Arena do Pavini - A queda acentuada da semana passada nos mercados de ações globais pode ter sido exatamente o que os “touros” (Bulls, que apostam na alta) precisavam, afirma Luca Paolini, estrategista-chefe da gestora de recursos suíça Pictet Asset Management. Segundo ele, a correção forte, desencadeada pelos receios de uma recuperação no ritmo da inflação e ampliada por fatores técnicos, como o impacto de apostas de fundos na queda no índice de volatilidade VIX, retirou a “espuma” de alguns dos mercados mais caros, notadamente os EUA. E isso deve permitir que as ações estendam seu rali por vários meses.
Relação preço/lucro mostrava mercado caro
Em relatório enviado aos clientes, Paoli lembra que, nas semanas antes do mercado tropeçar, os indicadores de preço das ações e sentimento dos mercados – dois dos quatro fatores que a gestora monitora, ao lado do ciclo econômico e medidores de liquidez – estavam “no vermelho piscante”, o que fez a Pictet aumentar a cautela. Como exemplo desses sinais, Paoli cita o preço justo do mercado acionário americano, medido pela relação entre o preço das ações e o lucro projetado das empresas, o chamado índice preço/lucro, ou P/L de 12 meses. O preço das ações atingiu 18,8 vezes o lucro, ou seja, seriam necessários 18 anos de lucro para pagar o investimento na ação, o que era o maior número desde o início da década de 2000.
Fundos de ações globais perderam US$ 30 bilhões
Uma semana depois, esse indicador mudou, afirma Paoli. O P/E das ações dos EUA é agora de 16.5 vezes o lucro, mais razoável, de volta ao nível de novembro de 2016. A relação preço/lucro projetado das empresas do índice MSCI Global, que mede o desempenho de todas as bolsas do mundo, também caiu drasticamente (ver gráfico abaixo). As leituras do sentimento do investidor melhoraram também – indicando que as posições são muito menos otimistas – depois que os fundos de ações globais registraram saídas de US$ 30 bilhões na semana, um recorde.
Relação preço/lucro projetado das empresas do MSCI Global*
*Relação entre o preço das ações que compõem o Índice MSCI Global e o lucro projetado para as empresas nos próximos 12 meses. Fonte: Pictet.
Paoli deixa claro que isso não quer dizer que as ações devem voltar para os picos de fim de janeiro. Segundo ele, a economia global continua forte, mas o impulso do crescimento pode ter atingido o pico. “A robusta demanda doméstica e os mercados de trabalho dinâmicos, especialmente nos mercados desenvolvidos, devem aumentar a inflação este ano”, alerta. E acrescenta que os núcleos da inflação (sem combustíveis e alimentos) dos EUA devem ultrapassar o objetivo de 2% ao ano do Federal Reserve, o Fed, banco central americano, em algum momento em 2018.
“Isso, por sua vez, aumenta a probabilidade de os bancos centrais serem forçados a reduzir seus impulsos monetários de forma mais agressiva do que a economia pode lidar”, alerta.
Por Arena do Pavini