Por Aluisio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - A Locaweb (SA:LWSA3) vai começar a oferecer crédito nas próximas semanas, com a empresa especializada em hospedagem de sites e computação em nuvem mergulhando na oferta de serviços financeiros para conquistar e reter pequenas empresas no Brasil que estão tendo que acelerar a digitalização após a pandemia de Covid-19.
"Empréstimo vai ser uma das nossas próximas fronteiras de crescimento", disse à Reuters o presidente-executivo da Locaweb, Fernando Cirne.
Na saída, os empréstimos serão para clientes da Credisfera, fintech de empréstimos para PMEs comprada pela Locaweb em fevereiro. Depois, o serviço será ampliado, possivelmente por meio de parcerias com instituições financeiras, disse Cirne, adiantando que "não vamos colocar balanço próprio para crédito".
Pagamentos, entrega de encomendas, gestão corporativa (ERP) e crédito são alguns serviços que a Locaweb incorporou ao seu ecossistema com as 10 aquisições de startups que fez desde que estreou na Bovespa em fevereiro do ano passado.
Essa expansão não orgânica foi financiada com os 575 milhões reais da tranche primária de sua oferta inicial de ações (IPO) e de outros 1,3 bilhão de reais de uma oferta subsequente, em fevereiro deste ano. Atualmente, a empresa afirma ter cerca de 1,8 bilhão de reais em caixa.
Esse modelo de negócio teve um dos encaixes mais bem sucedidos de empresas brasileiras durante a pandemia, já que encontrou a necessidade de milhares de pequenos negócios que recorreram ao comércio eletrônico para manterem-se em atividade, diante das medidas de isolamento social. Com isso, a ação da empresa deu um salto de 440%, ante alta de 10,9% do Ibovespa.
Segundo Cirne, muitos dos pequenos empreendedores agora começam a se dar conta de uma segunda etapa da digitalização, o que vai exigir uma abordagem mais completa do que apenas vender, receber e encomendar as entregas online.
"Primeiro foi movimento de sobrevivência, agora começa a pensar no ecommerce como um mecanismo para diferenciação", disse ele, referindo-se por exemplo a serviços como marketing e ERP. "Por isso, a gente vai continuar crescendo via aquisições."
A percepção das oportunidades aceleradas pela pandemia para oferta integrada de gestão e serviços financeiros para pequenos negócios tem feito o comércio eletrônico ser um dos setores mais ativos na indústria de fusões e aquisições no Brasil, com nomes como Magazize Luiza e Via Varejo (SA:VVAR3) comprando uma série de startups.
Nessa direção, a empresa de pagamentos StoneCo (NASDAQ:STNE) selou em novembro passado a compra da Linx (SA:LINX3) por 6,7 bilhões de reais, após meses de duelo com a Totvs (SA:TOTS3).
Linx e Totvs oferecem serviços similares em algumas faixas de mercado. Cirne, no entanto, avalia que não há disputa de mercado da Locaweb com a Totvs, já que esta se concentra em clientes maiores. No caso da Linx, a sobreposição é pequena.
Uma competição mais acirrada no setor tem sido uma das questões sobre as quais investidores mais têm se debruçado ao analisar o horizonte para as ações da Locaweb, especialmente após uma escalada tão forte.
Num relatório nesta semana, após apresentação da companhia a analistas, a XP elencou a crescente competição; a possível rotatividade de clientes, já que os pequenos negócios são mais expostas a ambientes econômicos mais adversos; e possíveis dificuldades da Locaweb de integrar tantas aquisições.
"À primeira vista do processo de integração, consideramos os riscos de execução como limitados devido às diversas iniciativas da empresa que mitigam preocupações", afirmou a XP, frisando chances de vendas cruzadas e potenciais sinergias, o que a levou reforçar recomendação de compra para as ações, com preço-alvo de 32 reais até o fim do ano, com potencial de alta de 18%.
Às 14h44, desta sexta-feira, a ação da Locaweb era cotada a 27,03 reais, em queda de 1,17%. No mesmo horário, o Ibovespa mostrava oscilação positiva de 0,08%.