A aversão a risco contamina os mercados internacionais em semana de decisões de política monetária no Brasil, na Inglaterra, no Japão e nos Estados Unidos. Além disso, o feriado de Corpus Christi na quinta-feira, por aqui, e o vencimento de opções sobre Ibovespa, um dia antes, ficam no radar.
"Nessas horas, o melhor é não olhar a tela das cotações", sugere Marcos Olmos, diretor de Venture Capital e sócio da VOX Capital.
Ele lembra que a piora dos mercados reflete a decepção em relação à inflação americana. "Esperava que atingiria o pico, mas houve surpresa. Com a taxa acima de 8% CPI dos EUA em maio ante igual mês de 2021", diz Olmos.
"Se perder os 101 mil pontos, pode piorar bastante, pelo menos no técnico", alerta Bruno Takeo, analista da Ouro Preto investimentos.
O Ibovespa desce a ladeira e adota continuadas mínimas, cedendo para o nível dos 102 mil pontos, vistos pela última vez no dia 10 de maio (102.386,18 pontos). A desvalorização na carteira é geral.
"Aumentou a pressão para o Fed na quarta-feira após o CPI americano divulgado na sexta e com resultado mais forte. Uma alta de meio ponto porcentual é esperada, temos de ficar atentos ao comunicado do Fed para ver se Powell continuará 'dovish'", avalia o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, ao referir-se ao presidente do Fed, Jerome Powell.
"Se não mudar a postura para uma mais agressiva, vai estressar o mercado mais, elevando temores de recessão." Às 11h12, o Ibovespa caía 323%, na mínima diária, aos 102.079,04 pontos, ante abertura aos 105.476,39 pontos, ou seja perda em torno de 3.300 pontos em relação à mínima.
As quedas são expressivas nas bolsas europeias e americanas, além das commodities. Na Ásia, não foi diferente, onde também seguem preocupações sobre os efeitos das idas e vindas dos lockdowns na China. O minério de ferro fechou com recuo de 3,77% no porto chinês de Qingdao, enquanto o petróleo cai perto de 1%, o que deve pesa nas ações ligadas aos respectivos setores e, consequentemente, no Ibovespa.
A postura defensiva reflete principalmente expectativas em relação do Federal Reserve, que decide sua política monetária deste mês, na quarta-feira, mesmo dia do Comitê de Política Monetária (Copom). Isso porque, na sexta, o índice de preços ao consumidor americano mais alto que o esperado e o indicador de confiança do país mais reacenderam expectativas de uma postura mais agressiva do Fed esta semana.
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"Trouxeram de volta a percepção de que o Fed eleve juros de maneira mais forte. Também recolocaram no radar a possibilidade de estagflação", avalia em comentário matinal o economista Álvaro Bandeira, também consultor de finanças.
Este temor também empurrou o Ibovespa para o negativo na sexta-feira, quando fechou com queda de 1,51%, aos 105.481,23 pontos, cedendo 5,06% na semana. Conforme Bandeira, o índice Bovespa não pode perder a faixa entre os 102 mil e 103 mil pontos, sob risco de ir para o nível "já esquecido dos 100 mil pontos lá do mês de janeiro." No dia 6 daquele mês deste ano, a mínima alcançada fora de 100.999,85 pontos.
Apesar da maioria das expectativas na pesquisa Projeções Broadcast indicar alta da Selic de 12,75% para 13,25% no Copom, na quarta-feira, o mercado espera por sinais quanto aos próximos passos.
A despeito de as medidas de combate à inflação do governo terem chegado ao Congresso, que podem ter forte redução nas estimativas em 2022, mantêm pressionadas as expectativas para 2023, "acima do teto da meta também para o próximo ano". É o que destaca em relatório o BTG Pactual (SA:BPAC11). "Com tudo na mesa, o BCB deve optar por +50bps (Selic em 13,25%) e não deve indicar, agora, o fim do ciclo monetário para a próxima reunião", estima.