Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - Investigações internas da Eletrobras (SA:ELET3) sobre corrupção apontam ilegalidades em mais empreendimentos da estatal além da usina nuclear Angra 3 e da hidrelétrica de Belo Monte, que já são alvo do Ministério Público e da Polícia Federal, afirmou à Reuters uma fonte com conhecimento do assunto.
Os trabalhos de investigação tiveram início após citações a essas duas usinas surgirem em depoimentos de acusados na Operação Lava Jato, que apura um enorme escândalo de propinas entre estatais, empresas privadas e partidos políticos no Brasil.
As apurações internas da Eletrobras envolvem atualmente nove grandes projetos e deverão continuar mesmo após a entrega pela companhia de informações atrasadas devidas à bolsa de Nova York e ao regulador do mercado de ações norte-americano (SEC), que está prevista para a semana que vem, segundo a fonte, que falou na condição de anonimato.
A negociação de ações da Eletrobras na bolsa de Nova York foi suspensa em maio devido ao atraso no arquivamento dos formulários 20-F, com dados financeiros de 2014 e 2015. A auditoria responsável, KPMG, recusou-se a assinar os documentos em meio a investigações ainda em andamento sobre corrupção na companhia.
Mas esses trabalhos demandarão mais tempo porque ainda há uma série de suspeitas que precisam ser esclarecidas, disse a fonte, lembrando que a primeira fase da apuração focou no levantamento do valor das perdas da estatal com a corrupção, que deve ser informado às autoridades dos EUA.
Questionada, a Eletrobras disse apenas que mantém a previsão de entregar os formulários 20-F à bolsa e às autoridades dos EUA em 11 de outubro, mas não quis fazer mais comentários sobre as investigações.
"O Conselho e a diretoria da Eletrobras já sabem que tem que continuar... a investigação não foi instaurada apenas para atender o 20-F. A primeira etapa conclui agora com o 20-F e depois continua", afirmou a fonte.
As apurações internas envolvem mais de 200 profissionais dos escritórios de advocacia Hogan Lovells, WFaria e Pinheiro Neto, além da consultoria em riscos e investigação Kroll. Também participam as auditoras atuais e passadas da Eletrobras, KPMG e PwC, e uma comissão interna formada por profissionais independentes, como a ex-ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Ellen Gracie.
Segundo a fonte, foram analisadas dezenas de milhares de páginas de documentos e e-mails internos e realizadas diversas entrevistas com funcionários da estatal para averiguar eventuais irregularidades.
MAIS A FUNDO
Nessa nova etapa, as investigações internas precisarão obter informações às quais as equipes responsáveis ainda não tiveram acesso, necessárias para esclarecer totalmente as irregularidades praticadas na companhia.
Essas informações referem-se principalmente a projetos nos quais a Eletrobras é apenas acionista minoritária, que possuem administração própria e por vezes têm se negado a contribuir com todos dados solicitados pela força-tarefa responsável pelas apurações.
Há perspectiva ainda, segundo a fonte, de que novas frentes de investigação possam ser abertas em breve devido a denúncias feitas por pessoas envolvidas no esquema que ainda correm sob sigilo no STF por citarem políticos com mandato, que têm direto a foro privilegiado.
A fonte disse que a continuidade das investigações certamente será exigida pela SEC e pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, se a Eletrobras quiser continuar com a postura adotada até o momento no caso, de se colocar como vítima das ilegalidades, e não parte do esquema de corrupção.
A fonte avaliou ainda que o caso da Eletrobras é mais complexo que o da Petrobras (SA:PETR4), que passou por processo semelhante e chegou a atrasar a publicação do balanço enquanto calculava perdas com corrupção.
"Acho que ainda tem muita coisa para acontecer, mais que na Petrobras", disse a fonte, que acredita que a maior parte das irregularidades ligadas á petroleira estatal já veio à tona.
A descoberta de perdas com corrupção, no entanto, não necessariamente levará a Eletrobras a realizar baixas contábeis. Em agosto, o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, disse que a Eletrobras já realizou nos últimos trimestres provisões preventivas que podem superar o custo estimado das perdas com corrupção.
Procurados sobre o assunto, WFaria, PwC e KPMG preferiram não comentar. Hogan Lovells e Pinheiro Neto não responderam imediatamente a pedidos de comentário, enquanto a Kroll afirmou que não vai comentar.