Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - A bolsa paulista fechou com o Ibovespa em queda nesta quarta-feira, com o declínio das ações da Vale prevalecendo sobre o avanço dos papéis da Petrobras, assim como também pesou o recuo de bancos em meio a dados mostrando desaceleração no crédito e aumento da inadimplência no país.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 0,72%, a 116.681,32 pontos, após registrar 117.936,71 pontos na máxima e 116.559,7 pontos na mínima do pregão. O volume financeiro somou 21,6 bilhões de reais.
Com tal desempenho, o Ibovespa agora acumula alta de 7,7% no mês, caminhando para um ganho de 14,5% no segundo trimestre e um acréscimo de 6,3% no semestre, o que pode também estar levando alguns investidores a embolsarem lucros dada a proximidade do fechamento de tais períodos na sexta-feira.
"Após o movimento de alta recente, vemos os investidores com uma visão mais cautelosa com relação aos ativos de risco, considerando que ainda há preocupações sobre a inflação e crescimento econômico em âmbito global", afirmou o analista da Terra Investimentos, Luis Novaes.
"Esperamos que os dados econômicos a serem divulgados nos próximos meses tornem a perspectiva mais clara quanto à situação econômica que devemos enfrentar após esse significativo aperto monetário", acrescentou.
Na visão de Novaes, o mercado global está precificando pouco impacto da política monetária sobre a atividade. Em Wall Street, o S&P 500 fechou quase estável, a 4.376,86 pontos nesta sessão, ainda está perto das máximas do ano apuradas em meados do mês, quando bateu 4.448,47 pontos durante o pregão do dia 16.
"Portanto, caso o cenário de uma forte recessão se concretize, poderemos ter uma grande correção, principalmente na bolsa americana, o que deve orientar os investimentos ao redor do mundo, mesmo com o horizonte mais positivo no Brasil com o corte de juros à frente", avaliou.
A perspectiva de que o Banco Central começará em breve a reduzir a Selic, reforçada na véspera pela própria autoridade monetária, tem colocado o Brasil no radar de investidores globais, como a BlackRock (NYSE:BLK), principalmente com o prognóstico de um ambiente ainda restritivo nas principais economias.
Números da B3 (BVMF:B3SA3) mostram que, no mês, as compras por estrangeiros no mercado secundário de ações superavam as vendas em 7,6 bilhões de reais até o dia 26.
O presidente do conselho de administração do BTG Pactual (BVMF:BPAC11), André Esteves, afirmou nesta quarta-feira que está claro ou muito encaminhado que haverá uma queda da taxa Selic em agosto e avaliou que o Banco Central poderia adotar um ritmo mais rápido do que apontam as expectativas no mercado.
"Como a taxa está muito alta, eu não acho que a gente deveria vir com doses homeopáticas... para começar o movimento com a taxa em 13,75% eu prefiro 0,5 (ponto percentual) que 0,25 (ponto)", disse no evento online BTG Talks realizado pelo banco.
Análise técnica do Itaú BBA considera que o movimento de realização de lucros desencadeado pelo perda do patamar dos 118.000 pontos pode levar o índice a buscar suportes em 116.300 e 114.200 pontos, níveis que ainda o mantém em tendência de alta, conforme relatório a clientes.
Para os analistas, contudo, se o Ibovespa superar 119.500 pontos conseguirá mais um impulso na tentativa de superar os 121.600 pontos. "Se conseguir esse feito, abrirá espaço para buscar o topo histórico em 131.200 pontos."
Destaques
- VALE ON (BVMF:VALE3) recuou 3,16%, a 64,72 reais, mesmo com o avanço dos futuros do minério de ferro na China. O contrato mais negociado na Dalian Commodity Exchange encerrou as negociações diurnas com alta de 2,47%. O ScotiaBank, por sua vez, cortou a recomendação dos ADRs da Vale para "sector perform", de "sector outperform", bem como reduziu o preço-alvo para 16 dólares, de 20 dólares antes.
- BRADESCO PN (BVMF:BBDC4) caiu 1,65%, a 16,1 reais, tendo como pano de fundo dados de crédito do Banco Central mostrando que a inadimplência no Brasil atingiu em maio nível mais alto em mais de cinco anos. ITAÚ UNIBANCO PN (BVMF:ITUB4) perdeu 0,57%, BANCO DO BRASIL ON (BVMF:BBAS3) cedeu 1,22%, e SANTANDER BRASIL UNIT (BVMF:SANB11) recuou 1,37%.
- PETROBRAS PN (BVMF:PETR4) fechou com elevação de 0,95%, a 30,89 reais, favorecida pela alta dos preços do petróleo no exterior. Além disso, na véspera, numa atitude rara, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), pediu vista do julgamento de recurso da Petrobras e adiou uma decisão que pode anular a maior condenação trabalhista já imposta à petroleira.
- EMBRAER ON (BVMF:EMBR3) avançou 4,3%, a 18,18 reais, no segundo dia de recuperação, após desabar 15,5% no cinco pregões anteriores. Segundo analistas do BTG Pactual, que se reuniram com a empresa na véspera, a Embraer admitiu que anunciou um número baixo de pedidos na Paris Airshow, mas disse que se tratou de estratégia para priorizar rentabilidade e margens ante crescimento.
- BRF ON (BVMF:BRFS3) cedeu 4,27%, a 8,3 reais, em dia negativo para o setor de proteínas, com JBS ON (BVMF:JBSS3) caindo 4,22%, MARFRIG ON (BVMF:MRFG3) perdendo 3,2% e MINERVA ON (BVMF:BEEF3) encerrando em baixa de 3,25%. O Bank of America (NYSE:BAC) elevou o preço-alvo de BRF de 8,50 para 10 reais, mas cortou previsão para o Ebitda de 2023 em 5% e reiterou recomendação "neutra" para as ações. Na esteira, aumentou o preço de Marfrig, de 7,60 para 8,10 reais, mas também reduziu previsões e manteve a recomendação "neutra" para os papéis.
- AZUL PN (BVMF:AZUL4) subiu 1,96%, a 21,35 reais, em sessão positiva para o setor aéreo, tendo ainda no radar anúncio de que um grupo que representa cerca de 86% de detentores de bônus da empresa com vencimento em 2024 e 2026 concordou com uma proposta de troca de dívida feita pela companhia para prorrogar os vencimentos para 2029 e 2030. GOL PN (BVMF:GOLL4) valorizou-se 2,59%.
- YDUQS ON (BVMF:YDUQ3) avançou 4,63%, a 17,85 reais, em dia de recuperação, após quatro quedas seguidas, período em que o grupo de educação acumulou declínio de mais de 16%. No setor, COGNA ON (BVMF:COGN3) fechou em alta de 1,98%, também experimentando uma trégua após uma sequência de perdas em que contabilizou um recuo de quase 12%.