O Ibovespa acelerou a velocidade de queda à medida que as bolsas norte-americanas migraram nesta terça-feira para o campo negativo, intensificando a queda, após dados fracos de atividade dos Estados Unidos. A piora interna continua refletindo a indicação do Banco Central brasileiro de novo aumento da Selic em setembro. O recuo na carteira do índice da B3 (BVMF:B3SA3) é quase geral: apenas três ações subiam às 11h22 (horário de Brasília).
"Até é natural que o Banco Central engrosse a fala. Se coloca um tom mais brando, fica mais difícil controlar a inflação", avalia João Abdouni, analista da Inversa. De todo modo, acrescenta, "o mercado reage mal."
Outro fator, diz Abdouni, é a proximidade da eleição e a expectativa com manifestos amanhã, 7 de setembro, além de um processo de correção do indicador da B3. "Pode ser que agora as eleições comecem a pesar na Bolsa. Chama a atenção a queda de ações de estatais, como Petrobras (BVMF:PETR4) e Banco do Brasil (BVMF:BBAS3) ambos com recuo em torno de 5%."
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sinalizou ontem que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) deste mês está em aberto e que o colegiado vai avaliar "um possível ajuste final" da taxa Selic, atualmente em 13,75%.
O boletim Focus desta semana mostra manutenção da expectativa do mercado financeiro em 13,75% no fim deste ano e aumento da expectativa no fim de 2023 a 11,25%.
"Mais do que o sinal de alta da Selic, é o de que as estimativas para a inflação podem ficar mais complicadas em janeiro, que a deflação é passageira", avalia o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus.
O Ibovespa renova mínimas, já testando a marca dos 109 mil pontos, após abrir aos 112.202,62 pontos, enquanto o dólar tem máximas de alta, na casa de R$ 5,24, e os juros futuros seguem com valorização firme. Ontem, o índice subiu 1,21%, aos 112.203,35 pontos, pela terceira sessão seguida.
"Tem bastante a corrigir. Subiu bem ontem", diz Bruno Takeo, analista da Ouro Preto Investimentos.
Sobre a indicação de aperto monetário no Brasil, Takeo afirma que o mercado tinha "precificado" o fim do ciclo de alta do juro, se adiantando a uma queda. "Além disso, o sinal no discurso do Campos Neto sobre a inflação, de que pode voltar a surpreender, traz cautela. Isso acaba pegando principalmente na parte de múltiplos na Bolsa", avalia Takeo.
A sinalização de Campos Neto está em sintonia com as afirmações do diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra, em evento hoje. Disse ainda que o Banco Central tem que manter postura cautelosa nos próximos trimestres.
No exterior, também segue a preocupação com juros. Conforme o Bradesco (BVMF:BBDC4), apesar do arrefecimento dos temores relacionados com o fornecimento de gás na Europa, o assunto deverá ser pautado na reunião do Banco Central Europeu (BCE), na quinta-feira, diz o banco. "Deverá acelerar o ajuste de juros de 0,5 ponto-base para 0,75 ponto-base, diante das persistentes pressões inflacionárias", cita em nota.
Na mesma linha, conforme o Bradesco, os investidores continuarão monitorando as discussões em torno da estratégia do Federal Reserve para a política monetária norte-americana.
A queda do Ibovespa acontece apesar da alta de 1,8% do minério de ferro em Dalian, em meio a expectativas de novos estímulos à economia chinesa. Já o petróleo cai em Londres, com temores sobre demanda, pressionando ainda as ações do setor na B3.
Às 11h19, o Ibovespa caía 2,18%, aos 109.754,89 pontos, ante mínima diária aos 109.471,77 pontos (-2,43%), e máxima aos 112.202,77 pontos (variação zero). Petrobras cedia 5,13% (PN) e 4,65% (ON), enquanto Vale ON (BVMF:VALE3) perdia 0,98%. Banco do Brasil ON cedia 4,76%. Já os papéis dos demais grandes bancos caía entre 0,11% 9Itaú) e 0,80% (Unit de Santander (BVMF:SANB11)).