Por Isabel Versiani
BRASÍLIA (Reuters) -A agência de classificação de risco Moody's elevou nesta terça-feira a nota do Brasil de Ba2 para Ba1 e manteve a perspectiva positiva, afirmando que a atualização reflete melhorias materiais no crédito, que a instituição espera que continuem à frente.
A mudança da nota deixa o Brasil a um degrau do chamado grau de investimento, classificação dada a países vistos como de baixo risco de calote.
Em nota, a Moody´s destacou que o país tem tido um crescimento mais robusto do que o previsto anteriormente e um histórico crescente de reformas que têm dado resiliência ao seu perfil de crédito, ainda que a credibilidade do arcabouço fiscal seja "moderada".
"Por sua vez, um crescimento mais robusto e uma política fiscal consistentemente aderente ao arcabouço fiscal permitirão que o ônus da dívida se estabilize no médio prazo, embora em níveis relativamente altos", afirmou a agência.
Segundo a Moody's, na ausência de choques, a aderência ao arcabouço permitirá que a dívida se estabilize em torno de 82% do Produto Interno Bruto (PIB) no médio prazo.
"A despeito de uma carga de dívida relativamente alta, a solidez fiscal do Brasil se beneficia de um grande mercado interno que permite ao governo emitir principalmente em moeda nacional e de ativos líquidos consideráveis no valor de cerca de 15% do PIB", afirmou a agência.
A avaliação da Moody´s é que o crescimento da economia do país nos próximos anos permanecerá amplo, com a demanda interna impulsionada por um mercado de trabalho relativamente forte.
O aumento da nota do país foi anunciado pouco mais de uma semana depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, terem se reunido com o presidente da Moody´s Rating, Michael West, em 23 de setembro, em Nova York. No mesmo dia, também houve um encontro de Lula com o chefe dos Serviços de Rating da agência Standard & Poor´s, Yan Le Pallec.
Haddad, em uma rápida entrevista na sede do ministério após o anúncio da Moody´s nesta terça, disse acreditar que o relatório está em linha com o que a pasta defende e que, se a área econômica do governo seguir com o trabalho que tem feito, tem grande chance de solucionar o desequilíbrio das contas públicas, que ele apontou como razão para a perda do grau de investimento em 2015.
O ministro também destacou o viés positivo da reavaliação e afirmou que retomar o grau de investimento é uma possibilidade concreta durante o mandato do presidente Lula, desde que o governo não tenha receio em tomar as medidas necessárias.
"Eu penso que, se o governo como um todo compreender que vale a pena esse esforço, que esse esforço que está sendo feito produz os melhores resultados e continuarmos sem baixar a guarda em relação às despesas, em relação às receitas, fazendo o nosso trabalho, eu acredito realmente que nós temos a chance de completar o mandato do presidente Lula reobtendo o grau de investimento", afirmou.
A Moody´s havia alterado, em maio, a perspectiva da nota de crédito do Brasil de estável para positiva, apontando que um crescimento robusto, combinado a um progresso gradual em direção à consolidação fiscal, poderia permitir a estabilização da dívida.
Em nota nesta terça, o Tesouro Nacional afirmou que a elevação da nota de crédito do Brasil pela Moody’s reflete o reconhecimento dos avanços nas contas públicas e de um cenário propício ao crescimento, além da solidez dos fundamentos da economia do país.
“O Ministério da Fazenda reafirma seu compromisso com a melhoria contínua dos resultados fiscais, empreendendo esforços para aumentar a arrecadação e conter gastos”, disse o Tesouro.
(Por Isabel VersianiReportagem adicional de Patrícia Vilas Boas, em São Paulo, e Victor Borges e Bernardo Caram, em BrasíliaEdição de Pedro Fonseca)