Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - A bolsa paulista teve um dia de forte correção nesta segunda-feira, a poucos dias do desfecho da corrida presidencial, com o Ibovespa caindo mais de 3% e as ações de estatais como Petrobras e Banco do Brasil desabando entre 9% e 10%
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 3,27%, a 116.012,7 pontos, maior queda percentual diária desde 26 de novembro de 2021. No pior momento, chegou a 115.792,69 pontos.
O volume financeiro na sessão somou 30,7 bilhões de reais.
Na semana passada, o Ibovespa acumulou alta de 7%, em parte apoiado em pesquisas eleitorais mostrando um estreitamento na diferença entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), com melhora do atual presidente e candidato à reeleição.
Mas um episódio no fim de semana desestabilizou a euforia, principalmente nos últimos pregões, de que Bolsonaro reverteria no domingo a derrota que sofreu de Lula no primeiro turno.
O ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), apoiador de Bolsonaro, disparou tiros de fuzil e lançou granadas contra policiais federais que cumpriam mandado de prisão determinado pela Justiça contra ele.
Bolsonaro procurou, já no domingo, distanciar-se do ex-deputado, mas o estrago estava feito. Ao mesmo tempo que sua campanha agora precisa dividir o foco com ações para conter danos, a oposição tem um novo assunto a ser explorado.
"O cheiro que as pessoas tinham que Bolsonaro iria ganhar meio que sumiu", disse Carlos Belchior, estrategista-chefe da G5, acrescentando que o "pau a pau (na disputa presidencial) ficou mais do que certo".
Divulgada nesta tarde, pesquisa AtlasIntel para o segundo turno mostrou oscilação positiva de Lula para 52,0% de apoio ante 51,1%, contra 46,2% de Bolsonaro, que tinha 46,5%. Ela não capturou o caso de Roberto Jefferson.
Na visão de Belchior, o que ocorreu no domingo traz desconforto, em particular para as pessoas mais moderadas, eleitores de centro e indecisos, que se questionam sobre se a institucionalidade do país está em jogo.
Ele disse que espera um mercado mais volátil do que na defensiva nesta semana, com pesquisas principalmente determinando o humor, mas também as bolsas nos Estados Unidos, que terão uma semana com resultados corporativos relevantes.
Nesta segunda-feira, o norte-americano S&P 500 avançou mais de 1% em meio a expectativas de que talvez o Federal Reserve não será tão agressivo em sua política monetária.
A semana também começou com noticiário relevante na China, onde Xi Jinping assegurou um terceiro mandato. Sua nova equipe de liderança levantou temores de que o crescimento será sacrificado por políticas orientadas pela ideologia.
As bolsas na China reagiram com quedas relevantes, ajudando a pressionar o Ibovespa, dado que ambos são mercados emergentes. Uma bateria de dados econômicos chineses também esteve no radar, incluindo PIB acima do esperado no terceiro trimestre.
Destaques
- PETROBRAS PN (BVMF:PETR4) desabou 9,2%, a 34,25 reais, após renovar máximas na semana passada, quando acumulou valorização de quase 13%. Os papéis foram afetados nesta segunda-feira pela turbulência política, enquanto o preço do petróleo Brent fechou com decréscimo de apenas 0,3%.
- BANCO DO BRASIL ON (BVMF:BBAS3) despencou 10,03%, a 40,20 reais, com o noticiário político também abrindo espaço para ajustes após o papel subir 14% na última semana. No setor, ITAÚ UNIBANCO PN (BVMF:ITUB4) perdeu 4,54% e BRADESCO PN (BVMF:BBDC4) caiu 4,25%.
- IRB BRASIL ON (BVMF:IRBR3) tombou 8,49%, a 0,97 real, sendo negociada abaixo de 1 real pela primeira vez. Novo prejuízo mensal da resseguradora reforçou um cenário desafiador para a companhia e trouxe receios sobre o colchão de capital da empresa, mesmo após uma oferta de ações.
- SUZANO (BVMF:SUZB3) ON valorizou-se 3,48%, a 51,42 reais, apoiada em relatório de analistas do JPMorgan (NYSE:JPM) elevando a recomendação das ações para "overweight", com preço-alvo de 67 reais. Os analistas previram que a normalização do preço da celulose será mais lenta do que o esperado. KLABIN UNIT (BVMF:KLBN11) subiu 1,5%.
- BRF ON (BVMF:BRFS3) caiu 7,7%, a 13,79 reais, após anunciar a criação de joint venture com saudita a Halal Products Development Company, uma subsidiária integral do Public Investment Fund (PIF), para indústria halal, que prevê aportes de 500 milhões de dólares. A joint venture terá participação de 70% da BRF.
- VALE ON (BVMF:VALE3) perdeu 2,97%, a 71,93 reais, contaminada pelo viés vendedor de forma generalizada, enquanto os preços do minério de ferro na China e em Cingapura tiveram avanços modestos. No setor de mineração e siderurgia, CSN ON (BVMF:CSNA3) teve o pior desempenho, fechando em baixa de 8,1%.
(Por Paula Arend Laier; Edição de André Romani)