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Light usa tese "fraudulenta" para recuperação judicial, diz advogado de debenturistas

Publicado 12.05.2023, 17:05
Atualizado 12.05.2023, 17:10
© Reuters. Linhas de transmissão de energia em Brasília (DF) 
29/08/2018
REUTERS/Ueslei Marcelino
LIGT3
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Por Letícia Fucuchima

SÃO PAULO (Reuters) - A Light (BVMF:LIGT3) usou de uma tese "fraudulenta" para recorrer ao regime de recuperação judicial e está minando a credibilidade que tinha com o mercado, avaliou à Reuters um advogado que atua na defesa de um grupo de debenturistas da companhia elétrica.

O grupo Light entrou nesta sexta-feira com pedido de recuperação judicial na Justiça do Rio de Janeiro, citando dívidas de cerca de 11 bilhões de reais.

O pedido foi feito para a holding, uma vez que a distribuidora de energia --principal foco dos problemas financeiros-- é impedida por lei de usar desse regime.

José Roberto Castro Neves, advogado que está atuando junto a um grupo de quase 30 gestoras que somam mais de 4,7 bilhões de reais em debêntures da Light, afirma que a empresa se utilizou de uma "ginástica fraudulenta".

"Quem precisa (da recuperação judicial) é a concessionária, não a holding. É muito estranho tudo isso, no fundo a pergunta que fica é 'a gente tem lei para quê?'", disse, em entrevista à Reuters.

Neves disse ter se surpreendido quando a empresa conseguiu no mês passado uma liminar para suspender temporariamente suas obrigações financeiras --medida que foi muito criticada pelos debenturistas--, mas afirmou confiar que a "legalidade vai ser respeitada".

"O que a gente espera, confia, é que a legalidade seja respeitada. E a legalidade seguramente é que não pode haver recuperação de uma concessionária, porque a lei proíbe expressamente isso."

A Light pediu à Justiça que a distribuidora e a geradora de energia do grupo possam se beneficiar de parte dos efeitos da recuperação judicial, de forma a impedir que os credores dessas empresas recebam seus créditos "por caminhos transversos que não a recuperação judicial".

Na visão do advogados dos debenturistas, a postura atual da Light está destruindo a credibilidade que a companhia tem no mercado.

"Essa história toda vai minar o que uma empresa tem de mais precioso, que é a sua credibilidade no mercado. Uma empresa dessa natureza precisa de credibilidade, ela precisa de dinheiro, e o mercado precisa acreditar nela".

Na visão dos debenturistas, o caminho ideal seria uma renegociação das dívidas não forçada e com um "management responsável, que jogasse dentro da regra e tivesse a confiança dos credores", o que não é o caso da administração atual, disse.

Neves afirmou ainda que os credores vão procurar o juiz responsável para conversar sobre o caso.

"Os debenturistas vão tomar, usar todos os meios lícitos, moralmente aceitáveis, para tentar evitar esse problema".

DEFESA DA EMPRESA

Advogados que representam a Light nesse caso rebateram as acusações dos debenturistas, ressaltando que não há qualquer impedimento legal para que a holding do grupo elétrico entre com o pedido e inclua suas controladas.

"A Light holding é garantidora de todo o passivo das demais (empresas), para o passivo da holding vir a ser reestruturado, a gente precisa das concessionárias participando na recuperação judicial", afirmou à Reuters Thiago Cabral, do Salomão, Kaiuca, Abrahão, Raposo e Cotta Advogados.

A companhia vem negociando há meses com credores financeiros, mas a postura "beligerante" de alguns deles, principalmente das gestoras, fez com a Light optasse por não tentar uma extensão da mediação inicial por mais 30 dias, disse Rodrigo Cotta, também do Salomão Advogados.

Debenturistas e Light contam versões contrastantes em relação às negociações: a companhia alega que procurou os detentores de debêntures e eles se negaram a conversar, enquanto os debenturistas dizem que sequer foram chamados e que nenhuma proposta foi apresentada a eles.

"A negociação está ocorrendo sim, ela vem ocorrendo e vai continuar ocorrendo. Isso faz inclusive que essa RJ não comece do zero, já temos inclusive pulado alguns passos importantes e algumas discussões importantes para que ocorra aprovação do plano (de RJ) da melhor forma possível", disse Cotta, sem entrar em detalhes.

© Reuters. Linhas de transmissão de energia em Brasília (DF) 
29/08/2018
REUTERS/Ueslei Marcelino

Os advogados da Light frisaram ainda que uma das principais preocupações da companhia foi a preservação dos serviços públicos prestados pela empresa e com a manutenção da cadeia de pagamentos do setor elétrico.

"Ela fez o pedido de RJ justamente para não correr esse risco. Tanto que hoje, com os valores que tem em caixa, ela consegue manter a prestação do serviço sem entrar nada por 12 meses. Agora, o interesse da empresa foi nem aguardar chegar nesse momento", disse Cabral.

 

(Por Letícia Fucuchima)

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