Por Ana Julia Mezzadri
Investing.com - O plano de privatizações apresentado pelo governo federal no início deste mês, que prevê para 2021 a privatização de empresas como Correios e Eletrobras (SA:ELET3), foi recebido com ceticismo pelo mercado, que se preocupa com dificuldades no Congresso e no Judiciário em relação à aprovação dos projetos.
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A questão é complicada, segundo Glauco Legat, analista chefe da Necton Investimentos, “porque depende muito mais de política do que de condições de mercado”.
Ainda que algum avanço venha sendo feito nesse campo, sobretudo pelas articulações de Jair Bolsonaro com os chamados partidos do centrão, o cenário segue desfavorável às privatizações em 2021, na análise de Legat, e também é visto com muito ceticismo por Tereza Fernandez, consultora da MB Associados.
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Fernandez aponta ainda que “o próprio Bolsonaro, que não é um liberal como é o Paulo Guedes, não deve fazer grande força ou ter grandes empenhos para avançar nesse tipo de coisa“.
Outro ponto apresentado pelos especialistas diz respeito aos funcionários, que tendem a ir contra esses projetos e fazer pressão, o que, sobretudo em um ano pré-eleitoral como 2021, será mais um fator de dificuldade.
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O plano prevê ainda, para o ano que vem, a venda das empresas Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), Trensurb, Emgea, Ceasaminas, Codesa, Nuclep e Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores de Garantias (ABGF). O pacote reúne ainda projetos e PPPs e Programas de Parcerias Investimento (PPIs)
“O que eu acho que pode sair [em 2021] são alguns PPIs e alguns PPPs na área de estrada, alguma coisa na área de ferrovia e porto, e algo de saneamento”, diz Fernandez.
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Eletrobras
Segundo Legat, a ordem de prioridade que deverá ser seguida para as privatizações começa com Eletrobras, seguida por Correios e Telebras.
O plano de privatização da Eletrobras, que a Secretaria Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia espera que levante R$ 60 bilhões, não é novo: está parado no Congresso desde 2018 e, conforme aponta Tereza Fernandez, sequer uma comissão foi criada.
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Ainda assim, a consultora acredita que, entre as grandes empresas, a Eletrobras está mais avançada nesse quesito, pois “ela já tem um plano de capitalização, já sabe mais ou menos como vai se orientar para dar início ao projeto do ponto de vista prático, desde que seja aprovado”, diz Fernandez. “Ela já começou a fazer a lição de casa. A se reorganizar, enxugar o quadro, ficar mais rentável e ser mais operacional.”
Correios
A privatização dos Correios é tida como uma das mais importantes, visto que a empresa, em um setor crucial, é inoperante. Além disso, “tem que ocorrer logo porque pode perder valor. Empresas como Magazine Luiza (SA:MGLU3) e Mercado Livre (NASDAQ:MELI) (SA:MELI34) já não dependem mais dos Correios, por exemplo”, adiciona Glauco Legat.
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Esse projeto, no entanto, é visto com ainda mais ceticismo para o próximo ano, porque, diferentemente na Eletrobras, “nada foi feio. Não foi feito um PL, nada foi mandado ao Congresso, e eu acho que não tem nem um estudo de fato sobre como será feita essa privatização”, diz Fernandez.
Potencial das privatizações
O valor total do pacote está muito longe do previsto por Guedes em 2019, que era R$ 1 trilhão. Assim, o principal benefício das privatizações talvez já não seja fiscal. “Paulo Guedes falava em 1 trilhão, mas estamos muito longe disso. Se falarmos de R$ 100 bilhões ou R$ 150 bilhões, já seria um valor razoável que, se usado para reduzir a dívida instantaneamente, minimizaria o problema fiscal. Mas eu acho que vai além disso.”
Nesse sentido, um dos maiores benefícios das privatizações, tanto do ponto de vista de Legat quanto no de Fernandez, seria a melhora nas operações e nos investimentos das empresas em questão. “Na hora em que você privatiza, não é só sobre o que você deixa de gastar ou o prejuízo que você deixa de ter, mas sobre os investimentos que você começa a fazer enquanto empresa privada, os avanços tecnológicos”, explica Tereza Fernandez.