Por Ana Beatriz Bartolo
Investing.com - A Movida (SA:MOVI3) apresentou resultados fortes em relação a 2021, com crescimento em todos os seus ramos de atuação. Para o CFO da companhia, Edmar Lopes, os números refletem um trabalho que vem sendo feito nos últimos dois anos, buscando se adaptar a um novo formato de consumo, que envolve o uso mais do que a posse.
“Chegamos no final de 2021 com uma frota de 187 mil carros, um crescimento de 68 mil carros sobre o final de 2020, o que representa um avanço de quase 60%. É um negócio muito forte”, comenta Lopes.
O lucro da Movida no ano passado chegou a R$ 819,4 milhões, sendo R$ 276,7 milhões no 4T21. No comparativo com 2020, o lucro cresceu 251%. O Ebitda consolidado ficou em R$ 2,1 bilhões e a receita líquida consolidada foi de R$ 5,3 bilhões. A margem líquida também é um grande destaque, chegando a 15,4%, um avanço de 10 pontos percentuais.
“Esses números refletem a nossa estratégia focada no cliente, na flexibilidade, no lançamento de produtos novos”, explica Lopes. Para ele, isso foi necessário para “atender as mudanças de consumo que foram aceleradas na pandemia”, como a substituição da compra de carros pelo aluguel.
Lopes falou com exclusividade ao Investing.com Brasil sobre os resultados da Movida em 2021 e também sobre alguns planos para o futuro. Confira!
Investing.com Brasil - Quais foram exatamente os fatores que fizeram o lucro subir mais de 200% no ano?
Edmar Lopes - Houve um crescimento orgânico, que foi o aumento de 43 mil carros na frota, e o crescimento inorgânico, que foi a transação com a CS frotas, ocorrida no segundo semestre e que trouxe 25 mil carros. Além disso, houve uma expansão de margem importante em todas as linhas de negócios. O maior destaque, certamente, é o RAC, em que a margem Ebitda cresceu 10 pontos percentuais, enquanto o GDF, subiu 1p.p., e os seminovos, outros 10 p.p.. Essa melhora nas margens tem a ver com a maior eficiência da companhia, em relação à receita, à precificação e ao custo. Se há uma entrega de margens maiores, então a empresa cresce como um todo.
Inv.com - A inflação e os juros devem ser mais elevados este ano. Como isso vai impactar o negócio?
EL - Primeiro, isso está fora da companhia e de certa forma já está dado como certo, então não tem muito o que fazer. Por outro lado, há claros sinais de que o fundamento do negócio continua muito forte, por causa da sub-penetração do novo modelo de consumo, de substituir a posse pelo uso. O prazo médio do aluguel aumentou, tem mais empresas procurando trocar o transporte aéreo pelo terrestre. Então, de uma maneira geral, esse cenário externo de juros mais altos, que pode pressionar a companhia, será compensado pelo avanço das partes operacionais. Precisamos ser mais eficiente na medida em que o juros sobe. A Movida procurou antecipar ao máximo o aumento de juros e chegou na virada do ano mais bem preparado do que a gente estava no ano anterior.
Inv.com - Falando sobre mudança no perfil de consumo, existe uma tendência dos mais jovens optarem por não tirar a carteira de habilitação. Como a empresa enxerga esse cenário?
EL - Os comentários dos Estados Unidos e o que observamos é que esse público mais novo na verdade acaba aprendendo a dirigir mais tarde, ao longo da vida. As gerações anteriores queriam dirigir o tempo todo. Agora é ao contrário, os mais novos preferem ter flexibilidade e isso é o que importa para a Movida: a troca da posse pelo uso. Então, a Movida tem ofertas de aluguel de um dia até três anos e é isso o que o consumidor quer. O mercado, por exemplo, tem questionado muito o carro por assinatura nesse contrato mais longo e que deve ser um grande vetor de crescimento. Mas, a Movida também já tem um produto mensal com renovação e que vai muito bem, porque gera flexibilidade.
Inv.com - Os gargalos na indústria automobilística atrapalhou os seus planos de expansão de frota?
EL - Houve problemas, mas chegamos no lugar que queríamos. Conseguimos entregar o crescimento que planejávamos, mas a execução foi mais complexa porque o fornecimento foi irregular. Então, isso gera uma dificuldade adicional de execução. Entretanto, na nossa avaliação, o ano foi muito positivo em relação ao relacionamento com as montadoras, porque continuamos ganhando espaço.
Inv.com - E sobre os seminovos? Quando a indústria se normalizar, isso vai afetar o desempenho da empresa nesse segmento?
EL - No nosso planejamento, a Movida tende a crescer normalmente, porque há uma necessidade de renovação da frota. Então, se olharmos para 2022, o número vai ser maior do que 2020 e 2021. A empresa acredita que o mercado de seminovos vai continuar forte porque o mercado ainda está sub abastecido de carros. O mercado de seminovos também é muito fragmentado e a somos um player importante, com boa oferta e carros com garantia
Inv.com - Quais as medidas de ESG que a Movida está adotando, especialmente em relação à emissão de CO2?
EL - Temos alguns projetos importantes. O primeiro deles é garantir que todo mundo use etanol e estamos indo muito bem. A segunda ação é sobre a velocidade de eletrificação da frota. Nós já temos a maior frota eletrificada do Brasil, mas o número é abaixo de mil carros. A Movida tem estabelecido parcerias e isso deve se acelerar daqui para frente, mas é difícil dizer exatamente quando. E por último, são os projetos internos da empresa em relação à energia limpa e ciclo completo de lixo. Isso está andando bem, mas por conta da pandemia estamos atrasados, mas vamos fazer a migração de todas as lojas de energia solar. Era para ser agora no começo do ano, mas precisou adiar para o final do ano.