Os mercados acionários na Europa atravessam uma manhã de instabilidade e tentam se firmar no azul, em meio à tensão com o aumento de bloqueios para conter a segunda onda de covid-19 e a ansiedade com as eleições dos Estados Unidos, na semana que vem. Na outra vertente, a forte expansão da atividade na França, Espanha, Alemanha e Itália, além da zona do euro, no terceiro trimestre, e o tom "dovish" do Banco Central Europeu (BCE), que prometeu ontem novas medidas de relaxamento em breve, servem de fôlego. Os dados são, contudo, uma fotografia do passado e a pergunta que os investidores se fazem é o que virá adiante, com as economias se fechando novamente para conter o vírus.
Às 7h42 desta sexta-feira (de Brasília), o Stoxx-600, que representa 90% das ações europeias, tinha baixa de 0,22%, aos 341,02 pontos. Caminha para uma desvalorização de quase 6% na semana, que levou o índice ao menor patamar desde meados de maio.
O movimento de aversão a risco predominou no Velho Continente em meio a anúncios diários de medidas de confinamento mais duras para conter a segunda onda em países da região. Depois do bloqueio nacional na França, o aumento de mortes no Reino Unido joga pressão para a adoção de um "lockdown". Na Itália, um novo recorde diário, com um salto de quase 2.000 casos de covid-19 de um dia para o outro.
Com o impacto da segunda onda batendo à porta, os números do Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro e das grandes economias que integram o bloco no terceiro trimestre, divulgados hoje, têm menos barulho, ainda que acima das estimativas. Os mercados estão preocupados com o que está por vir - fora as eleições nos EUA. Enquanto a atividade da França saltou 18,2%, a da Espanha cresceu 16,7%, a da Alemanha, 8,2%, e a da Itália, 16,1%. Já o PIB da zona do euro cresceu 12,7% no terceiro trimestre ante o segundo.
Para a britânica Capital Economics, o crescimento "maciço" do PIB da França não é reconfortante à medida que o país luta com um novo "lockdown" nacional. "Na verdade, esperamos que o PIB caia 2,5% ou mais no quarto trimestre frente ao terceiro", diz o economista-chefe da consultoria, Andrew Kenningham, em comentário a clientes. Na mesma direção, o holandês ING espera que o forte aumento da atividade no terceiro trimestre na Alemanha seja seguido por outra queda nos últimos meses do ano.
Na opinião do fundador da casa de análise Omninvest, Roberto Attuch, baseado na Itália, a "safra de PIBs" na Europa não atrapalha, mas já é um retrato do passado. O foco hoje, conforme ele, são as eleições dos Estados Unidos. "Hoje, os mercados vão ficar de olho nas pesquisas", diz ele.
O democrata Joe Biden segue líder nas pesquisas de intenção de voto, com uma margem de nove pontos frente ao presidente Donald Trump. Na reta final da campanha, a vantagem e os novos casos de coronavírus nos Estados Unidos estão no centro da disputa. Ontem, ambos discursaram na Flórida, com Trump se valendo da alta de 7,4% do PIB americano no terceiro trimestre para conter o rival.
Em linha com as previsões, o BCE manteve sua política monetária inalterada, mas prometeu "recalibrar seus instrumentos" para "garantir que as condições financeiras permaneçam favoráveis". Na opinião do Credit Suisse (SIX:CSGN), a autoridade deixou claro que dezembro "significa estímulo". "Quem disse que o Natal foi cancelado?", questionam analistas do banco suíço.
No front corporativo, a reação ao resultado das big techs não foi das melhores em Wall Street e também causa volatilidade no setor de tecnologia na Europa, que agora sobe. No segmento de mineração, as ações da anglo-suíça Glencore (LON:GLEN) fazem pressão de baixa após a companhia cortar sua meta de produção pela terceira vez neste ano. Por volta das 7h30, caíam 1,7%. Na mesma toada, os papéis da Air France-KLM tinham baixa de 2,7%, depois de a companhia anunciar prejuízo líquido de 1,67 bilhão de euros no terceiro trimestre.
Depois de abrirem em queda, as bolsas na Europa seguem em direções mistas. Também às 7h42, o DAX, em Frankfurt, tinha recuo de 0,56%, o índice FTSE-100, de Londres, caía 0,45%, o CAC-40, de Paris, apresentava leve alta de 0,03% e o FTSE-MIB, de Milão, baixava 0,26%. Em Madri, o IBEX-35, apontava aumento de 0,11% e o PSI-20, de Lisboa, avançava 0,88%.