Após dois dias na órbita de 114 mil pontos, nos menores níveis de fechamento desde o começo de junho, o Ibovespa, com a relativa melhora de sentimento vista também no exterior nesta quinta-feira, engatou a segunda alta, agora um degrau acima, aos 115 mil pontos, no encerramento desta penúltima sessão de setembro. Ainda assim, permanece distante do melhor momento do mês, no fechamento da primeira quinzena, quando o índice alcançou os 119.391,55 no dia 14, buscando retomar, então, nível que antecedeu a forte correção da primeira metade de agosto, que o havia rebaixado aos 114 mil já naquele trecho do mês passado.
O Ibovespa parecia mostrar reação na virada de agosto para setembro, fechando a primeira sessão do novo mês um pouco abaixo dos 118 mil. Mas as dúvidas sobre o crescimento chinês e, especialmente desde o último dia 20, a incerteza quanto ao ponto a que o Federal Reserve poderá ainda elevar os juros americanos, operaram como ducha fria para o apetite por risco, em particular para os ativos de um emergente, como o Brasil, com exposição à demanda chinesa por commodities.
Em paralelo, o mercado voltou a escarafunchar sinais sobre a condução das contas públicas, cada vez menos animado com a perspectiva de que, apenas por meio de arrecadação, o governo conseguirá cumprir a promessa de equilíbrio.
Assim, tendo perdido anteontem o sinal positivo que acumulava no mês, o Ibovespa se aproxima da conclusão de setembro bem perto do zero a zero (agora -0,01%), sob risco de prolongar o revés de agosto, quando o índice havia cedido 5,09%. O tombo de agosto sucedeu avanço ininterrupto entre os meses de abril e julho, após perdas em fevereiro e março. Dessa forma, no ano, o Ibovespa ainda acumula ganho de 5,46%, perto do fim do terceiro trimestre.
Hoje, a referência da B3 (BVMF:B3SA3) oscilou entre 114.180,49 e 115.953,65 (+1,42%), do fim da tarde, para encerrar em alta de 1,23%, aos 115.730,76 pontos, saindo de abertura aos 114.327,05 pontos. Na semana, mesmo em alta nas últimas duas sessões, o Ibovespa ainda cede 0,24%. Após ter se mantido em torno de R$ 23 bilhões na terça e quarta-feira, o giro financeiro voltou a se enfraquecer hoje, a R$ 20,6 bilhões.
No contexto da recente piora do humor externo desde a reunião do Federal Reserve concluída em 20 de setembro, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ressaltou nesta quinta-feira, durante entrevista à imprensa sobre o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que o diferencial de juros local com o dos Estados Unidos é um preço, mas também tem um componente de risco.
"A gente olhou muito no passado se existia correlação entre diferencial e câmbio, e entre diferencial e expectativas de prêmio. No fim das contas, o diferencial é um preço, e tem também um diferencial de risco", afirmou. Ele salientou que pode haver uma situação na qual queda do diferencial de juros é acompanhada por queda na percepção de risco.
Campos Neto disse também acreditar que, à medida que projetos de receitas forem aprovados pelo Congresso, a percepção dos agentes econômicos sobre a área fiscal vai melhorar. "Entendemos que há várias medidas que poderiam atenuar, pelo lado da receita. A gente vai acompanhar a votação dessas medidas", afirmou o presidente do BC, acrescentando que a autoridade monetária não faz comentários sobre projetos específicos, mas que entende haver medidas que melhoram o setor fiscal, pelo aumento de receitas.
No Brasil, a recente pressão sobre o câmbio e a curva de juros tem refletido não apenas o cenário externo pouco favorável, mas também as dúvidas sobre a condução do fiscal, no plano doméstico. Apesar da leve queda após o spike do dia anterior, o dólar manteve-se acima do limiar de R$ 5 ao longo da sessão desta quinta-feira, com a moeda à vista sendo negociada entre R$ 5,0159, na mínima, e R$ 5,0694, na máxima. Ao fim, mostrava sinal levemente negativo (-0,16%), a R$ 5,0398.
"O dólar ficou perto do zero a zero na sessão, mas ainda acima de R$ 5, um patamar que tem sido monitorado", diz Stefany Oliveira, head de análise de trade da Toro Investimentos. Ela destaca que, ainda pela manhã, houve alguma acomodação nos rendimentos dos Treasuries de 2 e 10 anos, o que contribuiu, antes mesmo da abertura aqui, para que os futuros sinalizassem uma sessão mais favorável para a Bolsa e o real frente ao dólar. "Tivemos mais uma adequação de preços do que, propriamente, algo que possa ser considerado como direcional", acrescenta.
Pela manhã, o Departamento de Comércio dos Estados Unidos divulgou a última leitura sobre o crescimento do PIB no segundo trimestre, que se manteve em 2,1% em termos anualizados, observa Vanessa Naissinger, especialista da Rico Investimentos. Apesar de ter ficado abaixo da projeção de analistas consultados pela FactSet, de alta de 2,3% para o intervalo, "o dado reforça que a maior economia do mundo segue resiliente, em linha com o discurso duro do Fed, que tem pressionado os juros ao redor do mundo e impulsionado o dólar", aponta a analista da Rico.
No mercado de commodities, destaque nesta quinta-feira para a queda do petróleo, que contribuiu para que Petrobras (BVMF:PETR4) (ON -0,50%, PN -0,20%) se descolasse do movimento comprador observado em outras ações de primeira linha, de alta liquidez e peso significativo no Ibovespa, como Vale (BVMF:VALE3) (ON +1,52%) e as de grandes bancos (BB (BVMF:BBAS3) ON +3,21%, Itaú (BVMF:ITUB4) PN +2,64%, Bradesco (BVMF:BBDC4) PN +2,37%, Santander (BVMF:SANB11) Unit +1,72%). Na ponta ganhadora, CVC (BVMF:CVCB3) (+7,29%), Assaí (BVMF:ASAI3) (+5,35%), Arezzo (BVMF:ARZZ3) (+4,21%) e Renner (BVMF:LREN3) (+4,03%), com Natura (BVMF:NTCO3) (-2,87%), Prio (-2,19%), 3R Petroleum (BVMF:RRRP3) (-0,92%) e Klabin (BVMF:KLBN11) (-0,80%) no lado oposto.
"Os preços do petróleo deram uma trégua hoje nos avanços recentes, mas seguem nos maiores níveis em mais de um ano, fato que contribui para a manutenção da pressão altista sobre os juros globais", observa em nota a Guide Investimentos.