Nem mesmo resultados corporativos melhores do que o esperado no Brasil aliviam o Ibovespa nesta quinta-feira, 28. O índice mostra instabilidade, com a máxima diária atingindo 106.680,97 pontos e a mínima alcançando 105.695,00 pontos. Após de alta da Selic de 6,25% para 7,75%, na quarta, ter vindo dentro do esperado pela maioria do mercado, os investidores refazem as contas. Demonstram preocupação com a dinâmica das contas públicas do País, da inflação e dos juros daqui para frente, à medida que não há sinais de alívio em relação a esses temas.
Como a alta da Selic era espera, Jayme Carvalho, planejador financeiro e conselheiro da Planejar, diz que não era para o mercado reagir desta forma: Ibovespa em queda, dólar e juros em alta. "Porém, há um aumento da desconfiança do investidor, um desconforto geral do mercado, com temas que podem ter implicações significativas no longo prazo. De fato, temos juros mais altos por causa do fiscal, da inflação. E o BC diz que fará mais ajustes se for preciso, mas não podemos tirar o olho da bola", afirma.
"Diante da decisão do governo de propor uma elevação do teto dos gastos e da perda da âncora fiscal daí decorrente, a elevação do juro foi bastante tímida", avalia relatório da Genial Investimentos, que esperava aumento de três pontos porcentuais na Selic na quarta.
Além disso, houve o adiamento da votação da PEC dos Precatórios na Câmara por falta de quórum seguro, o que significa um revés para o governo. E nesta quinta-feira mesmo saiu um novo índice inflacionário reforçando que o cenário continua preocupante. O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) subiu 0,64% em outubro, depois de cair 0,64% em setembro. O resultado superou o teto das expectativas na pesquisa Projeções Broadcast, de 0,61%, com piso em 0,04% e mediana de 0,30%.
Os temores de uma crise energética global e a necessidade de apagões programados na China devem seguir pressionando os preços industriais, avalia a equipe de Macro & Estratégia do BTG Pactual (SA:BPAC11) digital. "Além disso, os novos reajustes nos preços dos combustíveis e o real depreciado devem contribuir para altas nos próximos meses", cita em nota.
Quanto ao Copom, além de elevar a Selic em 1,50 ponto porcentual ontem, o Banco Central (BC) indicou novo ajuste desta magnitude em dezembro. Com isso, instituições seguem elevando suas projeções para o juro básico, já vendo taxa acima de dois dígitos no fim do ciclo.
O Itaú Unibanco (SA:ITUB4) espera que o Copom eleve a Selic para 9,25% ao final de 2021 e para 11,25% ao ano no fim do ciclo, em 2022. Segundo o banco, o comunicado da reunião assinala o aumento da incerteza relacionada à política fiscal e indica que uma maior volatilidade pode levar as autoridades a recalibrar sua postura. "Mas, por ora, eles estão em pleno modo de contenção de danos", afirma.
Coma a decisão, investimento em renda fixa volta a ganhar bastante relevância e atratividade, observa Rachel de Sá, chefe de Economia da Rico, em nota. Porém, lembra que outros investimentos seguem trazendo oportunidades nesse período de juros em elevação e inflação pressionada. Cita empresas que se beneficiam historicamente de períodos de inflação alta, ou destaques em diferentes setores, com histórias de crescimento independentes de movimentos do ciclo macroeconômico.
Para completar, as commodities caem. O petróleo recua cerca de 0,70% no exterior, enquanto o minério de ferro fechou em baixa de 6,02% no porto chinês de Qingdao. Na seara de balanços, destaque para os resultados de Ambev (SA:ABEV3) e Telefônica (SA:VIVT3), além da expectativa com os resultados de Vale e Petrobras (SA:PETR4) após o fechamento do mercado. Às 10h42, os papéis da Petrobras testavam alta de 0,38% (PN) e de 0,10% (ON), após cederem mais cedo. Já Vale ON (SA:VALE3) tinha recuo de 0,35%.
As ações da Ambev chegaram a disparar mais de 10%, refletindo o forte balanço financeiro no terceiro trimestre. A companhia de bebidas apresentou lucro líquido de R$ 3,712 bilhões, alta de 57,4% ante o mesmo período de 2020, superando as expectativas.
Em Nova York, as bolsas bolsas subiam. Hoje, saiu o PIB americano (1ª leitura), que cresceu a ritmo anualizado de 2% no 3ºtrimestre ante previsão 2,5%.
Às 10h45, o Ibovespa subia 0,13%, aos 106.496,14 pontos. Já o dólar tinha alta de 0,87%, a R$ 5,6035.