Por Aluísio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - O sistema financeiro do Brasil está mais preparado do que em crises anteriores para enfrentar os efeitos da recessão, mas bancos pequenos e médios mais concentrados em empréstimos para empresas devem ser monitorados mais de perto, segundo o diretor-executivo do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), André Loes.
"Diferentemente das crises anteriores, dessa vez os bancos médios e pequenos não foram pegos de surpresa, eles estão bem menos alavancados", disse Loes em entrevista à Reuters.
Entidade privada criada em 1995 para pagar garantias de clientes de instituições financeiras com problemas, e mantida com recursos dos próprios bancos, o FGC atualmente oferece garantia ordinária de até 250 mil reais por depositante e especial de até 20 milhões a credores donos de depósito a Prazo com Garantia Especial (DPGE).
Com a crise financeira global de 2008, o FGC passou também a socorrer as sócias com problemas. Naquele episódio, o órgão socorreu 24 pequenos bancos emprestando cerca de 4 bilhões de reais. Em 2010-11, O FGC empregou 3,8 bilhões de reais como ponte para o BTG Pactual (SA:BBTG11) comprar o Banco Pan (SA:BPAN4) (ex-Panamericano), que tinha um buraco bilionário.
"O FGC também está melhor preparado do que na crise 2008-09 e apresenta melhor governança. Há também mais instrumentos para supervisão bancária", disse Loes.
A atuação recente mais relevante do fundo foi o empréstimo de 6 bilhões de reais para o BTG Pactual, diante dos desdobramentos da prisão do fundador André Esteves, em novembro.
Segundo Loes, ex-economista-chefe do HSBC e do Banco Bozano Simonsen para América Latina e para o país no Santander Brasil (SA:SANB11), além dos bancos estarem menos vulneráveis, o Banco Central e o próprio FGC estão mais equipados para lidar com um cenário de estresse bancário, por terem condição de agir preventivamente.
O executivo, que assumiu em fevereiro um mandato de quatro anos, avalia que, mesmo com menos acesso a recursos do mercado de capitais e sofrendo com crescentes níveis de inadimplência, os bancos brasileiros ainda não estão no "amarelo piscante".
O cenário poderia se deteriorar, disse ele, com um prolongamento da recessão brasileira por mais um ou dois anos, especialmente para bancos de menor porte, especialmente os mais regionais, cujas carteiras de empréstimos sejam mais concentradas em empresas.
Com um patrimônio de 48,2 bilhões de reais no final de 2015 e atualmente com 184 sócios, o FGC desembolsou 120,6 milhões no ano passado para pagar garantias a clientes de bancos liquidados, quase todo o montante relativo ao Banco BRJ.
BTG PACTUAL
De acordo com Loes, o BTG Pactual está cumprindo os termos do acordo de empréstimo concedido pelo FGC no ano passado e que tem prazo de cinco anos.
"O BTG está totalmente aderente ao que foi contratado com o FGC", disse Loes.
Mas, diferente do que chegou a ser veiculado na mídia nos últimos meses, o BTG Pactual não adiantou nenhum pagamento do empréstimo, afirmou.
Em fevereiro, o BTG Pactual concluiu a venda do controle de sua unidade suíça BSI pelo equivalente a 5,4 bilhões de reais para o EFG International, um grupo de gestão de fortuna. Mas o pagamento do negócio ainda não foi concluído.