Por Pedro Fonseca
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira nova fase da operação Zelotes, que investiga suspeitas de manipulação de julgamentos no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), incluindo buscas nas dependências do Itaú Unibanco relacionadas a processos do BankBoston.
"Esta nova etapa da operação aponta a existência, entre os anos de 2006 e 2015, de conluio entre um conselheiro do Carf e uma instituição financeira. O esquema criminoso envolvia escritórios de advocacia e empresas de consultoria", disse a PF em comunicado.
A nota da Polícia Federal não identificou a instituição financeira citada, mas o Itaú Unibanco confirmou em nota à imprensa que houve diligência nas dependências do banco, com o objeto da operação sendo documentos relativos a processos tributários do BankBoston.
A instituição financeira disse que o contrato de aquisição com o Bank of America das operações do BankBoston do Brasil, em 2006, não abrangeu a transferência, para o Itaú, dos processos tributários do BankBoston e que por isso "esses processos continuaram de inteira responsabilidade do Bank of America".
"O Itaú não tem qualquer ingerência em tal condução, inclusive no que se refere à eventual contratação de escritórios ou consultores", disse o banco na nota.
Por volta das 10h30, as ações preferenciais do Itáu caíam 3 por cento, em sessão negativa no setor bancário, enquanto o Ibovespa perdia 1,4 por cento.
Segundo comunicado da PF, "houve sucesso na manipulação de processos administrativos fiscais em ao menos três ocasiões" como resultado da atuação irregular do conselheiro do Carf, órgão vinculado ao Ministério da Fazenda.
Cerca de cem policiais federais participam da nova fase da operação, que visa o cumprimento de 34 mandados judiciais, sendo 21 de busca e apreensão e 13 de condução coercitiva, nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco.
A Zelotes foi deflagrada em março de 2015 com o objetivo de desarticular organizações criminosas que atuavam junto ao Carf, causando prejuízo aos cofres públicos com a manipulação de julgamentos no órgão que é responsável por julgar recursos contra decisões da Receita Federal.
Posteriormente, a operação também passou a investigar suposto pagamento de propina para a edição de medidas provisórias.
A operação já levou o presidente do Bradesco (SA:BBDC4), Luiz Carlos Trabuco, a virar réu em uma ação que tramita na Justiça Federal do Distrito Federal. [nL1N1AE24V]
(Reportagem adicional de Ana Mano e Paula Arend Laier, em São Paulo)