IPCA-15 tem em agosto primeira queda em 2 anos por Bônus de Itaipu e alimentos
Com giro ainda enfraquecido, o Ibovespa acompanhou em sinal mas não em grau a recuperação vista nas bolsas europeias e de Nova York nesta sexta-feira, 15, ao final de semana negativa para o apetite por risco aqui como lá, em que as referências globais para ações acumularam, na maioria, perdas - entre as exceções, Paris (+0,05%) e, na Ásia, Tóquio (+1,02%). Mas, enquanto em NY a retração na semana chegou a 1,57% (Nasdaq) e nos maiores mercados da Europa a 1,16% (Frankfurt), em São Paulo a correção foi a 3,73% - não muito distante da vista em Milão (-3,86%), em semana na qual o premiê Mario Draghi apresentou renúncia, não aceita pelo presidente italiano, Sergio Mattarella.
Hoje, o Ibovespa subiu 0,45% aos 96.551,00 pontos, com o dólar em baixa semelhante no fechamento (-0,52%), a R$ 5,4049, ainda em patamar elevado. Entre a mínima e a máxima da sessão, o índice oscilou entre 95.266,94, nova mínima intradia desde 3 de novembro de 2020 (93.967,64), e máxima de 96.970,67 pontos, saindo de abertura aos 96.119,24 pontos. O giro financeiro ficou em R$ 20,6 bilhões. A perda de 3,73% na semana ocorre após duas semanas de leve recuperação, de 1,35% e 0,29%, para o Ibovespa. Em julho, cede 2,02% e, no ano, cai 7,89%.
O cenário externo desafiador - com elevação de juros em boa parte das maiores economias, inflação ainda pressionada e desaquecimento da atividade global - prossegue em momento no qual a proximidade de outubro - e as manobras fiscais do governo para chegar lá em condições de competir pela reeleição - deteriora a perspectiva para a situação fiscal, também no próximo ano.
Estimativa feita pela BGC Liquidez, com base em gastos novos para União, Estados e municípios, bem como em perda de arrecadação tributária, coloca o impacto fiscal das medidas tomadas até agora no ano em R$ 249,8 bilhões - deste montante, cerca de R$ 53,2 bilhões circunscritos a esses últimos seis meses de 2022, de medidas a princípio em vigor até 31 de dezembro. O cálculo inclui iniciativas de adoção bem recente, como o piso para enfermagem, com efeito de R$ 26,5 bilhões. E abrange também R$ 19,1 bilhões referentes à redução do IPI, suspensa por liminar concedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Além das persistentes preocupações com a situação fiscal doméstica, que limita o potencial de recuperação do Ibovespa, o mercado segue tomando o pulso da economia global - hoje, foi a vez de conhecer o PIB da China no segundo trimestre, mais fraco conforme já se antevia.
"A desaceleração do ritmo de crescimento da economia chinesa tem impacto mundial, a começar pela produção de insumos como chips e componentes. Há uma redução de produção por conta da política de covid zero. E o país é também um grande consumidor de commodities. A manutenção dessa tendência de desaceleração da atividade chinesa, que é o mais provável, afetará no médio prazo as exportações brasileiras de uma forma mais importante", diz Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento).
Assim como o PIB do segundo trimestre, a produção industrial da China em junho ficou aquém do esperado, com efeito direto para o desempenho do minério de ferro nesta sexta-feira, em queda de 4,24%, que colocou a tonelada abaixo dos US$ 100 em Qingdao, a US$ 96,04 - na semana, a perda acumulada pela commodity chegou a 15,51%. Na B3 (BVMF:B3SA3), Vale ON (BVMF:VALE3) virou ao longo da tarde e fechou a sessão em alta de 0,62%, acumulando perda de 9,32% na semana e de 10,70% até aqui no mês. As siderúrgicas conseguiram mitigar a correção da semana com desempenho positivo nesta sexta-feira, que chegou a 5,94% para Gerdau (BVMF:GGBR4) PN - na semana, o papel subiu 0,68%, frente a perdas dos pares que chegaram a 8,04% (CSN ON (BVMF:CSNA3)).
Entre as commodities, o dia foi de moderada recuperação para o petróleo, o suficiente para devolver o Brent à linha de três dígitos, não vista nas três sessões anteriores - a referência global encerrou o dia na ICE em alta de 2,08% nos contratos para setembro, a US$ 101,16, mas cedeu 5,48% na semana. Dessa forma, Petrobras ON (BVMF:PETR3) e PN avançaram respectivamente 1,99% e 1,71% nesta sexta-feira, ainda acumulando perdas na semana, de 2,85% e 2,92%. Outro segmento blue chip, os grandes bancos também foram mal no intervalo, em retração apesar do avanço de até 2,05% (BB (BVMF:BBAS3) ON) na sessão de hoje - na semana, as perdas chegaram a 5,46% (Bradesco (BVMF:BBDC4) PN).
Na ponta vencedora da sessão desta sexta-feira, destaque, além de Gerdau PN (+5,94%), para Braskem (BVMF:BRKM5) (+5,33%), Gerdau Metalúrgica (+4,92%), BB Seguridade (BVMF:BBSE3) (+4,21%), Usiminas (BVMF:USIM5) (+4,10%) e Yduqs (BVMF:YDUQ3) (+4,03%). No lado oposto, Hapvida (BVMF:HAPV3) (-5,22%), CVC (BVMF:CVCB3) (-4,55%), Magazine Luiza (BVMF:MGLU3) (-4,47%) e BRF (BVMF:BRFS3) (-4,43%).
"Chegamos à metade do mês com Bolsa na mínima do ano nesta semana - juros também mais estressados, com ponta longa abrindo, e câmbio que se aproximou de R$ 5,50. A semana foi de surpresas negativas sobre a inflação americana, tanto ao consumidor como ao produtor, ambas acima do esperado. Uma história de inflação bem pior do que se imaginava para 2022, e com choque de juros pior também, mais forte do que se antecipava (para o ano)", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, destacando ainda o "abre e fecha" na China em meio à política de covid zero, e o prolongamento, sem fim à vista, para a guerra no leste europeu.