Mesmo com a elevação da classificação de risco de crédito do Brasil, de BB- para BB (BVMF:BBAS3), anunciada de manhã pela Fitch, o Ibovespa manteve cautela até a entrevista coletiva do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, quando veio a cereja do bolo - que, não obstante, viria a perder parte do sabor em direção ao fim da tarde, especialmente em Nova York. A princípio, animou os investidores a possibilidade de o Fed manter a taxa de juros de referência dos Estados Unidos no nível a que foi elevada nesta quarta-feira, 26, em 25 pontos-base conforme se esperava - ou seja, os Fed Funds poderiam permanecer na faixa de 5,25% a 5,50% na próxima reunião, em setembro.
Depois do intervalo decidido pelo Fed na reunião de junho - quando vinha de 10 elevações seguidas -, a chance de uma nova pausa no processo de aumento dos custos de crédito na maior economia do globo levou os três índices de ações em Nova York a se alinharem então em alta, nas respectivas máximas da sessão. O que impulsionou também o Ibovespa, que chegou a subir 0,61%, aos 122.746,72 pontos, no melhor momento desta quarta-feira.
Ao fim, o índice da B3 (BVMF:B3SA3) mostrava avanço um pouco mais acomodado, em alta de 0,45%, aos 122.560,38 pontos, no que foi seu quinto ganho diário consecutivo - e agora no maior nível de encerramento desde 9 de agosto de 2021, então aos 123.019,38 pontos. Na abertura, o Ibovespa apontava hoje 122.002,76 e, na mínima do dia, voltou para 121.370,43 pontos. O giro financeiro desta quarta-feira ficou em R$ 21,9 bilhões. Na semana, o Ibovespa sobe 1,95% e, no mês, 3,79% - no ano, o avanço é de 11,69%.
Em Nova York, os índices de referência não sustentaram a recuperação ensaiada no meio da tarde, sem direção única no fechamento do dia: Dow Jones +0,23%, S&P 500 -0,02% e Nasdaq -0,12%. Passado o apetite por risco suscitado por Powell, veio o refluxo do entusiasmo dos investidores com o mesmo Powell: a indicação dada nesta tarde pelo presidente do Federal Reserve para setembro se fez acompanhar de ressalvas, que recolocaram o mercado na defensiva.
Powell apontou que o processo de redução da inflação para a meta de 2% demandará um período de crescimento econômico abaixo do potencial. Segundo ele, alguma perda de fôlego no mercado de trabalho continua a ser o resultado esperado da recente escalada de juros. Ele indicou também que o Fed está preparado para apertar mais a política monetária, caso seja necessário. E se recusou a fornecer um "forward guidance" mais explícito, sob a justificativa de um nível elevado de incertezas.
"A mensagem do presidente do Fed não pôde ser considerada muito 'dovish', ou seja, mais flexível perante a inflação. Nesse cenário, o rumo dos juros na maior economia do mundo seguirá incerto, representando o principal fator de atenção entre investidores ao redor do mundo", observa em nota Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos.
"Powell manteve que, nas próximas reuniões, o esforço para trazer a inflação à meta de 2% ao ano continuará a ser feito, com todos os mecanismos e ações possíveis, e que as pessoas não devem duvidar disso", diz Acilio Marinello, coordenador do MBA Executivo em Digital Finance da Trevisan Escola de Negócios, acrescentando que os dados macroeconômicos é que definirão se os juros americanos serão mantidos ou se ainda subirão.
"Ficou bem claro o sinal de que o Fed continuará a acompanhar os dados e os efeitos do aperto monetário para entregar a meta de inflação de 2%", diz João Piccioni, analista da Empiricus Research.
"O obstáculo para a inflação desacelerar ainda mais é o mercado de trabalho dos EUA, que continua robusto - as folhas de pagamento surpreenderam positivamente por mais de um ano. O bom desempenho do mercado de trabalho seguirá apoiando a renda disponível e o consumo, o principal motor econômico dos Estados Unidos", observa em nota Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos. "Esse contexto é necessário para explicar a razão de o Federal Reserve não fechar a porta para novas elevações", acrescenta.
Nesse contexto de incertezas, as ações de maior peso e liquidez na B3 encerraram o dia sem sinal único, e com variações contidas. Vale ON (BVMF:VALE3) cedeu 0,35%, enquanto Petrobras ON (BVMF:PETR3) caiu 0,43% e a PN fechou sem variação. Entre os grandes bancos, o sinal foi majoritariamente positivo (Bradesco (BVMF:BBDC4) PN +1,03%, Itaú (BVMF:ITUB4) PN +0,56%), à exceção da Unit de Santander Brasil (BVMF:SANB11) (-0,34%), instituição que havia divulgado balanço trimestral antes da abertura desta quarta-feira. Na ponta do Ibovespa, destaque para Méliuz (BVMF:CASH3) (+8,91%) e Carrefour Brasil (BVMF:CRFB3) (+8,09%), com Ultrapar (BVMF:UGPA3) (-1,81%) e Cogna (BVMF:COGN3) (-1,74%) no lado oposto.