Investing.com - A renovação da guerra comercial entre EUA e China no início desta semana foi o novo catalisador para deterioração do sentimento dos investidores na precificação do prêmio de risco. Os principais índices mundiais e mercados despencaram com a ameaça do presidente dos EUA de impor tarifa de 25% sobre US$ 325 bilhões de produtos chineses que não foram taxados.
Em retaliação, os chineses impuseram taxa de 20% a 25% sobre US$ 60 bilhões em mais de 5 mil produtos americanos nesta segunda-feira. No início do dia, Trump havia alertado os chineses a não retaliar, enquanto chineses afirmavam que iam se defender.
A expectativa de continuação das negociações em Pequim após convite da delegação chinesa é uma luz do fim do túnel para que haja um desfecho positivo no curto prazo. Mas a atual retórica dos dois lados não indica a celebração de acordo tão cedo.
O clima negativo no exterior derrubou o Ibovespa abaixo dos 92 mil pontos, com queda de 2,69%, seguindo a aversão ao risco nos mercados emergentes observados na baixa de 3,33% no iShares MSCI de mercados emergentes. Todas os papéis listados no principal índice acionário brasileiro encerraram o pregão no negativo, com exceção de Via Varejo (SA:VVAR3), que subiu 2,82% com a notícia de que a Família Klein, assessorada pela XP Asset, vai fazer uma proposta de compra da companhia ao Grupo Pão de Açúcar (SA:PCAR4).
O mau humor externo contaminou o preço do dólar no Brasil. A moeda americana chegou a romper a barreira psicológica de R$ 4,00 no início da sessão, mas perdeu o ímpeto e fechou a R$ 3,9819, alta de 0,64%. Analistas do Morgan Stanley (NYSE:MS) projetaram, em relatório divulgado a clientes, que o dólar deve chegar a R$ 4,10 no fim de junho, com fatores que podem levar a valorização da moeda brasileira a partir do segundo semestre, como a pequena margem para que aumente a posição vendida no mercado futuro de câmbio.
Já o índice dólar operou estável a 97,34. O índice que mensura a força da moeda americana ante seis divisas não subiu com força devido à valorização do iene. A moeda japonesa é um ativo porto-seguro na Ásia e sua demanda aumenta em momentos de incerteza. No entanto, o rendimento do título de 10 anos do Tesouro americano caiu para 2,403%.
A queda pode significar uma aposta dos investidores de que o Fed pode reduzir a taxa de juros nos EUA com a escalada da guerra comercial e seus efeitos negativos sobre o crescimento. O Monitor da Taxa de Juros do Fed de Investing.com aponta probabilidade de 10% para corte de 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Fed em 19 de junho, 3,3 pontos percentuais acima da semana passada.
A aversão ao risco também pode ser resumida com o salto do Índice VIX, que mensura a tendência de volatilidade no mercado e conhecido como Índice do medo. O VIX subiu 28,12% e acumula alta de 59,67% desde a segunda-feira da semana, quando foi retomada a guerra comercial entre China e EUA. No entanto, analistas ressaltam que o índice pode estar sobrecomprado devido a compras programadas por robôs a partir de um determinado patamar de preço e variação.
A escalada retórica da disputa comercial entre chineses e americanos afetou o mercado de commodities. A soja recuou para uma mínima de 10 anos, negociada a US$ 803,25 o celemin, baixa de 0,59%, com mínima de US$ 791 no início da sessão. O petróleo também teve forte queda, apesar da sabotagem de dois petroleiros sauditas no Golfo Pérsico. O Brent, referência mundial e negociado em Londres, perdeu o suporte de US$ 70 e caiu 0,92% a US$ 69,97. O WTI, cotado em Nova York, perdeu 1,3% a US$ 60,86.
Baixa movimentação política
Não houve novidades sobre a reforma da Previdência em tramitação na Comissão Especial da Câmara dos Deputados. O que movimentou o noticiário político foi a manifestação favorável do presidente Jair Bolsonaro ao ministro da Justiça Sergio Moro com a indicação ao STF, no momento que o ex-juiz sofre desgaste depois a derrota do retorno do Coaf ao Ministério da Economia. O Coaf foi colocado sob o âmbito do Ministério da Justiça durante a reforma administrativa do governo Bolsonaro.
Boletim Focus
Os analistas consultados pelo Banco Central no Boletim Focus revisaram para baixo pela 11º vez consecutiva a projeção do PIB de 2019. Segundo o relatório, a economia brasileira deve crescer 1,45%, contra estimativa de 1,49% na semana passada. A projeção da Selic se manteve a 6,5% ao ano, enquanto o IPCA foi estimado em 4,04%, abaixo do centro da meta de inflação de 4,25% e dentro da margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. A estimativa do dólar também se manteve em relação a semana passada, projetado a R$ 3,75 no fim do ano.
Ações
- Vale (SA:VALE3) caiu 4,1%, diante do cenário externo adverso, com queda também em papéis de mineradoras na Europa. Bradespar (SA:BRAP4), que concentra seus investimentos em Vale, perde 4,6%.
- Petrobras PN (SA:PETR4) recuou 2,92%, contaminada pelo viés negativo, com o petróleo também perdendo fôlego e fechando em queda no exterior.
- Sabesp (SA:SBSP3) perdeu 6,99%, em novo ajuste negativo, conforme segue suscetível a especulações envolvendo a tramitação de medida provisória que muda o marco regulatório do saneamento básico no país, que poderia ajudar na privatização da empresa.
- Gol (SA:GOLL4) PN caiu 7,02%, afetada pela alta do dólar, além de notícia publicada pelo jornal O Globo de que o sócio da companhia aérea Henrique Constantino, ex-vice-presidente do conselho de administração da companhia, assinou delação premiada, admitindo pagamento de propina em troca de financiamentos da Caixa Econômica Federal a suas empresas.
- CVC Brasil (SA:CVCB3) caiu 7,68%, tendo de pano de fundo cenário econômico desfavorável ao consumo e dólar em alta ante o real, além de incômodo sobre decisão de não divulgar mais crescimento das reservas por segmento e efeito Avianca Brasil.
- Braskem (SA:BRKM5) PNA recuou 6,99%, sexta queda seguida, em meio a noticiário adverso recente sobre a petroquímica. Nesta segunda-feira, a companhia disse que terá seus papéis deslistados da Nyse por atraso na entrega de formulário 20-F de 2017.
- Azul (SA:AZUL4) PN caiu 3,91%, em sessão negativa para companhias aéreas diante da forte alta do dólar. A empresa anunciou nova tentativa para comprar algumas das rotas mais cobiçadas da Avianca Brasil, oferecendo 145 milhões de dólares.
- Bradesco (SA:BBDC4) PN perdeu 2,49%, com o setor de bancos como um todo contaminado pelo sentimento negativo na bolsa. Itaú Unibanco (SA:ITUB4) PN cedeu 1,57%. Banco do Brasil (SA:BBAS3) caiu 3,57%.
- JBS (SA:JBSS3) encerrou em baixa de 1,45%, também afetada pelo viés negativo no pregão, antes do resultado trimestral, previsto para após o fechamento do mercado.
Criptomoedas
O bitcoin surpreendentemente deu um salto de preço desde último sábado (10), com uma valorização acumulada de quase 25% no período. A moeda digital com maior capitalização no mercado de cripto era cotada a US$ 7.780 às 16:10 nesta segunda-feira, alta de 11,46% nas últimas 24 horas.
Três fatores estão por trás da esticada de preço nesta segunda. O primeiro é o rumor de que a plataforma Bakkt vai iniciar testes para negociar bitcoin futuro em sua plataforma a partir de julho, chegando no mercado junto com os futuros da Chicago Mercantile Exchange (CME). A diferença entre os dois é a capacidade de a Bakkt entregar fisicamente os contratos futuros, interagindo com a oferta e demanda do bitcoin.
Outro rumor é que o Ebay começará em breve a aceitar pagamentos em criptomoeda. O marketplace deve oferecer essa alternativa de pagamento a seus 180 milhões de usuários ativos. O terceiro fator é concreto: a Microsoft (NASDAQ:MSFT) anunciou que lançará ferramenta de identidade descentralizada na blockchain do Bitcoin.
O bitcoin continua se recuperando após o estouro da bolha em 2018, quando a criptomoeda atingiu US$ 19.200 no início do ano passado. Em 2019, os ganhos chegam a 102,7%. Em maio, a valorização chega a 38,6%, de US$ 5.599,60 para US$ 7.780.
*Com Reuters