Os juros futuros terminaram o dia em queda e bastante acentuada na ponta longa da curva a termo. O ambiente externo mais propício ao risco abriu caminho para o alívio nos prêmios, num dia de agenda e noticiário local esvaziados. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 13,70%, de 13,72% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2024 caiu de 12,94% para 12,84%. O DI para janeiro de 2025 fechou em 11,79%, de 11,94% ontem, e a do DI para janeiro de 2027 encerrou na mínima de 11,58%, de 11,78%.
O mercado até vinha testando nos últimos dias um movimento de realização, mas que hoje esbarrou no desempenho positivo do real, na queda das taxas longas dos Treasuries e do petróleo. No pano de fundo, o apetite por Brasil segue amparado pela perspectiva de um Federal Reserve menos agressivo na condução da política monetária e, aqui, de que o espaço para novas altas da Selic está esgotado.
No balanço da semana, enquanto as taxas curtas fecharam em torno de 15 pontos-base as longas, como o DI para janeiro de 2027, caíram 40 pontos, refletindo em boa medida o aumento do apetite do investidor estrangeiro, num cenário mais positivo para emergentes caso o Federal Reserve não endosse as apostas mais agressivas para o juro nos Estados Unidos.
"Não que o Fed tenha afrouxado seu discurso, mas houve uma mudança com o 'mood' de inflação lá fora que tirou o risco de cauda de o juro ter de subir mais do que se imaginava", afirma o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima. Nesta semana, a inflação tanto no varejo quanto no atacado em julho no país surpreendeu para baixo, enquanto o risco de recessão ficou contido pela melhora da percepção sobre a economia após o payroll forte.
No Brasil, a semana foi marcada pela ata do Copom reforçando a mensagem do comunicado de que a intenção do Banco Central é manter a Selic em 13,75% a partir de agora, sem contudo fechar totalmente a porta a um aumento adicional de 0,25 ponto. As apostas em estabilidade da taxa básica a partir de setembro são majoritárias na curva e o mercado já antecipa as discussões sobre o timing para cortes.
"Mal o BC sinalizou que não vai subir mais e o mercado já começa a especular sobre quando vai cair. Mas é um movimento inevitável quando combinado a um cenário externo favorável. Esse ambiente é mesmo pró alongamento das posições", explica Lima. Na curva, já há precificação de queda a Selic a partir do primeiro trimestre de 2023.
A visão mais benigna para a política monetária doméstica tem sido ainda influenciada pela deflação dos índices de preços - nesta semana, saiu o IPCA de julho (-0,68%) com a maior queda da série histórica desde 1980 - e alívio nos preços de combustíveis. As reduções do diesel devem ter alívio marginal no IPCA, mas acabaram ampliando a expectativa sobre anúncios da Petrobras (BVMF:PETR4) para a gasolina, dada a defasagem ante preços internacionais ampliada pela queda do petróleo.
Para a economista-chefe do JPMorgan (NYSE:JPM) no Brasil, Cassiana Fernandez, porém a batalha da inflação no Brasil ainda não está ganha. "A deflação de julho foi muito concentrada no corte de impostos. Serviços continuam bastante pressionados, e o mercado de trabalho segue surpreendendo", disse, ao participar de evento da Fundação Getulio Vargas (FGV). Para Fernandez, embora o Banco Central (BC) tenha deixado clara a visão de querer parar o ciclo de aperto monetário, um ajuste de 0,25 ponto em setembro será necessário. "O fim do ciclo depende do controle das expectativas, e hoje não conseguimos ver isso de forma clara", explicou.