Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em alta nesta quinta-feira, apoiado em dados melhores do que o esperado sobre o comportamento dos preços no Brasil, o que eleva pressão sobre o Banco Central para reduzir a Selic, principalmente após a aprovação do novo marco fiscal do país pela Câmara dos Deputados.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 1,15 %, a 110.054,38 pontos, caminhando para contrariar o velho ditado do mercado "sell in May and go away" (venda em maio e vá embora), uma vez que já acumula uma alta de mais de 5% no mês.
O volume financeiro no pregão alcançou 27,6 bilhões de reais.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) subiu 0,51% em maio, depois de avançar 0,57% em abril, de acordo com dados divulgados nesta quinta-feira pelo IBGE. Foi a taxa mais baixa desde outubro de 2022 e abaixo das expectativas de alta de 0,64%. Em 12 meses, desacelerou para 4,07%.
Economistas avaliaram positivamente a abertura qualitativa dos dados, com alguns considerando que tal resultado gera uma pressão adicional para que o Banco Central reduza a taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano. No mercado, as apostas apontam para um corte no segundo semestre.
"A perspectiva de início do processo de corte de juros impulsionou, principalmente as ações mais ligadas a atividade doméstica", pontuou o gestor de ações da Ace Capital Tiago Cunha, chamando a atenção para, na outra ponta, a fraqueza de ações de commodities por preocupações com a economia da China.
Em entrevista na parte da tarde, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, adotou um tom pacífico em relação a polêmicas envolvendo a meta de inflação e o relacionamento com o governo, mais especificamente a pressão para reduzir os juros, enquanto disse ver sinais positivos de desinflação.
Campos Neto também elogiou a aprovação do novo arcabouço fiscal pelos deputados nesta semana, acrescentando que impacta as expectativas para a inflação e já se reflete em um recuo nos juros futuros.
Estrategistas do Itaú BBA afirmaram ter encontrado estrangeiros mais otimistas com o Brasil do que previam, argumentando que os preços parecem atrativos ante outros emergentes e que a bolsa provavelmente terá um bom desempenho quando houver maior visibilidade sobre cortes na Selic.
"Muitos acreditam que o Banco Central começará a cortar os juros mais cedo do que o cenário base presumido pela equipe macro do Itaú BBA no quarto trimestre", afirmaram Marcelo Sá, Matheus B. Marques e Victor Cunha, após a Itaú BBA CEO Conference, realizada em Nova York de 9 a 11 de maio.
O evento contou com presença de 501 investidores institucionais, sendo 70% estrangeiros, segundo o banco. "Nós também sentimos um melhor humor entre os investidores brasileiros, que estavam muito pessimistas antes de nossa conferência", acrescentaram os estrategistas em relatório.
Wall Street também colaborou, com o Nasdaq e o S&P 500 subindo em meio ao salto das ações da Nvidia, embora uma certa cautela com as negociações relacionadas ao aumento do teto da dívida dos Estados Unidos tenha enfraquecido o Dow Jones.
O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que teve várias conversas produtivas com o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, sobre o impasse em relação ao teto da dívida do governo federal, acrescentando que os negociadores continuaram as negociações na tarde de quinta-feira.
O diretor de Comunicação da Casa Branca, Ben LaBolt, afirmou que um acordo sobre o teto da dívida está próximo, enquanto republicanos e democratas correm para fechar um pacto para evitar o calote. "Estamos chegando perto de um acordo", disse LaBolt à MSNBC.
Destaques
- HAPVIDA ON (BVMF:HAPV3) avançou 10,99%, a 3,94 reais, endossada ainda por relatório do Bank of America (NYSE:BAC), que elevou previsão para o Ebitda da empresa de saúde em 8% e 10% em 2023 e 2024, respectivamente, assim como aumentou o preço-alvo das ações para 5 reais, de 4 reais anteriormente, e reiterou a recomendação de "compra". "O pior ficou para trás", escreveram os analistas do banco.
- MRV&CO ON (BVMF:MRVE3) disparou 10,33%, a 10,04 reais, endossada pelo alívio na curva de juros, enquanto analistas do JPMorgan (NYSE:JPM), em relatório afirmando estar mais positivos com o segmento de construtoras, reforçaram que a ação é sua preferida no setor, mantendo a recomendação "overweight" e elevando o preço-alvo de 11 para 13 reais. CYRELA ON (BVMF:CYRE3), que teve a recomendação "overweight" mantida e o preço elevado de 17 para 21 reais, fechou em alta de 6,19%.
- VIA ON (BVMF:VIIA3) valorizou-se 7,76%, a 2,36 reais, com o setor de consumo como um todo apreciando-se na esteira dos dados melhores sobre a inflação, que traziam alívio à curva de juros no país, além da melhora na confiança do consumidor. MAGAZINE LUIZA ON (BVMF:MGLU3) fechou com elevação de 3,58%, a 3,76 reais. O índice do setor de consumo, que inclui além das varejistas companhias como Cogna (BVMF:COGN3), Iguatemi (BVMF:IGTA3) e JBS (BVMF:JBSS3), ganhou 2,61%.
- LOCAWEB ON (BVMF:LWSA3) subiu 7,47%, a 7,91 reais, com ações de tecnologia na B3 (BVMF:B3SA3) acompanhando o viés positivo ditado pela Nvidia, que saltou 24,3745% após a norte-americana estimar na véspera receita do segundo trimestre mais de 50% acima das estimativas, em meio ao boom de inteligência artificial. Também no Ibovespa, TOTVS ON (BVMF:TOTS3) avançou 5,78%
- AZUL PN (BVMF:AZUL4) e GOL PN subiram 6,19% e 2,76%, respectivamente, a 15,6 e 7,81 reais, tendo como pano de fundo aprovação pelo Senado de medida provisória que isenta companhias aéreas de PIS/Cofins até 2026. O texto irá agora para sanção presidencial. Nem o corte na recomendação de ambas pelo BTG Pactual (BVMF:BPAC11) para "neutra", com o preço-alvo de Gol (BVMF:GOLL4) caindo de 31 para 10 reais e o de Azul, de 47 para 20 reais, esfriou as compras.
- CVC (BVMF:CVCB3) BRASIL ON recuou 4,63%, a 2,68 reais, após o presidente-executivo da operadora de turismo, Leonel Andrade, renunciar ao cargo. A CVC, que não anunciou um substituto, afirmou que o processo de sucessão foi iniciado. Andrade estava na companhia desde abril de 2020, quando assumiu o comando do grupo. A renúncia vem após o antigo diretor financeiro e de relações com investidores Marcelo Kopel também renunciar em abril.
- CSN ON (BVMF:CSNA3) terminou em baixa de 2,3, a 12,32 reais, tendo no radar relatório do Credit Suisse (SIX:CSGN) cortando a recomendação dos papéis da companhia para "neutra" e reduzindo o seu preço-alvo, assim como para outras do setor. USIMINAS PNA (BVMF:USIM5) caiu 1,49%, enquanto GERDAU PN (BVMF:GGBR4) cedeu 1,02%. Para o presidente da associação de distribuidores, Inda, Carlos Loureiro, os preços de aços planos tendem a recuar no segundo semestre. VALE ON (BVMF:VALE3) encerrou com variação negativa de 0,31%, em mais um dia de queda dos futuros do minério de ferro na Ásia.
- PETROBRAS PN (BVMF:PETR4) caiu 0,75%, a 26,45 reais, em dia marcado pelo declínio dos preços do petróleo no exterior, com o Brent fechando em queda 2,68%, de 71,83 dólares o barril. No setor, 3R PETROLEUM ON (BVMF:RRRP3) cedeu 0,74% e PRIO ON (BVMF:PRIO3) perdeu 0,89%.
- ITAÚ UNIBANCO PN (BVMF:ITUB4) avançou 3,14%, a 27,25 reais, e BRADESCO PN (BVMF:BBDC4) encerrou com elevação de 3,6, a 16,12 reais, reforçando o viés de alta no pregão.