A melhora dos mercados internacionais deve levar a uma recuperação de parte das recentes perdas do Ibovespa, que ontem fechou em baixa (-0,35%, aos 111.203,45 pontos) pelo quarto pregão seguido. Por trás da retomada da alta dos ativos acionários - na Europa, por exemplo, há bolsas subindo quase 5% - estão esforços de países produtores de petróleo, que por sinal reage em queda hoje, para elevar a oferta com objetivo de se contrapor ao choque causado pelo conflito russo-ucraniano.
Além disso, indícios de disposição da Ucrânia em dialogar também reforçam o clima mais tranquilo entre investidores, após o presidente Volodymr Zelensky indicar que "esfriou" sua disposição de colocar o país como membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). No entanto, tudo isso ainda não significa o fim da volatilidade nos negócios, o que ainda deve ser reforçado por indecisões internas na seara dos combustíveis, à espera da reunião que acontece no governo sobre o tema.
A despeito do ambiente externo favorável e de uma agenda por lá esvaziada, questões locais e balanços podem limitar uma tentativa de correção da quedas do Ibovespa. Além do recuo do petróleo, espera-se que hoje saia alguma decisão do governo sobre combustíveis. No governo, a concessão de um subsídio temporário, com duração de três a seis meses, para tentar conter a alta dos combustíveis no País ganha força, embora o ministro da Economia, Paulo Guedes, seja contrário. "Não tem congelamento de preços dos combustíveis, esquece esse troço", disse ontem o ministro.
"Mercados externos em alta e redução das chances de congelamento dos preços dos combustíveis, que prejudicariam financeiramente a Petrobras (SA:PETR4), podem contribuir para a valorização dos ativos domésticos", estima a MCM Consultores em nota.
O assunto preocupa o mercado seja por conta do risco de ingerência política na Petrobras em pleno ano eleitoral, dado que o presidente Jair Bolsonaro deve tentar se reeleger, seja em decorrência do encargo fiscal à frente, dependendo das ações a serem tomadas.
Ainda nessa seara, dois projetos que visam frear a alta dos preços desses produtos no Brasil por conta da defasagem do petróleo no exterior estão na pauta do Senado nesta quarta-feira.
A queda de 1,70% na cotação do minério de ferro no porto chinês de Qingdao, a US$ 158,79 por tonelada, também limitam alta do Ibovespa. Às 11h09, Vale ON (SA:VALE3) cedia 2,94% e Petrobras perdia 1,51% (PN) e 1,64% (ON).
"A semana segue focada em um assunto: a guerra entre Rússia e Ucrânia. O cenário político mundial segue tenso, ao passo que as sanções impactam fortemente no preço das matérias-primas e novos discursos sobre a sanção ao petróleo russo fazem o preço dessa commodity subir mais de 4% somente ontem", lembra Antônio Sanches, especialista em investimentos da Rico. Apesar do recuo, a cotação do petróleo ainda está na faixa de US$ 120 por barril, reforçando temores inflacionários e de juros maiores.
Hoje, por exemplo, a Tendências Consultoria elevou sua projeção para a taxa Selic terminal, de 12,25% para 12,75% ao ano, na esteira na guerra no Leste Europeu. "Diante dos recentes eventos no exterior, que têm alimentado pressões inflacionárias globais e exacerbado riscos locais para a evolução dos índices de preços, avaliamos que cresceram as chances de o Banco Central estender o atual ciclo de ajuste da Selic", justifica o economista Silvio Campos Neto, em relatório.
Quanto aos balanços, saem os resultados de CSN (SA:CSNA3) e CSN Mineração (SA:CMIN3), Marfrig (SA:MRFG3), dentre outros, após o fechamento da B3 (SA:B3SA3)
Às 11h10, o Ibovespa subia 1,27%, aos 112.613,91 pontos, ante máxima diária aos 112.707,39 pontos (alta de 1,35%). Dentre os bancos, Unit de Santander (SA:SANB11) subia 5,76%.