SÃO PAULO (Reuters) - As ações da Petrobras (BVMF:PETR4) figuravam entre as maiores quedas do Ibovespa nesta terça-feira, apesar da recuperação dos preços do petróleo no exterior, ampliando as perdas desde as máximas históricas apuradas em outubro, diante de persistentes preocupações com o rumo da empresa a partir de 2023.
Analistas do UBS BB (BVMF:BBAS3) também cortaram a recomendação dos papéis para "venda", de "compra" anteriormente, bem como ceifaram o preço-alvo das preferenciais de 47 para 22 reais, em relatório divulgado no final da segunda-feira.
Eles argumentaram que começaram a cobertura de Petrobras com uma visão positiva em 2016, que foi mantida na maior parte desde então, na esteira de fatores como uma mudança de dívida para patrimônio a partir de melhora operacional de caixa livre e desinvestimentos, além de pagamentos significativos de dividendos e re-rating potencialmente positivo.
"Seis anos se passaram e agora acreditamos que essas fases estão em caminho de reversão, com os próximos anos parecendo mais sombrios do que os picos que a Petrobras atingiu", afirmaram Luiz Carvalho e equipe.
"Acreditamos que a estratégia da empresa, principalmente em preços e alocação de capital, vai se deteriorar, o que esperamos que se espalhe em suas finanças. Esperamos capex mais alto e preços de combustível mais baixos, pressionando os resultados e o retorno potencial para os acionistas."
O UBS BB segue o movimento de outros analistas --embora de forma mais agressiva-- que também já cortaram recomendações ou preço-alvo para a petrolífera de controle estatal após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência do país em 30 de outubro, entre eles os do Goldman Sachs (NYSE:GS), JPMorgan (NYSE:JPM) e BTG Pactual (BVMF:BPAC11).
Lula, que toma posse em 1º de janeiro, já sinalizou que pretende fazer uma mudança radical na Petrobras.
Fontes afirmaram à Reuters que Lula planeja uma ampla troca no primeiro e segundo escalões da companhia e que pelo menos parte dos dividendos astronômicos sendo pagos pela estatal a acionistas na onda da alta do petróleo serão direcionados a investimentos.
Desde as máximas registradas em 21 de outubro, as ações preferenciais da Petrobras acumulam queda de mais de 30%. Nesta terça-feira, por volta de 10:45, eram negociadas a 22,76 reais, em queda de 3,23%, enquanto os papéis ordinários recuavam 3,78%, a 26 reais.
No mesmo horário, o Ibovespa tinha decréscimo de 0,2%, enquanto, no exterior, o petróleo Brent, referência usada pela companhia, avançava 1,21%, a 88,51 dólares o barril.
Os analistas do UBS BB citaram "três pontos transformacionais" para justificar o rebaixamento duplo na recomendação das ações: preço dos combustíveis, investimentos e despesas gerais.
"Nada disso está claro por enquanto; no entanto, os primeiros comentários da equipe de transição fornecem algumas informações e, olhando para o passado da Petrobras, nos tornamos substancialmente mais cautelosos."
Eles afirmaram que não há definição da nova política de preços da empresa, enquanto avaliam que um risco importante reside em investimentos mais altos, já que, no passado, a Petrobras não conseguiu diversificar a lucratividade do petróleo integrada não essencial, uma tendência que poderia retornar.
"Maiores investimentos e uma busca pela diversificação em renováveis e transição energética exigiriam que a Petrobras se tornasse 'maior', e as despesas gerais - que haviam sido negligenciadas pelo mercado nos últimos anos - tornam-se uma preocupação."
A equipe do UBS BB também ponderou que isso significaria dividendos menores para os acionistas.
Eles acrescentaram que, mesmo com a forte queda dos papéis desde o desfecho eleitoral, o mercado ainda não ajustou as expectativas financeiras no que veeem como um cenário mais pessimista para a empresa, já que o consenso de Ebitda de 2023 para a companhia tem ficado praticamente estável desde então.
Em relatório também divulgado no final da segunda-feira, analistas do Itaú BBA alertaram que uma potencial mudança na política de preços da empresa pode resultar em impactos consideráveis (especialmente se uma política de preços baseada em custos de produção for adiante).
"Dada a falta de clareza sobre o futuro da política de preços da empresa, acreditamos que este seja um grande risco para a história de investimento da Petrobras", afirmaram Monique Greco e equipe.
Eles, no entanto, reiteraram a recomendação "market perform" e o preço-alvo de 38 reais para as ações PN, no aguardo de uma visão mais clara da história de investimentos da empresa, principalmente no que diz respeito às diretrizes de política de preços e alocação de capital.
(Por Paula Arend Laier)