Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs emplacaram nesta segunda-feira a quinta sessão consecutiva de alta, dando continuidade ao movimento mais recente de aumento de prêmios por conta do risco fiscal, da desancoragem da inflação e do desconforto com declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma combinação que fez a curva a termo passar a precificar aumento da Selic em julho.
O forte avanço dos rendimentos dos Treasuries nos EUA, em meio ao aumento das apostas de que o republicano Donald Trump pode vencer a disputa presidencial com o democrata Joe Biden, também favoreceu a alta das taxas futuras no Brasil.
No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 -- que reflete a política monetária no curtíssimo prazo -- estava em 10,83%, ante 10,73% do ajuste anterior. Já a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,76%, em alta de 21 pontos-base ante 11,547% do ajuste anterior.
Entre os contratos mais longos, as altas foram mais modestas: a taxa para janeiro de 2031 estava em 12,44%, ante 12,421%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 12,42%, ante 12,416%.
O dia foi marcado pela volatilidade no mercado de DIs e pela forte pressão de alta das taxas. Por um lado, elas eram impulsionadas pelo avanço firme dos yields dos Treasuries de dez anos -- referência global de investimentos. Por outro, as taxas continuaram a traduzir o mal-estar com a condução da política fiscal pelo governo e com a inflação no Brasil.
O relatório Focus mostrou mais cedo que a projeção mediana do mercado para a inflação em 2024 passou de 3,98% para 4,00% e em 2025 de 3,85% para 3,87%. Em ambos os casos as expectativas estão se distanciando do centro da meta contínua de 3% para a inflação. A projeção de inflação para 2026 subiu pela nona semana consecutiva.
Além disso, as projeções do Focus mostraram que o país seguirá com déficit primário pelo menos até 2027 -- já após o atual governo Lula.
Neste cenário, a taxa do DI para janeiro de 2026 -- uma das mais líquidas – chegou a subir 20 pontos-base antes das 10h.
“A inflação caminha para ficar acima do teto da meta de inflação (de 4,5%)”, alertou o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior. “O país tem uma economia rodando bem, com excesso de gastos, e não há nenhuma disposição do governo de fazer diferente, de cortar despesas. Então, o mercado está ‘pressionando’ o BC a subir juros”, acrescentou, ao justificar a precificação de alta da Selic contida na curva a termo.
Perto do fechamento desta segunda-feira a curva precificava apenas 31% de chances de manutenção da Selic em 10,50% no fim deste mês e 69% de possibilidade de alta de 25 pontos-base da taxa básica. Estes percentuais contrastam com o que era visto na sexta-feira, quando a precificação estava em 70% pela manutenção e 30% pelo aumento.
Além disso, a precificação desta segunda-feira foi na contramão de declarações recentes do presidente do BC, Roberto Campos Neto, pontuando que a elevação da Selic não está no cenário base da instituição.
Mesmo com as indicações recentes de Campos Neto, a percepção mais geral no mercado era negativa, o que fazia a curva abrir -- em especial, entre os contratos mais curtos.
“Nada mudou. O Brasil segue com dificuldades, com o desafio fiscal interno, e o presidente Lula falou hoje de novo sobre o Banco Central. Não tem como o dólar cair muito, ou (como) os juros (cederem)”, disse o gerente da mesa de Derivativos Financeiros da Commcor DTVM, Cleber Alessie Machado.
Em entrevista à rádio Princesa, de Feira de Santana, Lula voltou a criticar o atual nível dos juros e o BC. Segundo ele, a política de juros altos não é necessária neste momento. O presidente também voltou a descartar ajustes fiscais relacionados ao salário mínimo.
"Eu estou há dois anos com o presidente do Banco Central do (ex-presidente Jair) Bolsonaro, não é correto isso", afirmou Lula. "Eu tenho que, com muita paciência, esperar a hora de indicar o outro candidato, e ver se a gente consegue... ter um presidente do Banco Central que olhe o país do jeito que ele é, e não do jeito que o sistema financeiro fala", acrescentou.
No fim da tarde, os rendimentos dos Treasuries seguiam em alta firme. Às 16h38, o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 14 pontos-base, a 4,483%.