Investing.com - Se o Fed foi responsável pela reavaliação de riscos dos ativos com a manutenção dos juros e sinalização de inalterar a taxa ao longo de 2019, derrubando as bolsas no pregão de quarta e quinta-feira, o relatório de emprego dos EUA – o payroll – divulgado nesta sexta-feira trouxe ânimo às bolsas mundiais. Resultados corporativos acima do consenso também proporcionaram um apetite ao risco no dia. O resultado foi a queda de mais de 10% do índice VIX, que mensura a volatilidade do mercado.
Destaque para os índices de países emergentes, com o iShares MSCI deste grupo de países subindo 1,21%. O Ibovespa seguiu este otimismo somado com a divulgação de balanços de empresas listadas no índice, em um dia sem novidades em relação à reforma da Previdência.
O principal índice acionário brasileiro voltou ao patamar acima dos 96 mil com a alta 0,50%. O dólar seguiu o movimento e fechou em queda 0,5% a R$ 3,9392. A moeda brasileira esteve entre as maiores valorizações do dia em relação ao seu par americano. O índice dólar, média ponderda da moeda americana ante uma cesta de seis moedas, caiu 0,37% a 97,47.
Payroll e política monetária do Fed e BCE
Houve, logo após a divulgação do payroll, um fortalecimento da moeda americana, devido ao foco dos investidores à criação de empregos nos EUA em abril. O relatório de emprego não agrícola indicou aumento de 263 mil postos de trabalho, ante uma expectativa de 181 mil. A taxa de desemprego, desta forma, fica em 3,6%, abaixo da expectativa de 3,8%.
O fortalecimento do mercado de trabalho nos EUA está de acordo com a avaliação do Fed em relação ao sólido crescimento econômico da economia americana, o que influenciou na manutenção da taxa de juros no intervalo de 2,25-2,5%, sem sinalizar variação para cima ou para baixo ao longo de 2019. O sinal de que não haverá cortes frustrou o mercado, que esperava ao menos um corte ao longo de 2019. A ferramenta Monitor da Taxa de Juros do Fed do Investing.com apontava, na semana passada, a probabilidade de 24,1% de, ao menos, de uma redução dos juros na reunião de 19 de junho, enquanto a possibilidade de ao menos um corte em dezembro caiu para menos de 50% após a reunião.
No entanto, os ganhos salariais em abril ficaram abaixo do consenso. Os salários subiram 0,2% ante expectativa de crescimento de 0,3%. O resultado indica que Fed não deve subir os juros em 2019, mas abre espaço para o mercado continuar questionando se os preços estão abaixo da meta informal de inflação de 2% do Fed. Desta forma, pode alimentar, novamente, expectativa de ao menos um corte na taxa de juros. Powell disse, na quarta-feira em entrevista coletiva após reunião do Fed, que a autoridade monetária observa como "temporária" os preços abaixo da meta.
A combinação de um mercado de trabalho aquecido sem pressão inflacionária nos EUA deve manter as condições macroeconômica que balizam as decisões atuais de política monetária do Fed. A manutenção da taxa de juros, com o chairman do Fed sinalizando que não vai alterar os juros ao longo de 2019 e vai manter a postura “paciente” em observar os próximos indicadores, deve alimentar o apetite ao risco dos investidores.
A zona do euro, que sofre com incertezas em relação ao crescimento econômico, foi surpreendida com a aceleração da inflação acima do esperado. A inflação nos 19 países que usam o euro acelerou a 1,7% em abril de 1,4% no mês anterior, superando a expectativa de 1,6%, mostraram dados da Eurostat nesta sexta-feira. Foi um alívio ao Banco Central Europeu (BCE), que pelo menos deve manter a atual postura de não elevar os juros neste ano sem sofrer a pressão para cortes ante a falta de dinamismo.
Reforma da Previdência
O assunto é chato e exaustivo, e vai contribuir com a volatilidade do mercado nas próximas semanas. O feriado de 1º de maio teve poucos deputados federais presentes em Brasília, o que trouxe poucas novidades. Esta semana se iniciou a contagem das 10 sessões para que o relator possa entregar o parecer do texto, pois oficialmente teve sessão na terça-feira e, de acordo com regimento da Câmara, o que conta são as sessões do plenário, não da Comissão Especial.
Nesta sexta-feira, apenas houve manifestação de dois partidos do Centrão, cujas declarações podem apontar a uma reforma que prevê uma economia em 10 anos de entre R$ 500 bilhões e R$ 900 bilhões. O MDB soltou uma lista de medidas as quais concorda, discorda e nas quais há disposição de negociação. Apenas os pontos em que o partido concorda resulta em uma reforma com economia de R$ 500 bilhões, mas as partes a ser negociadas o número pode chegar a R$ 831 bilhões. O líder do PP, deputado Arthur Lira (AL), disse à Rádio Eldorado que o governo não tem os 308 votos necessários para aprovação e avalia que texto prevendo economia de R$ 600 bilhões é positivo.
Petróleo
Após iniciar o dia em baixa, o petróleo reverteu a queda após divulgação do payroll nesta sexta-feira. A alta de hoje se contrapõe ao sentimento bearish que predominou na commodity nesta semana devido ao aumento da produção nos EUA e a elevação acima do esperado dos estoques americanos de petróleo bruto.
Após perder quase 3% na sessão de ontem, o petróleo WTI, negociado em Nova York, subiu 0,10% a US$ 61,87, enquanto o Brent, referência global e cotado em Londres, teve ganhos de 0,07% a US$ 70,80 após o tombo de 2% de ontem. Contribuiu para os touros segurarem os ursos a adição de duas sondas em operação para extração da commodity nos EUA, a primeira alta em três semanas, mas insuficiente para tirar a percepção de desaceleração. No total, 804 unidades estão em operação, contra 834 de um ano antes.
A Petrobras (SA:PETR4) aproveitou a pausa bearish nos preços internacionais para subir 0,78% a R$ 29,74 na PETR3 (SA:PETR3) e 0,82% a R$ 26,95 na PETR4. A queda de 3,5% na produção da estatal no primeiro trimestre, segundo a ANP, não influenciou a formação do preço do ativo pelos investidores. A produção da estatal foi de 2,4 milhões de barris de óleo equivalente ao dia (boe/d).
Via Varejo (SA:VVAR3)
Via Varejo disparou 8,70% a R$ 4,50 e liderou os ganhos do Ibovespa no dia. No radar dos investidores a retirada do estatuto, pelo Conselho de Administração, da companhia a pílula do veneno para venda. Agora a medida vai ser votada pelos acionistas na Assembleia Geral Extraordinária em 3 de maio. O estatuto da Via Varejo estabelece que caso algum acionista atinja participação de 20% ou acima disto, uma oferta pública de compra de todas as ações da empresa (OPA) deve ser feita em no máximo 60 dias.
O preço da OPA será estabelecido com o maior valor de ação nos últimos seis meses mais 20% ou o que for estabelecido em laudo de avaliação da empresa. A medida deve facilitar o Grupo Pão de Açúcar (SA:PCAR4) de se desfazer de 36,27% de sua participação na Via Varejo.
BR Distribuidora (SA:BRDT3)
Após liderar o Ibovespa na sessão de quinta-feira, houve uma realização de lucro no ativo que o levou a uma queda de 3,57%, a maior do pregão do dia. A perspectiva do papel, no entanto, é positiva. A Petrobras, com 71% de participação na distribuidora, pretende reduzir sua fatia para 40% por meio de oferta de ações. Além disso, há 5 empresas de varejo ou fundos interessados nas lojas de conveniência da companhia, que iniciou nesta sexta-feira a operar 52 postos da rede Duque em São Paulo.
Itaú Unibanco (SA:ITUB4)
O Itaú Unibanco perdeu 0,91% a R$ 33,71 após divulgação do primeiro trimestre. O banco superou o consenso e registrou lucro de R$ 6,8 bilhões, alta de 7,1% em comparação com o mesmo período do ano passado. O retorno anualizado sobre o patrimônio líquido, que mede como os bancos remuneram o capital de seus acionistas, atingiu 23,6%, aumento de 1,4 ponto percentual no comparativo anual e superior ao dos rivais Bradesco (SA:BBDC4) e Santander Brasil (SA:SANB11) no período.
Criptomoedas
O bitcoin ultrapassou os US$ 6 mil nesta sexta-feira mesmo com notícias negativas sobre o mercado de criptomoedas após a exchange Binance ser acusada de fraude. O bitcoin crescia 5,34% a US$ 6.068,8 às 17:48, puxando a alta de outras moedas digitais, as alt-coins.
*Com Reuters