SÃO PAULO (Reuters) - Um fundo de investimento da gestora brasileira especializada em reestruturações Starboard saiu vencedor nesta terça-feira do leilão do trecho norte do rodoanel metropolitano de São Paulo, oferecendo um deságio de 23% sobre o valor do aporte público necessário para conclusão da obra, que está parada há cerca de cinco anos e cujas origens remontam à década de 1990.
O desconto é sobre o valor de 1,4 bilhão de reais, a parte que compete ao Estado para a construção do trecho, informou a agência reguladora de transportes de São Paulo, Artesp. O lance vencedor no leilão, que começou com 1h20 de atraso, foi apresentado pelo Via Appia Fundo de Investimento em Participações Infraestrutura.
O fundo venceu propostas feitas por outros três grupos - o Consórcio Infraestrutura SP, formado por EPR 2 Participações e Voyager Participações, a gigante espanhola Acciona e o consórcio liderado pelo fundo XP (BVMF:XPBR31) Infra IV. Tanto Acciona, quanto o fundo da XP não passaram para a segunda etapa do leilão.
O investimento previsto no projeto é de mais de 3,4 bilhões de reais, dos quais 2 bilhões na conclusão das obras paradas desde 2018. O contrato é de 31 anos e o trecho cruza as cidades de São Paulo, Arujá e Guarulhos.
O leilão marca a primeira concessão do governo de SP sob o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro da Infraestrutura no governo Jair Bolsonaro que se elegeu no ano passado governador do Estado mais desenvolvido no país em sua primeira tentativa para o cargo, encerrando quase três décadas de gestão do PSDB.
Segundo Freitas, a expectativa de conclusão e início de operação do trecho norte do rodoanel é no segundo semestre de 2026. "Vamos fechar a saga do rodoanel, esta é a primeira obra de uma série que vamos concluir", disse o governador, citando projetos que incluem a desestatização da empresa de água e saneamento Sabesp (BVMF:SBSP3) e uma passagem terrestre conectando as cidades litorâneas de Santos e Guarujá.
30 ANOS
O trecho norte é o último para completar o anel rodoviário metropolitano de 180 quilômetros, um dos maiores empreendimentos de infraestrutura da América Latina. A intenção do rodoanel é desafogar as vias da cidade de São Paulo de milhares de caminhões que precisam cruzar a capital paulista diariamente para chegar a destinos que incluem o Porto de Santos.
A obra de 44 quilômetros do trecho norte foi iniciada com atrasos em 2013 e deveria ter sido entregue em 2016, durante governo de Geraldo Alckmin, hoje vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. O trecho norte, que está parcialmente construído, sofreu uma série de entraves na Justiça, incluindo investigações de fraude e propina em que mais de uma dezena de pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público Federal em 2018.
Atualmente, os trechos sul e leste do rodoanel paulista, leiloados em 2010 e 2015, respectivamente, estão sob responsabilidade da concessionária SPMar, do Grupo Bertin, enquanto o trecho oeste, leiloado em 2002, está sendo explorado pela CCR (BVMF:CCRO3).
Uma novidade no rodoanel, o trecho norte terá uso exclusivo do sistema "free flow", tecnologia que calcula tarifa por quilômetro rodado, que elimina a necessidade do motorista parar em praça de pedágio, afirmou a Artesp.
O governador de São Paulo, falando após o final do leilão, afirmou que tem intenção de levar o sistema free flow para todas rodovias estaduais, mas não deu detalhes sobre como ou em que prazo.
(Por Alberto Alerigi Jr., com reportagem adicional de Andre Romani)