Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - A bolsa paulista fechou no azul nesta quarta-feira, véspera de feriado no Brasil, refletindo busca por barganhas, após o Ibovespa acumular em maio a maior queda mensal desde setembro de 2014, diante de piora na percepção de risco político e dados econômicos aquém das expectativas.
O principal índice de ações da B3 subiu 0,9 por cento, a 76.753 pontos, em sessão volátil, na qual oscilou da mínima de 75.514 pontos à máxima de 77.096 pontos. O volume financeiro foi expressivo e somou 20,466 bilhões de reais.
Em maio, contudo, o Ibovespa caiu 10,87 por cento, pior desempenho mensal desde setembro de 2014, afetado também por um aumento na aversão a risco global com mercado emergentes.
Na visão do analista de ações da Genial Filipe Villegas, a alta nesta quarta-feira refletiu uma reavaliação dos exageros nos últimos dias, quando o mercado reagiu a preocupações ligadas aos impactos da crise gerada pela greve dos caminhoneiros. No entanto, ele notou uma mudança na postura de investidores.
"O risco eleição foi trazido a valor presente", afirmou, destacando que a crise iniciada pela greve fez os investidores migrarem durante o mês de empresas estatais e cíclicas, entre outras, para empresas consideradas mais conservadoras, com resultados mais previsíveis e receita vinculada ao dólar.
De acordo com gestores ouvidos pela Reuters, o mercado segue bastante fragilizado pelos eventos relacionados à paralisação dos caminhoneiros, que já dura 10 dias, com investidores e empresas ainda calculando prejuízos, tanto para a atividade econômica, como do ponto de vista fiscal e político.
Para um desses gestores, o incerteza eleitoral apenas começou a ser colocada no preço. "O mercado ainda não quer tomar risco. É difícil calcular o preço dos ativos para um desfecho eleitoral que inclua um candidato com propostas populistas e sem compromisso com reformas", disse um dos gestores.
As operações na bolsa ainda foram afetadas pelos ajustes à revisão do revisão semestral do índice de ações MSCI Brazil, anunciada em meados do mês, que incluiu BR Distribuidora (SA:BRDT3), o IRB Brasil (SA:IRBR3) e a Magazine Luiza (SA:MGLU3), enquanto Qualicorp (SA:QUAL3) e Taesa (SA:TAEE11) foram excluídas.
As mudanças entram em vigor no fechamento do dia 31 de maio, quando a bolsa estará fechada por feriado no Brasil.
DESTAQUES
- PETROBRAS PN (SA:PETR4) caiu 1,66 por cento e PETROBRAS ON (SA:PETR3) recuou 0,22 por cento, após sessão volátil, com os papéis ainda pressionados por incertezas relacionadas à política de preços da petrolífera de controle estatal, mesmo após declarações do governo e da empresa no sentido de preservação. Em sessão de alta do petróleo no exterior, as ações ainda tiveram como pano de fundo uma greve que já alcança 25 plataformas da companhia e renúncia de membro independente do conselho de administração. Ainda, analistas do Santander Brasil (SA:SANB11) cortaram a recomendação dos ADRs da Petrobras para "manter". No mês, os papéis PN caíram 17,2 por cento e as ações ON perderam 9,75 por cento.
- BANCO DO BRASIL (SA:BBAS3) subiu 6,52 por cento, entre as maiores altas do Ibovespa, embora tenha fechado o mês com queda de 16,7 por cento. O JPMorgan soltou nota a clientes afirmando que a ação estava em um patamar de preço interessante, "um ponto de entrada convincente". Analistas do Santander Brasil reiteraram recomendação de compra, citando a fraqueza recente do papel. Ainda no radar esteve o anúncio do BB de que o Fundo Soberano concluiu em 29 de maio a venda das ações que detinha do banco.
- B2W (SA:BTOW3) avançou 6,87 por cento e VIA VAREJO UNIT (SA:VVAR11) fechou em alta de 4,99 por cento, reagindo a perspectivas de alguma normalização nos transportes de cargas, depois que o setor de consumo e varejo foi atingido pela greve dos caminhoneiros, que comprometeu o fornecimento e o escoamento de produtos.
- VALE (SA:VALE3) encerrou com variação positiva de 0,94 por cento, tendo como pano de fundo a alta dos preços do minério de ferro à vista na China.
- GOL (SA:GOLL4) PN recuou 3,02 por cento, entre as maiores perdas, em sessão de alta dos preços do petróleo, o que pesa nos custos de companhias aéreas. No setor, AZUL PN (SA:AZUL4), que não está no Ibovespa, caiu 2,1 por cento.
Dólar salta em maio e encosta em R$3,75; em 4 meses já subiu 17,5%
Embora tenha fechado a quarta-feira praticamente estável, o dólar deu novo salto em maio, o maior desde setembro de 2015 e encostado no patamar de 3,75 reais, apesar da atuação mais forte do Banco Central no mercado cambial.
Se a política monetária norte-americana predominava no horizonte dos negócios no início do mês, o cenário doméstico ganhou força nas últimas semanas, com a greve de caminhoneiros expondo a fragilidade do governo e das contas públicas, além de antecipar a instabilidade eleitoral.
O dólar fechou com leve baixa de 0,07 por cento a 3,7367 reais na venda, acumulando em maio elevação de 6,66 por cento, a maior alta percentual desde setembro de 2015 (+ 9,33 por cento).
Foi o quarto mês seguido de valorização da moeda norte-americana, acumulando no período valorização de 17,50 por cento.
Na mínima desta sessão, a moeda marcou 3,6868 reais e, na máxima, 3,7684 reais. O dólar futuro tinha alta de 0,25 por cento.
"A volatilidade deve continuar elevada no exterior e, aqui, a especulação eleitoral deve ficar ainda mais forte", avaliou o operador da corretora H.Commcor, Cleber Alessie Machado, para quem, desta forma, o BC acertou ao anunciar que continuará atuando no mercado de câmbio.
No começo da semana, a autoridade monetária antecipou que já estenderia seus leilões de swap tradicional --equivalente à venda futura de dólares-- para junho, oferecendo papéis para a rolagem dos contratos com vencimento em julho, que somam 8,762 bilhões de dólares, e também contratos adicionais para dar liquidez ao mercado.
Nesta sessão, o BC fez leilão e vendeu todo o lote de até 15 mil novos swaps, movimento que não costuma fazer no último pregão do mês para não interferir na Ptax, mas considerou que a recente tensão dos investidores justificava sua ação.
A Ptax é uma taxa calculada pelo BC e usada na liquidação de diversos contratos cambiais e, no dia do seu fechamento mensal, os investidores tendem a "brigar" pela cotação mais favorável, o que pode adicionar mais vaivém aos mercados.
O feriado de Corpus Christi, na quinta-feira, foi motivo de cautela para os investidores no mercado local, em meio às incertezas com o desfecho da paralisação dos caminhoneiros e também com o andamento da greve dos petroleiros. Isso impediu um recuo mais forte do dólar, acompanhando mais de perto o movimento externo.