Investing.com - O presidente dos EUA Donald Trump atrapalhou com a ameaça tarifária sobre o México, mas não impediu o Ibovespa fechar o primeiro maio no azul desde 2009. A profética frase “Sell in May and go away” (venda em maio e se mande) quase se tornou realidade mais uma vez no principal índice acionário brasileiro, mas os ganhos desta semana reverteram as perdas acumuladas do mês. Já os índices em Wall Street, em compensação, mantiveram a escrita, em um mês marcado pela volatilidade e aversão ao risco com a retomada da guerra comercial.
O Ibovespa caiu 0,44% a 97.030,32 pontos no pregão desta sexta-feira, mas com 53,03% das ações fechando no azul. Foi a primeira queda do Ibovespa após quatro sessões consecutivas em alta, que fechou maio em alta de 0,69% com a ajuda dos ganhos acumulados de 7,81% nas duas últimas semanas do mês. O índice chegou a ter perdas acumuladas de 6,6% até a sessão do dia 17, quando atingiu a mínima intradia de 89,4 mil pontos e encerrou a 89,9 mil pontos. No ano, o Ibovespa acumula ganhos de 10,34%.
O dólar surfou na contramão do exterior e fechou em baixa de 1,37% a R$ 3,9244, com uma queda acumulada de 2,28% na semana. A moeda americana reverteu toda a perda de maio no pregão desta sexta, encerrando com uma ligeira alta de 0,04%. Perspectivas positivas em relação à tramitação da reforma da Previdência no Congresso contribuíram para a valorização do real.
Trump mira novo alvo em sua guerra tarifária
Se não é com muro, por que não lançar mão das tarifas? O presidente americano Donald Trump anunciou no Twitter que vai impor tarifas de 5% sobre importações do México a partir de 10 de junho. O objetivo é, segundo ele, conter a imigração ilegal na fronteira entre os dois países. O anúncio renovou a aversão ao risco no mercado.
O México e o novo alvo do presidente americano, embora o propósito seja diferente de outros países e blocos econômicos. Trump lançou os EUA a uma disputa comercial prestes a se transformar em cambial com a China há um ano, e ameaça impor tarifas contra produtos da União Europeia e do Japão.
A medida contra o México também aumenta a distância para um acordo comercial com a China. O vice-presidente Mike Pence disse, em entrevista à Fox News, que Trump vai se encontrar com o líder chinês Xi Jinping em junho na reunião do G-20 no Japão. O governo chinês não confirmou o encontro.
Os dois países não retomaram as negociações desde o último encontro em 10 de maio, mesmo dia que entrou em vigor a elevação das tarifas americanas sobre US$ 200 bilhões sobre produtos chineses. Além das barreiras tarifárias, o governo americano restringiu a empresa chinesa de telecomunicação Huawei realizar negócios com empresas americanas, alegando que a companhia representa uma ameaça à segurança nacional.
A China não ficou de braços cruzados. O país impôs elevação tarifária sobre US$ 60 bilhões de produtos americanos, entrando em vigor nesse sábado (1). Além disso, o governo chinês ameaça divulgar lista com empresas, grupos e indivíduos que prejudicam interesse de empresas do país, sem mencionar país ou empresa. A lista é uma retaliação à restrição da Huawei nos EUA e em alguns países europeus.
Indicadores no exterior
A disputa sino-americana no comércio trouxe volatilidade e aversão ao risco nos mercados mundiais. A demanda por ativos de portos-seguros aumentou, entre os quais os títulos públicos da dívida americana (Treasuries), cuja alta na procura manteve a inversão da curva de juros, ou seja, o rendimento dos títulos de longo prazo está menor que os de curto prazo.
Este é tradicionalmente uma sinalização de recessão econômica nos EUA no horizonte, potencializada pelo imbróglio sino-americano. Quanto maior é a demanda por uma Treasury diminui o seu rendimento, e vice-versa. Quanto mais aumenta a tensão entre EUA e China, os investidores cada vez demandam os títulos com preocupação em relação ao crescimento econômico futuro e, assim, os rendimentos consequentemente caem. Os ganhos dos títulos de 10 anos caíram para 2,130% nesta sexta, enquanto o de 3 meses o rendimento está em 2,363%.
Esta queda dos ganhos dos títulos de 10 anos também é influenciada pelo temor de a guerra comercial prejudicar o crescimento econômico futuro, além de sinalizar que o Fed pode iniciar ciclo de afrouxamento monetário no futuro próximo. De acordo com o Monitor da Taxa de Juros do Fed do Investing.com, 86,8% dos investidores consultados apostam em ao menos um corte na reunião do Fed em outubro, aumentando para 94,6% as apostas de redução dos juros na reunião de dezembro.
Os temores com crescimento econômico com a guerra comercial influenciaram a queda dos índices de Wall Street no mês. Após atingir máximas intradays e no fechamento em abril, Nasdaq e S&P 500 despencaram, respectivamente, 7,93% e 6,58%. Dow Jones não ficou para atrás, com uma queda acumulada de 6,69% no período.
Otimismo com Previdência
O texto substitutivo da reforma da Previdência apresentado ontem pelo PL (ex-PR) na Comissão Especial não teve apoio de três principais partidos do chamado Centrão: PP, PSD e PRB. As informações são da Bloomberg News.
A proposta do PL visa uma economia em 10 anos menor do que a proposta pelo governo: R$ 600 bilhões contra R$ 1,2 trilhão. Consta no novo texto demandas exigidas anteriormente por parlamentares: a retirada das alterações no BPC, na aposentadoria rural e na dos professores, além de amenizar as regras de transição. O regime de capitalização não foi poupado, cuja transição seria custeada por um fundo específico.
Este fundo seria composto por recursos do pré-sal, privatizações, redução de subsídios e benefícios tributários e dos programas de securitização das dívidas previdenciárias. Caso o fundo não atinja 20% do PIB, o restante seria complementado por contribuição de movimentação financeira semelhante à antiga CPMF.
Ações
- BRF (SA:BRFS3) recuou 4,52%, enquanto MARFRIG avançou 0,74%, após as empresas anunciarem na noite da véspera o início de discussões para uma possível fusão, abrindo caminho para formar um dos maiores grupos de carne do mundo. A composição acionária pode deixar atuais acionistas da BRF com 84,98% da nova empresa, enquanto os 15,02% restantes serão da Marfrig (SA:MRFG3).
- PETROBRAS PN (SA:PETR4) caiu 2,29% e PETROBRAS ON (SA:PETR3) recuou 2,15%, na esteira da forte queda nos preços do petróleo no exterior. A estatal confirmou na véspera que o processo de desinvestimento nos campos de petróleo de Pampo e Enchova está em fase de apresentação de ofertas finais, mas não apontou valores ou comprador.
- VALE (SA:VALE3) teve queda de 2,02%, com baixa dos preços do minério de ferro na China causada por preocupação de investidores com uma sobreoferta do produto.
- BRASKEM subiu 4,06%. A Controladoria-Geral da União (CGU) e a Advocacia-Geral da União (AGU) assinaram nesta sexta-feira o acordo de leniência com a companhia, investigada pela Operação Lava Jato. O acordo prevê que a empresa terá entre 2020 e 2025 mais 1,54 bilhão de reais em pagamentos correspondentes a danos, enriquecimento ilícito e multas.
- ENEVA (SA:ENEV3) valorizou-se 5,81%. A elétrica ficou entre as vencedoras de um leilão federal para viabilizar soluções de suprimento de energia a Roraima, que fechou a contratação de uma potência nominal de 293,8 megawatts (MW), provenientes de nove empreendimentos.
*Reuters contribuiu com essa matéria