Indicadores mistos sobre a atividade mundial deixam investidores com pouca disposição para irem às compras nos mercados de ações globais no último dia da semana. O sinal na Europa é divergente e os índices futuros americanos migraram para o negativo, na esteira do "payroll, que mostrou menor geração de vagas de emprego nos EUA do que a esperada. No entanto, houve crescimento no salário médio pago aos trabalhadores, o que pode pressionar o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) a iniciar a retirada de estímulos econômicos.
De acordo com o economista Carlos Lopes, do BV, a menor geração de vagas de emprego nos EUA é ruim, mas não muda a história, de que há melhora nas condições de trabalho. "Vem tendo melhora substancial em linha com o que o Fed estima. A leitura é que o Fed deve continuar com seu plano de se aproximar da retirada do 'tapering', que indicará com antecedência quando for fazer isso", afirma.
Nos EUA, houve a geração de 235 mil postos de trabalho em agosto, ante 1,053 milhão (revisado) em julho. O dado ficou menor que a mediana positiva de 750 mil das estimativas na pesquisa Projeções Broadcast. A taxa de desemprego atingiu 5,2%, igual ao previsto, enquanto o salário médio por hora ficou em 0,56% na margem (projeção de 0,3%) e em 4,28% (previsão de 3,9%).
"A taxa de desemprego está melhorando, mas ainda longe de ir para o nível de pleno emprego. Porém, está na direção", afirma o economista-chefe do ModalMais, Álvaro Bandeira, ponderando que o mundo inteiro" desacelerou um pouco nos últimos meses. "A própria expectativa global está caindo, principalmente por causa da China. Mesmo assim, o país tem tomado ciência de que é preciso seguir com os estímulos", afirma Bandeira.
Ainda nos EUA, o PMI composto (final) dos EUA relativo a agosto arrefeceu a 55,4, ante previsão de 55,3. "E fica no radar a variante delta que fez com que alguns investidores esperassem que a recuperação econômica pudesse arrefecer dado aumento de infecções", alerta Pietra Guerra, especialista em ações da Clear Corretora, em nota.
Aliás, diante dessas preocupações, o índice dos gerentes de compras composto em julho, da China, teve a primeira retração desde o controle da primeira onda da pandemia de covid-19. No entanto, os mercados tiveram pouca reação, dado que o governo demonstra estar vigilante. O Banco do Povo do país (PBOC, o BC chinês) se comprometeu a manter a política monetária "flexível, direcionada e apropriada". Isso impede um recuo das ações metálicas na Bolsa brasileira, ainda mais porque o minério de ferro fechou em alta ( 1,89%, a US$ 144,71 tonelada), no porto chinês de Qingdao. Às 10h44 desta sexta-feira, Vale ON (SA:VALE3) subia 1,38%, enquanto Petrobras PN (SA:PETR4) cedia 0,23%. ON, por sua vez, tinha elevação de 0,04%.
Além deste comportamento, preocupações com a saúde fiscal do País e com as manifestações de 7 de setembro sugerem certa cautela ao Ibovespa, ainda que o investidor tente recompor parte das perdas. Isso porque, mesmo com dados mais fracos de atividade ao redor do planeta, a expectativa de que a liquidez ainda continuará elevada, tende a animar o mercado.
Na quinta-feira, o índice amargou perdas de 2,28% (116.677,08 pontos), elevando a desvalorização semanal para 3,32%, em meio a preocupações dos investidores em relação ao fiscal, após as mudanças introduzidas pela Câmara na reforma do Imposto de Renda (IR), que devem reduzir a arrecadação.
Apesar da aprovação do IR, há o receio de que o Congresso não aprove o projeto, como ressalta em nota a CM Capital. A tentativa "falha" de aproximação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), com o do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), elevou o tom de críticas ao governo, o que traz mais incertezas quanto a forma que a Casa irá receber o projeto do IR, cita a consultoria.
Diante da proximidade do final de semana e das manifestações do 7 setembro, num momento em que o governo está cada vez mais isolado (com críticas aos Poderes) e o presidente da República em queda nas pesquisas de popularidade, é possível que os investidores fiquem novamente retraídos, observa relatório da Renascença.
A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), ontem, reafirmou apoio a manifestações que pedem harmonia entre os Poderes. Hoje, por sua vez, conforme fontes ouvidas pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, a Caixa e o Banco do Brasil (SA:BBAS3) decidiram se manter na entidade, após ameaçar sair por discordar da posição da mesma em relação aos protestos. As ações de bancos tinham sinais mistos.
Às 10h45 desta sexta-feira, o Ibovespa subia 0,14%, aos 116.959,84 pontos, ante máxima intradia 117.395,53 pontos. "É mais um ajuste técnico do que uma recuperação depois das quedas recentes", afirma Bandeira, do ModalMais.