Alívio pontual nos mercados de ações no exterior tranquiliza momentaneamente investidores locais no começo desta semana encurtada pelo carnaval. A alta das bolsas europeias e americanas reflete expectativa de retomada das negociações entre Rússia e Ucrânia, após quedas na véspera.
No entanto, informações desencontradas sobre a data da reunião, avanço das tropas russas em território ucraniano e sanções do Ocidente a bancos russos impõem cautela. Da mesma forma, a valorização das commodities reforça preocupação com a inflação mundial. O aumento coloca mais pressão sobre os bancos centrais mundiais e, consequentemente em papéis ligados à retomada e ao aumento de juros, como os de consumo e de construção, ainda que a alta possa beneficiar os ligados à matéria-prima.
Hoje, o petróleo chegou a subir mais de 8%, após a Opep+ confirmar que decidiu ampliar sua produção, apesar de a guerra russo-ucraniana ter ampliado riscos à oferta. Ontem, Nova York fechou em baixa, diante do aumento da aversão a risco por causa do agravamento da guerra, e hoje avançam.
"O Ibovespa corrige principalmente por causa das commodities. Vamos ver até onde vai essa correção", afirma Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença. Na sexta, o índice encerrou com ganho de 1,39% (113.141,49 pontos, máxima). Já ontem, em Nova York, as bolsas cederam.
Às 13h26, o Ibovespa subia 1,35%, aos 114.667,89 pontos, ante máxima diária aos 115.428,90 pontos (alta de 2,02%).
De acordo com Monteiro, será importante monitorar as sinalizações dos bancos centrais globais em meio a este cenário de valorização das commodities, que tende a prejudicar setores com relação direta ao consumo, dadas as perspectivas de aumento de juros. "Alta do petróleo, que eleva preocupações inflacionárias, tende a prejudicar o aéreo, o segmento de construção", avalia. De fato, papéis da CVC ON (SA:CVCB3) (-3,75%), Gol (SA:GOLL4) PN (-3,36%) e Azul (SA:AZUL4) PN (-2,25%) estão entre as quedas do índice Bovespa.
Hoje, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, voltou a dizer que espera ser "apropriado" elevar os juros na reunião deste mês, mas notou a incerteza trazida pelo conflito na Ucrânia. Powell deixou bem claro que "será apropriado subir os juros em março e vou propor uma alta de 0,25 ponto porcentual". Também sinalizou que o Fed poderá elevar os juros em 0,50 ponto porcentual, uma vez ou em mais ocasiões, caso a alta dos índices de preços continue mais persistente do que aguarda.
Além dos reflexos da guerra sobre os preços, o mercado de trabalho americano segue aquecido, reforçando tal debate. Em fevereiro, o setor privado dos Estados Unidos criou 475 mil empregos, segundo pesquisa ADP. Agora, o mercado espera a divulgação do relatório oficial dos EUA.
"Para a divulgação do payroll de 6ªF, após surpresa positiva da última leitura, um resultado melhor do que o esperado deve reforçar o movimento de primeira alta de juros na próxima reunião do FOMC e corroborar para um orçamento de 175bps no ano como um todo", avalia em nota o BTG Pactual (SA:BPAC11) digital.
Contudo, pondera a nota, diante do aumento das tensões no cenário global, a probabilidade de uma alta de 0,50 ponto porcentual nesta reunião está baixa, "o que nos faz seguir com a expectativa de +25bps em 16/mar."