Por Marta Nogueira e Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O economista Roberto Castello Branco, integrante da equipe de transição do governo eleito de Jair Bolsonaro e futuro presidente da Petrobras (SA:PETR4), tem utilizado um gabinete na petroleira estatal e revisou o plano de negócios antes da aprovação do programa pelo conselho da companhia, disseram quatro fontes próximas ao tema nesta quinta-feira.
Neste gabinete, de acordo com as fontes que falaram na condição de anonimato, o economista estaria já tendo acesso a informações da petroleira, conversando com funcionários e estudando planos futuros para a empresa, como uma possível venda do controle da empresa de combustíveis BR Distribuidora (SA:BRDT3).
Uma primeira fonte afirmou que os movimentos de Castello Branco, sem ainda ter passado por todos os níveis de aprovação para ocupar uma função na diretoria, demonstram "sinal de desrespeito à governança".
Segundo essa pessoa, a votação do plano de negócios, publicado na véspera, chegou a ser adiada para que o economista pudesse revisá-lo.
"Castello Branco agiu como executivo sem ser executivo. Ele foi consultado (sobre o plano de negócios), deu opinião, pediu para suspender (a publicação), isso é uma coisa muito séria, que causou enorme desconforto", disse a fonte.
Apesar de ter avaliado o plano de negócios, o futuro presidente da empresa não fez alterações, segundo as fontes.
No entanto, Castello Branco tem realizado estudos para mudanças futuras que poderão ser feitas, acrescentou.
"Consta que ele está pegando informações (sobre a BR Distribuidora) para saber quanto valeria, quer dizer, já está considerando inclusive a venda da empresa", afirmou.
Uma segunda fonte avaliou que a presença de Castello Branco não fere a governança da companhia e afirmou que o economista está na empresa aprendendo sobre os mecanismos, entrevistando pessoas, em período de preparação para assumir o cargo.
"É igual em Brasília, ele está na equipe de transição, ele tem um cargo de equipe de transição, ele está lá trabalhando e fazendo a transição", afirmou.
O nome de Castello Branco, ao ser anunciado, foi bem recebido por especialistas de energia, que avaliaram que o movimento sinalizava continuidade de uma política pró-mercado no setor de petróleo nos últimos anos, devido ao histórico liberal do executivo.
Ex-diretor da Vale (SA:VALE3) e ex-conselheiro da Petrobras, o economista sempre foi um ferrenho defensor da independência da gigante estatal em relação ao governo.
Castello Branco não respondeu pedidos de comentários feitos pela Reuters. A Petrobras não respondeu imediatamente.
PETROS
A fonte pontuou ainda que Castello Branco teria já sondado a diretora do BNDES para a área financeira e mercado de capitais, Eliane Lustosa, para presidir a Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras.
Outra fonte ouvida pela Reuters, integrante do BNDES, confirmou a sondagem.
A segunda fonte disse que, em consideração ao fato de Castello Branco já estar na empresa, houve um atraso do plano de negócios para que o indicado à presidência da empresa pudesse revisá-lo.
"Mas nem ele quis mexer e como ele não tem um papel ainda de CEO nem de conselheiro, nada foi feito em função disso."
Uma terceira fonte também confirmou a presença na empresa do futuro presidente, atualmente representante do governo.
"Castello Branco tem uma sala para ele aqui na Petrobras. É uma sala para a transição e quando precisa fazer as reuniões, e marca nesse local", afirmou.
"Ele ficou animado com o plano, com os projetos, e o que a Petrobras tem pela frente."
Uma quarta fonte frisou que possíveis mudanças no plano de negócios têm que obedecer ritos internos.
Além disso, observou que "é no mínimo estranho ele estar lá dentro se ainda não assumiu, nem o governo assumiu".
Mas ponderou que fazer a transição "não é estranho, a questão é de que forma ele está lá dentro e o dia a dia da empresa".
DEMISSÃO
A primeira fonte afirmou ainda que uma demissão na empresa está sendo realizada a partir de atuação de Castello Branco, dentro da Petrobras.
A gerente de inteligência e segurança da Petrobras, Regina de Luca, com um cargo de confiança, está em processo de demissão, segundo a fonte.
A executiva, que é ex-secretária nacional de segurança pública do governo Dilma Rousseff, teria sido desligada devido à sua ligação anterior com o PT.
Contatada pela Reuters, a executiva confirmou por telefone ter sido demitida mas, em meio a lágrimas e em tom bastante assustado, evitou realizar afirmações sobre o motivo.
Luca destacou que ao longo de sua passagem pela Petrobras criou novos procedimentos na área de segurança e revisou contratos e áreas que geraram uma economia de mais de 234 milhões de reais à estatal.