Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em queda nesta quinta-feira, em meio a um ambiente de maior aversão a risco nos mercados no exterior e um clima político cada vez mais conturbado no país, acarretando uma performance negativa na semana e no acumulado dos primeiros pregões do mês.
Receios com a disseminação da variante delta da Covid-19 e os potenciais riscos para a recuperação econômica, dada a possibilidade de novas medidas de lockdowns, endossaram alguma correção também nos pregões em Wall Street, após recordes recentes alcançados pelo S&P 500 e o Nasdaq.
Mesmo no Brasil foram registrados novos casos da variante delta em São Paulo e Rio de Janeiro, e de acordo com o analista de renda variável da Easynvest by Nubank Murilo Breder isso não estava no radar de investidores, que já tinham antecipado em muitas empresas o cenário de reabertura da economia.
Ainda no exterior, medidas recentes na China têm adicionando certa volatilidade, com o anúncio nessa semana por Pequim de que usará cortes oportunos na taxa de compulsório dos bancos para sustentar a economia real também suscitando preocupações sobre o ritmo de retomada da segunda maior economia do mundo.
Os próximos passos do Federal Reserve também continuam sendo monitorados de perto, mesmo após a ata da última reunião do banco central dos Estados Unidos sinalizar na quarta-feira que autoridades do Fed podem ainda não estar prontas para um aperto da política monetária norte-americana.
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Na visão do diretor de investimentos da BS2 Asset, Mauro Orefice, a ata sugeriu uma maior preocupação por parte de autoridades do Fed com a atividade econômica do que o mercado esperava.
Em paralelo, os ruídos políticos no Brasil não sugerem uma trégua no curto prazo, em meio a novos desenvolvimentos na CPI da Covid desfavoráveis ao governo federal. A pauta de reformas também provoca algumas inquietações, em particular as propostas do Executivo na segunda fase da reforma tributária.
"O mercado passou a reagir mais negativamente (ao noticiário político)", notou Breder.
Nesse contexto, sinais de melhora no atividade econômica no país e expectativas favoráveis para a temporada de resultados de empresas brasileiras do segundo trimestre - que começa neste mês - acabaram ficando em segundo plano.
Números sobre a participação dos investidores estrangeiros no segmento Bovespa corroboram o movimento recente na bolsa paulista. Após três meses consecutivos em que as entradas superaram as saídas, os primeiros pregões de julho mostram saldo negativo de 1 bilhão de reais, segundo dados da B3 (SA:B3SA3).
Nesta quinta-feira, o Ibovespa caiu 1,25%, a 125.427,77 pontos, acumulando perda de 1,72% na semana e de 1,08% no mês. No ano, ainda sobe 5,39%.
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O índice Small Caps cedeu 1,48%, a 3.069,06 pontos, com recuo de 3% na semana e 2,4% no mês, passando a mostrar acréscimo de 8,74% no acumulado de 2021.
O volume negociado no pregão nesta quinta-feira somou 29,8 bilhões de reais.
Na sexta-feira, não haverá negociação na bolsa paulista em razão de feriado em São Paulo.
DESTAQUES DO IBOVESPA DO ACUMULADO DO MÊS:
- BR DISTRIBUIDORA ON (SA:BRDT3) sobe 7,68%, tendo atingido máximas históricas nos primeiros pregões de julho na esteira da venda da participação remanescente da Petrobras (SA:PETR4) na distribuidora de combustíveis por meio de oferta de ações, precificada no final do mês passado.
- NATURA&CO ON (SA:NTCO3) avança 5,92%, também registrando cotações recordes neste começo de semestre, favorecida por dados mais favoráveis ao consumo no Brasil e retomada da atividade global. A empresa tem exposição a mercados no exterior, por meio de marcas como Avon e The Body Shop.
- RUMO ON (SA:RAIL3) sobe 4,44%, tendo de pano de fundo, entre outros fatores, a licitação da BR-163, que liga o Estado a portos no Pará, que analistas veem como um evento que pode avalizar um aumento do frete pela operadora de ferrovias e contêineres. O leilão ocorreu nesta quinta-feira e teve apenas uma proposta de interessado, o consórcio BR Vias, que já atua no Mato Grosso.
- CVC (SA:CVCB3) BRASIL ON recua 8,01%, em meio a movimentos de ajustes após forte recuperação no segundo trimestre, com alta de 46,2%, dadas as preocupações com a variante delta da Covid-19 e a recente valorização do dólar em relação ao real.
- QUALICORP ON (SA:QUAL3) perde 7,92%, ampliando as perdas desde o final do mês passado, em meio a perspectivas de números mais fracos na base de beneficiários no segundo trimestre.
- PETROBRAS ON (SA:PETR3) recua 7,03%, passando por uma correção após subir mais de 30% no segundo trimestre, em ajuste referendado pela queda nos preços do petróleo neste começo do mês com receios sobre os potenciais reflexos da falta de consenso em uma reunião da Opep+.
Veja o comportamento dos principais índices setoriais na B3 no acumulado do mês:
- Índice Financeiro: -2,32%
- Índice de Consumo: +0,01%
- Índice de Energia Elétrica: -0,79%
- Índice de Materiais Básicos: +0,19%
- Índice do Setor Industrial: +0,80%
- Índice Imobiliário: -2,80%
- Índice Utilidade Pública: -1,18%