Investing.com - O alívio temporário às restrições comerciais a Huawei pelo governo dos EUA e a percepção de melhora na relação entre Palácio do Planalto e Congresso contribuíram para o otimismo observado na sessão desta terça-feira no Ibovespa e no exterior. O forte fluxo de entrada de capitais no Brasil propiciou uma forte queda do dólar, que foi favorecida pela realização de leilões do Banco Central no mercado à vista da moeda americana e o cenário político interno mais ameno.
O Ibovespa saltou 2,76% a 94.484,63 pontos, retornando ao intervalo entre 93 mil e 97 mil que estava antes da deflagração da nova rodada da disputa comercial entre EUA e China e o novo desentendimento entre Palácio do Planalto e Congresso na semana passada. Este intervalo demonstra que os investidores apostam na aprovação na reforma da Previdência, mas sem conhecer a economia estimada em 10 anos. A proposta original do governo é R$ 1,2 trilhão de economia no período, porém a desidratação é dada como certa no Congresso, de onde sairá novas regras para aposentadoria rural e o acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Foi a segunda alta consecutiva do Ibovespa, acumulando ganhos de 4,83% nos dois dias iniciais desta semana, zerando as perdas 4,52% da semana passada. Maio continua, no entanto, no vermelho, com perdas acumuladas de 2,04%. Será o décimo maio consecutivo se este mês o Ibovespa encerrar no vermelho, confirmando a frase conhecida no mercado financeiro “sell in May and go away” (venda em maio e se mande).
O dólar despencou 1,39% a R$ 4,0478, maior desvalorização da moeda americana em relação ao real desde 31 de janeiro (-1,77%). Cenário externo otimista, ingresso de recursos para o setor produtivo e a realização dos leilões em linha do Banco Central no mercado à vista (quando a autoridade monetária vende dólares das reservas internacionais com compromisso de recompra) propiciaram a forte queda, após a moeda americana fechar dois pregões consecutivos a R$ 4,10, com máxima intraday na segunda-feira de R$ 4,12.
Melhora no cenário político local
A reforma da Previdência não foi o assunto central na política interna nesta terça-feira, mas o caminho para sua aprovação foi testado no dia, com o destravamento da pauta legislativa para a votação das Medidas Provisórias que estão prestes a caducar dando fio de esperança que o governo deve começar, finalmente, a constituir uma base para defender seus interesses no Legislativo.
Após encontro nesta manhã na casa do presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) do qual participaram o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, foi fechado um acordo para que o plenário da Câmara vote nesta terça-feira a medida provisória que acaba com qualquer limite de capital de estrangeiro em companhias aéreas brasileiras, segundo Bezerra. A MP das companhias aéreas vence amanhã.
A intenção do acordo, segundo o senador, é votar a MP da reforma administrativa – que reduz de 29 para 22 o número de ministérios - nos plenários da Câmara nesta terça e do Senado na quarta-feira, a qual vence apenas em 3 de junho. O acerto para a votação da reforma administrativa prevê que não haverá mais o desmembramento do Ministério do Desenvolvimento Regional em duas pastas -- Cidades e Integração Nacional. O desmembramento havia sido aprovado pela comissão mista que analisou a MP. A decisão da separação será do Palácio do Planalto.
O acordo semelhante ao das lideranças também foi selado entre Maia e partidos do chamado Centrão. O objetivo, segundo Tales Faria do UOL, é esvaziar as manifestações favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro no próximo domingo. Insuflada pelos filhos do presidente nos grupos bolsonaristas das redes sociais, os atos são contra o Centrão por “travar as pautas de interesse do governo”.
Apesar dos filhos convocarem seus apoiadores aos atos, o presidente Bolsonaro não vai comparecer e orienta seus ministros a não participar, segundo o porta-voz do governo. Presidente cogitou a participação nas manifestações, que dividem opinião sobre sua realização entre aliados do presidente e alas do seu próprio partido. O ato é visto também como uma resposta às manifestações contra o contingenciamento dos recursos do Ministério da Educação ocorridas no último dia 15.
Alívio à Huawei impulsiona índices no exterior, apesar de indiferença de fundador
Os Estados Unidos aliviaram temporariamente as restrições comerciais à chinesa Huawei para minimizar os transtornos a seus clientes, medida que o fundador da maior fabricante de equipamentos de telecomunicações do mundo disse ter pouco significado porque ela já estava preparada para a ação dos EUA.
O Departamento do Comércio dos EUA proibiu a Huawei Technologies [HWT.UL] de comprar produtos norte-americanos na semana passada, dizendo que a empresa estava envolvida em atividades que apresentavam risco à segurança nacional dos EUA.
A decisão ocorreu em meio à crescente disputa sobre as práticas comerciais entre Pequim e Washington. Os dois países aumentaram as tarifas de importação sobre produtos um do outro nas últimas duas semanas, depois que o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que a China havia quebrado compromissos anteriores feitos durante meses de negociações.
Na segunda-feira, o Departamento de Comércio concedeu à Huawei uma licença de compra de produtos dos EUA até 19 de agosto para manter as redes de telecomunicações existentes em atividade e fornecer atualizações de software para smartphones Huawei.
A empresa chinesa ainda está proibida de comprar hardware e software produzidos nos EUA para fabricar novos produtos sem licenças adicionais, que são difíceis de obter.
Os principais índices globais subiram com alívio, aumentando o apetite ao risco, mas com cautela. Na Ásia, o índice em Shanghai subiu 1,23% na Chinha, enquanto o Nikkei no Japão teve uma leve queda de 0,14%.
As empresas do setor de chips conduziram aos ganhos na Europa e nos EUA. O Euro Stoxx 600, que reúne as principais ações da Europa, subiu 0,53%. Em Wall Street, Nasdaq liderou as altas com um salto de 1,08%, enquanto Dow Jones e S&P 500 tiveram alta de 0,77% e 0,85%, respectivamente.
Ações em destaque no Ibovespa
- GOL (SA:GOLL4) avançou 6,95%, em meio a expectativas de aprovação da medida provisória que acaba com limite de capital de estrangeiro em companhias aéreas do país. Dados mostrando que a demanda por voos domésticos no Brasil subiu 0,76 por cento em abril sobre um ano antes, também repercutiram. No setor, Azul (SA:AZUL4) teve alta de 5,48%.
- EDP BRASIL (SA:ENBR3) valorizou-se 4,79%. Na véspera, a companhia de energia elétrica anunciou planos para avançar no cada vez mais cobiçado setor de serviços em energia no país com uma nova marca, que reunirá diversas soluções da companhia para clientes residenciais e empresas --envolvendo instalações de geração solar, eficiência energética e até seguros.
- PETROBRAS PN (SA:PETR4) subiu 3,8% e PETROBRAS ON (SA:PETR3) ganhou 2,6%, após o conselho de administração da estatal aprovar nesta terça-feira assinatura de aditivo ao contrato da cessão onerosa. Segundo a petrolífera, o movimento depende de uma solução orçamentária para pagamento de 9,18 bilhões de dólares devido pela União à companhia.
- ITAÚ UNIBANCO PN (SA:ITUB4) avançou 3,84%, enquanto BRADESCO PN (SA:BBDC4) valorizou-se 4,12%, contribuindo para o viés positivo do Ibovespa.
- VALE (SA:VALE3) teve alta de 1,41%, na esteira da alta dos preços do minério de ferro na China. As ações da companhia vêm sofrendo nos últimos dias devido aos receios quanto à segurança das barragens de rejeitos da empresa. Na véspera, o secretário de Meio Ambiente de Minas Gerais, Germano Vieira, afirmou que a barragem de rejeitos de minério de ferro da mineradora em Barão de Cocais e tem até 15% de chance de se romper.
- JBS (SA:JBSS3) caiu 6,54%, um dia depois do papel da maior processadora de carne bovina do mundo ter tido máxima recorde. O setor de carnes tem se beneficiado das perspectivas de maior demanda chinesa por proteínas dado o surto de peste suína africana na região asiática. No segmento, BRF (SA:BRFS3) caiu 5,59% e Marfrig (SA:MRFG3) recuou 1,95%.
*Reuters contribuiu com esta matéria