Investing.com - A volatilidade dominou os mercados nesta semana no Brasil com fortes variações nos valores das principais ações do Ibovespa e na cotação do dólar, que voltou a se aproximar dos R$ 3,50 obrigando o Banco Central a voltar a intervir para segurar a moeda.
O pano de fundo dessa forte movimentação nos mercados segue sendo a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, surpreendendo o mundo ao superar a candidata democrata e favorita para a corrida Hillary Clinton em votação realizada na terça-feira da semana passada.
As incertezas sobre os planos de Trump para a economia norte-americana provocaram um grande movimento especulativo global que apontou para a valorização das ações de empresas ligadas à infraestrutura nos EUA com a expectativa de maior incentivo e investimento estatal no setor. O Dow bateu quatro recordes históricos consecutivos em uma sequência de sete pregões de alta após o fechamento das urnas nos EUA.
A perspectiva de maiores gastos no governo leva a previsão de uma inflação mais forte na maior economia do mundo o que, no médio prazo, levaria a juros maiores.
Os investidores apostam em mais de 90% de chances de alta de juros do Federal Reserve na reunião de dezembro. Nesta semana, a presidente do banco, Janet Yellen, afirmou que os juros deverão subir em breve e que ainda é cedo para estimar o impacto da eleição de Trump. O diretor do Fed de Nova York, James Bullard, foi mais incisivo e afirmou que se surpreenderia se o Fed não aumentasse os juros em dezembro.
Com isso, o dólar disparou e alcançou a máxima de 14 anos frente a uma cesta composta por seis importantes moedas globais. No Brasil, a saída de dólares com a aversão ao risco provocada pela eleição dos EUA se somou à valorização internacional da moeda, o que fez com que o real se desvalorizasse quase 10% em uma semana.
A intensa volatilidade da moeda fez com que o Banco Central anunciasse a venda de swaps a partir da quarta-feira, instrumento utilizado pela primeira fez sob comando de Ilan Goldfajn. Desde que houve a troca da diretoria após o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff, o Banco Central buscava reduzir seu estoque de swaps com operações para a compra futura de dólares.
A volatilidade da bolsa brasileira se intensificou com a grande variação das commodities no mercado internacional, especialmente o minério de ferro e o petróleo, que impactam fortemente no valor das ações de Vale (SA:VALE5) e Petrobras (SA:PETR4), respectivamente.
O minério alcançou no início da semana seu valor máximo em mais de dois anos na China, impulsionando os papeis da Vale. A forte alta foi provocada pela disparada do carvão no mercado internacional, o que fez com que as siderúrgicas chinesas passassem a buscar minério de qualidade superior, como aquele produzido pela brasileira. A correção também veio forte e o minério – e a Vale – despencaram 8% em um dia.
O petróleo segue em seu movimento especulativo seguindo o humor e a aparição de ministros e representantes de países exportadores, especialmente a Arábia Saudita. As falas apontando para uma possibilidade maior de um acordo da Opep provoca uma onda de otimismo, logo derrubada pelo dólar valorizado e pelos fundamentos, especialmente produção e estoques nos EUA, que pressionam a cotação.
No cenário interno, o presidente Michel Temer voltou a articular politicamente, desta vez com os senadores, para viabilizar a aprovação da PEC que limita os gastos do governo. O objetivo é aprovar ainda este ano a PEC e dar início a batalha mais dura ainda que será a reforma da Previdência. No calendário do Senado, o presidente da Casa, Renan Calheiro, incluiu a apreciação da reforma política e uma nova rodada de repatriação para ser colocada em prática em 2017.
O cenário político tem se tornado mais imprevisível para o governo com as disputas de bastidores para a eleição do comando da Câmara dos Deputados, cargo essencial para o governo controlar a pauta de votação. A tentativa de reeleição de Rodrigo Maia e a falta de unidade para a indicação de um nome poderá rachar a base em um momento importante de aprovação de medidas impopulares como a reforma da Previdência.
A Lava Jato também cria uma incerteza ao governo. Nesta semana, Sergio Cabral – um dos principais nomes do PMDB – foi preso no Rio de Janeiro, acusado de receber propina de empreiteiras. No radar do governo ainda está a delação premiada da Odebrecht, que tem potencial para abalar grandes nomes do partido e da base aliada.
Bovespa
Apesar da grande volatilidade da semana mais curta com o feriado da Proclamação da República, o índice avançou 1,3%, sem ainda recuperar os 60 mil pontos perdidos após a eleição de Trump. O Ibovespa fechou a semana aos 59.961 pontos, com variação entre 58.322 pontos e 61.492 pontos.
A Vale foi um dos principais destaques negativos e cedeu 6% na semana com a forte correção do minério de ferro. A ação subiu mais de 4% na segunda-feira, para despencar 7,3% na quarta-feira e seguir em queda pelos dois pregões seguintes.
A Petrobras assegurou valorização de 3,6% após despencar na semana passada. A companhia anunciou na noite de quinta-feira a venda da Liguigás ao grupo Ultra, por R$ 2,8 bilhões. O presidente da empresa, Pedro Parente, reafirmou a meta de desinvestir US$ 15,1 bilhões até o fim deste ano.
A JBS (SA:JBSS3) assegurou a maior alta da semana, com ganhos de 11,5% em meio ao cenário positivo traçado pelo presidente Wesley Batista em conferência com analistas. O resultado do terceiro trimestre, contudo, veio fraco com queda de 74% no lucro. A ação despencou no final do mês passado quando o BNDES rejeitou a reorganização societária.
As elétricas sofreram na semana com pano de fundo a análise da Aneel de impedir o pagamento de dividendos em empresas que não cumpre as metas de qualidade. A Cemig (SA:CMIG4) adquiriu a fatia do BTG Pactual (SA:BBTG11) na Light (SA:LIGT3) e passou a buscar novos sócios para a investida, que conseguiu R$ 474,4 milhões em empréstimo do BNDES. A Equatorial (SA:EQTL3) presentou lucro de R$ 189 milhões no terceiro trimestre.
A CSN (SA:CSNA3) anunciou redução de 81% no prejuízo, que fechou o período de julho a setembro em R$ 100 milhões.
O conselho de administração da Lojas Renner (SA:LREN3) aprovou a emissão de ADRs.
A BR Malls (SA:BRML3) lucrou R$ 35,5 milhões no terceiro trimestre.
Segue a briga societária na Oi (SA:OIBR4) para controlar e influenciar o programa de recuperação judicial e o pagamento das dívidas.
A Caixa Econômica Federal apresentou lucro 67% menor no terceiro trimestre.
Indicadores
O IBC-Br veio novamente abaixo das expectativas do mercado com 0,15% e setembro contrariando as projeções de 0,2%. No trimestre, o indicador apresentou contração de 0,78%,
O IGP-10 recuou para 0,06% em novembro, com queda no atacado, enquanto o IPC-S desacelerou para 0,35%.