Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - As ações brasileiras têm espaço para continuar se valorizando em meio a um ambiente de resultados corporativos melhores e perspectivas de reformas macro e microeconômicas no país, afirmaram gestoras da Brasil Plural (SA:BPFF11), destacando que setores como o de consumo discricionário tendem a ser os mais favorecidos.
"Apesar da revisão do PIB para baixo, o mercado ainda trabalha com uma projeção de resultados muito melhor para esse ano do que foi o ano passado", afirmou Paola Castellini Bonoldi, que, junto com Magali Bim, gerem cerca de 700 milhões de reais distribuídos em fundos na gestora Brasil Plural.
"A revisão de lucros por retomada de ciclo só começou" acrescentou Bim, afirmando que em 2020 o crescimento deve ser ainda maior, o que traz uma perspectiva boa não só pelo aumento do faturamento, mas também das margens em razão dos níveis elevados de ociosidade na indústria, entre outros fatores.
"É um ciclo virtuoso do ponto de vista de crescimento de resultados para a frente pela retomada de ciclo", disse.
Pesquisa semanal Focus mostrou nesta segunda-feira a primeira trégua na trajetória de revisões de baixa nas expectativas do mercado para o crescimento da economia brasileira em 2019. Após 20 semanas de cortes, o levantamento mostrou a projeção em 0,82% ante 0,81% na semana anterior.
Além dos resultados, elas também citaram a queda no risco país e a redução dos juros como componentes para a forte valorização da bolsa dos últimos 12 meses, período em que o Ibovespa acumulou elevação de mais de 30%.
Na semana passada, o CDS de cinco anos, medida de risco associada à dívida brasileira, atingiu mínima em quase cinco anos, enquanto a taxa básica de juros Selic encontra-se em 6,5% ao ano, mínima histórica.
Apesar da valorização, contudo, as gestoras não consideram as ações brasileiras caras.
Bonoldi ressaltou que o Brasil mudou muito nos últimos 10 anos, o que dificulta comparar o desempenho atual com médias históricas do Ibovespa. "A realidade mudou", afirmou, citando desde a composição do índice, como o perfil das empresas em bolsa, aspectos de governança, além de perspectivas para o país.
"O Brasil está mudando... A reforma da Previdência teve um apoio muito maior do que se poderia imaginar da população... A reforma tributária também deve caminhar nessa direção... O país também tem um juro real sustentável que não se vê há muitos anos", argumentou a gestora.
"Nós estamos muito otimistas porque estamos vendo muita coisa acontecendo na área micro que vai ter um poder muito grande nas empresas", acrescentou Bim, referindo-se à reforma tributária e MP da Liberdade Econômica, entre outras iniciativas.
ESTRANGEIROS
Para a equipe da Brasil Plural, se o cenário externo ajudar, o capital estrangeiro tende a voltar para a bolsa brasileira, principalmente em razão das sinalizações de políticas monetárias mais 'dovish' nos Estados Unidos e Europa, que tendem a ser benignas para ativos de risco e mercados emergentes.
Dados da B3 mostram que o saldo do capital externo negociado no segmento Bovespa está negativo em 6,3 bilhões de reais em 2019 até 18 de julho.
"Nós achamos que o estrangeiro vai vir", disse Bonoldi, destacando que eles já estão na verdade entrando via ofertas de ações, operações de block trade. "Não é que ele não está participando", acrescentou Bim, avaliando que os estrangeiros não estão propensos a entrar competição de preço com o investidor local, mas estão entrando via ofertas de ações maiores, nas quais eles têm oportunidade de entrar com uma precificação um pouco melhor.
Em relação aos setores mais atraentes na bolsa brasileira, as gestoras acompanham o coro de outros colegas no mercado e chamam a atenção para os segmentos domésticos, particularmente os mais cíclicos, que se favorecem da retomada da economia, incluindo bancos, consumo discricionário e bens de consumo.