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ENTREVISTA: Após IPO, Kore aposta em novo serviço e expansão no setor de utilities

Publicado 19.11.2021, 12:26
© Reuters.
KORE
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Por Ana Julia Mezzadri

Investing.com - A Kore (NYSE:KORE), empresa especializada em soluções de Internet of Things, realizou seu IPO por meio de uma SPAC em Nova York há cerca de um mês.

Desde então, os papéis registram alta acumulada de 13,66%. Nesta sexta-feira, às 12h23 (horário de Brasília), a ação era negociada em baixa de 3,16%, a US$ 7,35.

Além disso, na última segunda-feira (15), a companhia divulgou seu primeiro relatório de resultados desde que foi listada na bolsa. As receitas do terceiro trimestre de 2021 subiram 22,8% em relação ao mesmo período do ano anterior, para US$ 67,9 milhões, enquanto o prejuízo líquido foi reduzido para US$ 4,5 milhões, de US$ 5,6 milhões anteriormente.

Para além dos Estados Unidos, a companhia vem apostando na oferta de uma nova solução para seus clientes, deixando de apenas conectar dispositivos para também coletar, traduzir e fornecer dados. Outro setor no centro dos esforços de expansão da companhia é o de utilities, ainda subpenetrado no Brasil e com grande potencial.

Mas a expansão prevista não é só orgânica. Segundo Sergio Souza, VP da Kore, diversas oportunidades de aquisições vêm sendo analisadas, especialmente companhias com tecnologia própria.

Leia abaixo a entrevista completa com Sergio Souza, VP da Kore.

Investing.com - Quais são as principais soluções oferecidas pela Kore?

Sergio Souza - A Kore é uma empresa especializada em IoT, que é Internet of Things. Deveria ser Intelligence of Things. À medida que as coisas vão ficando inteligentes, elas precisam se comunicar, como nós. A empresa tem quase 20 anos nos Estados Unidos, e veio para o Brasil através da aquisição de uma startup local em 2013. Ela está presente de forma global, tem mais de 15 milhões de equipamentos conectados no mundo todo e um crescimento bastante expressivo. 

O que ela faz é apoiar seus clientes em seus projetos de IoT. A tecnologia tradicional é bastante centralizada, e tradicionalmente focada nas pessoas, nos nossos celulares. À medida que o custo da tecnologia cai e a capacidade aumenta, o que está em volta dos seres humanos começa a ter mais capacidade, mais inteligência e, naturalmente, mais necessidade de comunicação entre si ou com sistemas que coletam os dados e os apresentam de forma relevante para vários tipos de negócios diferentes. 

A Kore tem clientes em vários segmentos diferentes: em logística, conectando veículos, em casas... Aplicações industriais começam a aparecer com a redução dos custos e novas tecnologias de comunicação, a área médica começa a aparecer também, telemedição, utilities... O mercado de utilities já é bastante explorado fora do Brasil, a própria Kore tem pelo menos 3 milhões de pontos conectados para fazer medição. Mas aqui no Brasil isso só despontou mais recentemente, porque a rede celular do Brasil, comparada com a rede celular dos outros países, é muito mais cara, principalmente para IoT, por causa de impostos, por causa da estrutura do modelo de negócios. Mas esse modelo vem sendo alterado ultimamente com a introdução de redes mais modernas.

Em um projeto de IoT você tem três grandes participantes grandes do ecossistema: os participantes que fornecem os equipamentos conectados, que são fábricas, o segmento de soluções, com aplicações que recebem os dados e os transformam na localização do seu carro quando ele for roubado ou na câmera da casa que ligou porque percebeu que tem gente se movimentando lá dentro, por exemplo. Essas aplicações são muito próximas dos negócios dos seus clientes. E, no meio das duas, você precisa ter uma comunicação, porque esses dados precisam chegar no outro lado. Estamos mais ou menos no meio. 

Inv.com - Como foi o processo de IPO?

SS - O processo não foi de IPO. Ele chegou no mesmo lugar, ou seja, nós temos hoje ações negociadas na bolsa de Nova York, mas foi um processo um pouco diferente chamado SPAC (Special Purpose Acquisition Company). Esse processo faz com que haja uma fusão da Kore com uma empresa desse tipo, que já está listada na bolsa, e depois há uma separação já dentro da bolsa. A SPAC que negociou a Kore foi uma empresa chamada Cerberus, que tem vários investidores, na sua maioria americanos, que fizeram um aporte inicial e levaram a empresa para a bolsa. O martelo foi batido há um mês, mais ou menos. E ela começa a ser negociada na bolsa. Estamos bem no comecinho. Nosso primeiro relatório saiu ontem.

Inv.com - Vocês diriam que a listagem foi um sucesso?

SS - Foi muito interessante. O investimento inicial foi mais ou menos o dobro do esperado. Devemos começar a ver resultados de performance das ações a partir da publicação dos resultados trimestre a trimestre.

Inv.com - Sobre o resultado, o que você destacaria?

SS - O mais interessante é o crescimento do faturamento comparado com o ano passado. Por incrível que pareça, o ano passado também não foi um ano tão difícil para a Kore, com toda a dificuldade da pandemia. O cliente típico da Kore normalmente não é o cliente final, ele é um negócio que atende o cliente final. Logística é um segmento muito importante, e a logística, com a pandemia, cresceu e se tornou muito mais importante. Então muitos dos nossos clientes acabaram crescendo com a pandemia e acabamos aproveitando essa onda. Os resultados do ano passado não foram nada mal, e mesmo assim neste ano acabamos tendo um resultado substancialmente melhor, com um crescimento de 22,8%. 

Inv.com - Qual é a estratégia de crescimento daqui para frente?

SS - Estamos acrescentando uma camada de serviços em que, em vez de fornecer para os nossos clientes simplesmente a conexão dos pontos, vamos oferecer os dados. Começamos com o lançamento da última plataforma, que se chama Kora. As mensagens chegam e são enviadas para as aplicações certas. Receber uma quantidade muito grande de mensagens é caro e difícil de gerenciar. Nós começamos a fazer isso pelos nossos clientes, com camadas de segurança muito bem estabelecidas, de forma a deixar os clientes resguardados com relação à segurança. Então em vez de simplesmente conectar A com B, começamos a receber as mensagens, traduzi-las para os diferentes protocolos para que as suas aplicações não precisem lidar com essa diversidade enorme de redes e de protocolos. Esse é um passo muito importante que estamos dando também. A plataforma Kora foi desenvolvida aqui no Brasil. A Kore tem um laboratório de inovação que fica aqui no Brasil, que fornece inovação para o mundo inteiro. 

Esse é um dos caminhos. Começamos a ter penetração nos mercados de utilities, principalmente, aqui no Brasil, com volumes muito grandes. Tecnologias novas permitem que tenhamos escalas maiores principalmente para utilities, cidades inteligentes... Começa a ficar fácil também fazer redes privadas. 

Em relação ao 5G, estamos aguardando o desenrolar da regulamentação das redes privadas aqui no Brasil. A rede privada já foi regulamentada nos Estados Unidos, estamos analisando a entrada nesse mercado também. Ou seja, se o cliente não consegue ou não quer, por algum motivo, utilizar as redes públicas, ele tem a capacidade de criar a sua própria rede celular lá nos Estados Unidos. Aqui no Brasil a Anatel dá sinais que vai regulamentar. A rede privada vai permitir que clientes em fazendas, por exemplo, com um investimento muito mais baixo do que o atual, tenham a possibilidade de colocar redes até de alta performance lá dentro.

Inv.com - Então tem bastante novidade por vir?

SS - Tem bastante. Na parte médica, as coisas estão alterando bastante, Nós temos projetos como localização de equipamentos médicos, que são muito caros, localização de órgãos, transporte de órgãos, em que você precisa de um controle de temperatura muito eficiente. Se você sair do envelope de temperatura correto você perde o que você está carregando. Estamos trabalhando com vários projetos desse tipo que ampliam muito as perspectivas da empresa.

Inv.com - E o foco principal é nesse crescimento orgânico? Ou vocês têm aquisições no radar?

SS - Temos. Já fizemos algumas aquisições, nós estamos no Brasil por meio de uma aquisição. Existem aquisições no radar também, estamos avaliando algumas empresas principalmente que têm tecnologia própria aqui no Brasil. Lá nos Estados Unidos, acho que a última aquisição foi de uma empresa da área médica. Estamos sem dúvida analisando várias oportunidades na América Latina e no mundo inteiro.

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