O Ibovespa manteve recuperação parcial nesta quarta-feira, vindo de perda acima de 3% no dia anterior, refletindo em ambos os casos os persistentes temores sobre a situação fiscal doméstica, às vésperas de definição do auxílio social para 2022, ano em que o governo Bolsonaro jogará as últimas cartas em busca da reeleição. Com o blue chip Dow Jones em nova máxima histórica intradia, a referência da B3 (SA:B3SA3) buscou reduzir o atraso na semana em relação a Wall Street, ainda que de forma tímida, com o dólar em baixa na sessão, mas a R$ 5,56, após ter chegado a R$ 5,61 na máxima de terça.
Ao final, o Ibovespa mostrava leve alta de 0,10%, aos 110.786,43 pontos, entre mínima de 110.175,64 e máxima de 112.023,13, à tarde, saindo de abertura aos 110.677,48 pontos.
O giro ficou em R$ 34,6 bilhões nesta quarta-feira e, na semana, as perdas estão em 3,37% - comparadas a ganho de até 1,51% em Nova York (Nasdaq), em meio à positiva temporada de resultados trimestrais. Após ter virado para o negativo na terça no mês, o Ibovespa parecia que retornaria para o positivo, mas a falta de fôlego no fim da sessão manteve as perdas em outubro a 0,17% - no ano, cede 6,92%.
Pouco depois de o dólar ir à mínima do dia, em baixa de 1,30%, a R$ 5,5213, o Ibovespa levou um pouco adiante a máxima do dia, retomando os 112 mil pontos, em alta acima de 1% na sessão, vindo de queda de 3,28% no fechamento de terça. A oscilação, contudo, se mostrou pontual, com o dólar rapidamente voltando aos R$ 5,54, antes de fechar a R$ 5,56, e o Ibovespa se acomodando abaixo dos 112 mil, enquanto o ministro da Cidadania, João Roma, falava sobre o Auxílio Brasil, que deve ser finalizado em outubro para que seja executado a partir de novembro.
Perto do fechamento da sessão, durante fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, que reiterou que "quem tem voto é a política", a recuperação do Ibovespa encolheu ainda mais, saindo de 111 mil para os 110 mil pontos, colocando o índice não muito distante do zero a zero no fechamento e mantendo o índice no negativo no mês.
Antes disso, "a referência de Roma a que o aumento de gastos na passagem do Bolsa Família para o Auxílio Brasil seria de 20%, portanto dentro do teto, chegou a animar o mercado, com efeito para o câmbio e a Bolsa. Mas essa animação durou pouco: há muito barulho, muita surpresa na forma como o governo tem feito as coisas, então acaba prevalecendo cautela até que se conheça o resultado da reunião de Guedes com Lira", diz Danilo Batara, sócio-fundador e head da mesa de operações da Delta Flow Investimentos, escritório ligado ao BTG Pactual (SA:BPAC11).
"Não tem ainda uma contrapartida (para esses gastos), lembrando que a PEC dos Precatórios foi adiada (possivelmente) para amanhã (na comissão especial da Câmara, que votaria hoje o parecer do relator, Hugo Motta), o que ajuda a entender a devolução rápida vista no Ibovespa", acrescenta Batara, observando um elemento positivo que emergiu na tarde de terça, com o adiamento de última hora da cerimônia de lançamento do Auxílio Brasil, que havia sido programada para as 17h no Palácio do Planalto.
"A equipe econômica não vai assinar da forma como estava sendo sinalizado, o que, se viesse a ocorrer, seria uma indicação ruim para o futuro com relação a gastos e à situação fiscal", diz Batara.
Assim, o mercado segue atento à queda de braço entre as alas política e econômica do governo sobre o volume de recursos que eventualmente venha a ficar fora do teto para financiar o auxílio mensal de R$ 400 a ser concedido até o fim de 2022: a princípio, a equipe econômica queria limitar a R$ 30 bilhões o volume "extrateto", mas a ala política defendeu desembolso maior.
Na terça, em live do JPMorgan à qual o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) teve acesso, o secretário especial do Tesouro e do Orçamento, Bruno Funchal, havia dito que os R$ 30 bilhões fora do teto já seriam uma "solução final". Agora, a equipe econômica estaria trabalhando para limitar o montante fora da regra fiscal e evitar aumento do número de beneficiários, disse também o secretário.
Nesta quarta, o ministro da Economia, Paulo Guedes, cancelou todos os compromissos que teria em São Paulo para ficar em Brasília, apenas com despachos internos na sede do ministério, segundo a assessoria de imprensa. Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro confirmou que planeja pagar R$ 400 aos beneficiários do Auxílio Brasil até dezembro de 2022, como revelou o Broadcast na segunda-feira à noite.
Entre os componentes da carteira teórica do Ibovespa, a recuperação das ações de Petrobras (SA:PETR4) (ON +1,70%, PN +1,43%) contribuiu para equilibrar nova correção em Vale ON (SA:VALE3) (-3,28%). "A Petrobras reiterou que não está deixando de cumprir contratos, ante reclamações de algumas distribuidoras. Segundo essas empresas, a Petrobras estaria impondo cotas de fornecimento de gasolina e diesel para o mês que vem, o que é refutado pela Petrobras", aponta Stefany Oliveira, analista da Toro Investimentos.
Por outro lado, o ajuste negativo em Vale, assim como o observado no setor de siderurgia nesta quarta-feira (Usiminas (SA:USIM5) PNA -3,98%), mesmo com estabilidade para o preço do minério de ferro na China, refletiu forte queda, chegando ao limite diário de variação, nos contratos futuros de carvão metalúrgico e coque, com indicação, por produtores chineses, de que haverá aumento da oferta de carvão neste inverno e na próxima primavera do hemisfério norte, independente dos custos, explica a analista da Toro.