Trump diz que só reduzirá tarifas se países concordarem em abrir mercados aos EUA
Investing.com — O S&P 500 ainda pode registrar quedas adicionais, uma vez que os mercados não estão precificando de forma plena a possibilidade de uma recessão nos Estados Unidos, mesmo diante de um ambiente econômico cada vez mais pressionado por tarifas em níveis historicamente elevados. A avaliação é da BCA Research, em relatório publicado recentemente.
“Apesar do adiamento de parte das tarifas ‘recíprocas’, a alíquota média atual permanece como a mais alta desde, pelo menos, a década de 1930”, afirmou Peter Berezin, estrategista-chefe global da casa.
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Embora reconheça a possibilidade de uma redução parcial das tarifas sobre a China, Berezin acredita que esse alívio poderá ser compensado por novas imposições em setores sensíveis, como agricultura, cobre e semicondutores — prolongando a incerteza e seus efeitos na atividade.
A deterioração econômica já é perceptível: o número de vagas de emprego tem caído, as expectativas inflacionárias voltaram a subir, e a renda real dos salários tende a entrar em território negativo ainda neste ano. Segundo Berezin, o ganho real dos salários avançou apenas 1% em fevereiro na comparação anual e deve virar para o campo negativo até o fim de 2025, o que tende a limitar o consumo das famílias.
Mesmo sem o choque tarifário, a economia americana já demonstrava sinais de fragilidade. Vendas em categorias de varejo cíclico estão em retração, a inadimplência em cartões de crédito e financiamentos de veículos aumentou, e o colchão de poupança acumulado durante a pandemia foi praticamente esgotado.
O relatório também chama atenção para o aumento do estresse no crédito corporativo, retração nas intenções de investimento em capital (capex) e a taxa recorde de vacância nos escritórios comerciais — um indicador preocupante para o setor imobiliário.
“Salvo por uma desaceleração expressiva e duradoura da guerra comercial, os EUA e boa parte do mundo devem entrar em recessão nos próximos meses”, aponta a BCA.
Do ponto de vista dos mercados, Berezin observa que os atuais níveis de valuation e spreads de crédito não refletem os riscos em jogo. O múltiplo preço/lucro (P/L) futuro do S&P 500 está em 18,9, significativamente acima dos níveis observados em ciclos de baixa anteriores. Mesmo que esse múltiplo se mantenha estável, a queda nas projeções de lucro pode pressionar os preços das ações.
Hoje, o consenso de mercado ainda projeta um crescimento de 12% no lucro por ação (LPA) para os próximos 12 meses, um número que Berezin considera excessivamente otimista. “Historicamente, as estimativas de LPA caem cerca de 20% durante recessões”, observou.
Diante desse cenário, a BCA reafirmou sua projeção de encerramento do ano para o S&P 500 em 4.450 pontos, mas com possibilidade de queda até 4.200, caso os riscos se materializem.
A orientação da casa é clara: adotar uma postura defensiva. Entre os setores mais indicados estão consumo básico, saúde e serviços públicos, áreas tradicionalmente mais resilientes em ambientes de crescimento baixo e volatilidade elevada.