Por Rodrigo Viga Gaier
ITAGUAÍ, Rio de Janeiro (Reuters) - Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Emmanuel Macron lançaram nesta quarta-feira um submarino construído no Brasil com tecnologia francesa, no âmbito de um programa que visa construir o primeiro submarino brasileiro com propulsão nuclear até o final da década.
Lula e Macron participaram de uma cerimônia no estaleiro de Itaguaí (RJ) para o lançamento do terceiro submarino movido a diesel construído em uma parceria de 10 bilhões de dólares entre os dois países.
Lula lembrou que o Brasil tem 16,8 mil km de fronteira seca e 8,5 mil quilômetros quadrados de fronteira marítima e por isso precisa ter um bom sistema de defesa.
"Não porque nós queremos guerra. A defesa é para quem quer paz", disse Lula no evento. "Um país que quer se proteger e construir a soberania do seu povo tem que se preocupar com seu espaço aéreo, tem que se preocupar com a riqueza mineral, tem que se preocupar com a riqueza do solo e do subsolo, tem que se preocupar com a riqueza do mar."
"Mas, sobretudo, nós temos que nos preocupar com a tranquilidade de 203 milhões de brasileiros que moram nesse país e nos preocupar com a tranquilidade que nós precisamos garantir ao planeta Terra", acrescentou o presidente.
Lula disse que, nos tempos atuais, o investimento em defesa é importante também para garantir a democracia de um país e do mundo, e elogiou a parceria que está sendo construída entre o Brasil e a França.
"Hoje, nós sabemos que existe um problema muito sério de animosidade contra o processo democrático desse país, contra o processo democrático do planeta Terra“, afirmou.
"Nós sabemos que a parceria que a França está construindo conosco é uma parceria que vai permitir que dois países importantes, cada um em um continente, se prepare para que a gente possa conviver com essa adversidade, sem nos preocupar com qualquer tipo de guerra, porque nós somos defensores da paz em todo e qualquer momento da nossa história."
A primeira-dama do Brasil, Janja da Silva, quebrou uma garrafa de champanhe na proa do submarino Tonelero em seu batismo, e os dois presidentes ativaram uma alavanca que enviou o navio da classe Scorpene ao mar.
O programa, iniciado em 2008 durante o segundo mandato presidencial de Lula, é uma parceria com o Naval Group, estatal francesa na qual a empresa de defesa Thales tem uma participação de 35%.
O governo brasileiro disse que sua frota de submarinos é necessária para defender a costa e suas águas no Atlântico, onde o país explora vastos campos de petróleo offshore.
Lula bateu na tecla da defesa da paz, num contexto internacional de conflitos, especialmente em função da característica de propulsão nuclear de um dos submarinos que estão sendo construídos.
"Eu queria, querido amigo, presidente Macron, que quando terminar nossa conversa amanhã, volte para a França e diga aos franceses que o Brasil está querendo os conhecimentos da tecnologia nuclear não para fazer guerra, nós queremos ter o conhecimento para garantir a todos os países que querem paz, que saibam que o Brasil estará ao lado de todos, porque a guerra não constrói, a guerra destrói."
Macron realiza nesta semana uma visita de três dias ao Brasil que visa relançar a relação bilateral e a parceria estratégica, após um afastamento entre Brasil e França durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem Macron criticou por não ter protegido a floresta amazônica.
Macron desembarcou na terça-feira na cidade amazônica de Belém, onde o Brasil sediará as negociações climáticas da ONU COP30 em 2025. Lula o recebeu lá e juntos se comprometeram a trabalhar em parceria para acabar com o desmatamento na Amazônia até 2030.
O presidente francês se reuniria com empresários em São Paulo ainda nesta quarta-feira, e fará uma visita de Estado a Brasília na quinta-feira.
(Reportagem adicional de Anthony Boadle, em Brasília)