunidade aqui em Joinville foi um ponto que veio para ficar. Fomos, se não a primeira, uma das primeiras no Brasil a parar em função da pandemia, então foi uma experiência bem radical. Mas como exportamos quase 85% dos produtos, já estávamos olhando para fora e imaginando que isso fosse acontecer.

Inv.com - Como está a produção hoje?

TS: O ritmo de volume ainda está atrás de 2019. Dos números que publicamos no resultado do terceiro trimestre, ficamos 34% abaixo de 2019 em julho, 27% em agosto e 16% em setembro. Gradualmente estamos chegando ao ritmo parecido para de 2019, mas não acredito que chegaremos lá ainda esse ano, então a expectativa é normalizar somente no ano que vem.

Inv.com - Quais são os planos e perspectivas para 2021?

TS: Apesar dos resultados econômicos e financeiros estarem muito bem nas métricas históricas, diferentemente de outros setores, o nosso volume físico ainda não retomou o patamar normal. Só que índices de fretes, movimentos de produtos, rodovias pedagiadas, construções de casas, tudo isso já retomou ao patamar pré-Covid. Significa que há uma tendência de 2021 ser um ano muito bom.

Um ponto interessante é os produtos da Tupy são muito consumidos em períodos de retomada econômica. Um eventual pacote de infraestrutura dos Estados Unidos vai ativar diretamente a nossa cadeia de produção e os nossos clientes estão muito ligados a isso, em investimentos em energia, infraestrutura, construção civil, agricultura. Estamos bem animados com o que pode acontecer ao longo do próximo ano.

Inv.com - Há perspectiva de crescimento da presença da Tupy internamente com a aprovação dos marcos de infraestrutura no país, como o do Saneamento e o Gás?

TS: Não sei se um aumento porque existe uma expectativa muito grande do mercado norte-americano ter um bom desempenho em 2021. Aumento proveniente do mercado americano, que potencialmente deve ser um pacote trilionário, deve superar o potencial ganho local, seja do Marco do Gás ou do Saneamento.

De qualquer maneira, o ganho absoluto sem dúvida deve vir, porque, para a Tupy, qualquer investimento em infraestrutura ou envolvendo carga e transporte significa algo bom para os nossos produtos. O que interessa é que nós iremos crescer, mas não sei se esses marcos locais são suficientes para superar a demanda por infraestrutura lá de fora.

Inv.com - Como está o fornecimento de matérias-primas para a companhia?

TS: Existe um efeito muito grande, seja em disponibilidade, seja em preços, em vários insumos, em particular os produtos que são importados. Principalmente no começo da pandemia, todo mundo suspendeu as importações. Com uma retomada um pouco mais brusca, como está acontecendo agora, está faltando uma série de produtos para a cadeia produtiva. Estamos tentando fazer o máximo para operar nessas condições, tentando entender de que maneira superar esse desafio da indústria como um todo.

Inv.com - Em que patamar está a conclusão da aquisição da Teksid? A Tupy já olha para outras aquisições?

TS: A aquisição da Teksid teve as aprovações na Europa e ainda segue em análise no Brasil, no México e nos EUA. Aguardamos posicionamento dessas autoridades para o final do primeiro trimestre.

Essa compra é muito relevante para nós. Acho que tem um processo importante de extração de valor para os nossos acionistas. O foco é esse. Existem outras oportunidades, mas devem ficar um pouco mais para frente.

Inv.com - A Tupy teve, e ainda, está tendo um papel importante na prevenção do coronavírus em Joinville, oferecendo a estrutura esportiva da recreativa como centro de triagem da prefeitura. Que outras ações foram tomadas durante a pandemia pensando na cidade-sede da empresa e em seus colaboradores?

TS: Em março, contratamos um infectologista, que revirou a fábrica de cima abaixo para descobrir o que precisaríamos fazer para operar com menos risco. Construímos macas, doamos EPIs, a equipe de TI, junto com outras empresas da região, desenvolveu um sistema para ajudar a prefeitura. Afastamos grupos de risco e construímos o centro de triagem de maneira acelerada, que ofereceu mais de 21 mil atendimentos. Essa relação com a cidade ficou muito mais forte.

Inv.com - Então o 'S' de ESG [sigla para Environmental, Social and Governance, ou Ambiental, Social e de Governança, em português] já está bem atendido. Como a empresa se posiciona em relação às outras duas letras?

TS: O 'S' está bem atendido não só em Joinville mas também em Saltilho e em Ramos Arizpe, no México. Nós temos um trabalho de anos com a Escola Técnica Tupy, a formação de muitos engenheiros aqui que transformou esse polo da região.

Sobre o ‘G’, é claro que tem sempre oportunidades, mas nós estamos no Novo Mercado desde 2013. Mas o que a gente hoje quer explicar um pouco melhor sempre é a oportunidade que existe no 'E'. O mundo inteiro está procurando uma rota de descarbonização e a descarbonização eficiente vai passar pelos nossos produtos. Queremos estar bem posicionados para isso.

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