Stuhlberger vê Brasil "muito beneficiado" por plano de tarifas de Trump

Publicado 03.04.2025, 14:44
Atualizado 03.04.2025, 14:45
© Reuters. Luis Stuhlberger (direita), presidente do Verde, conversa com o presidente da Icatu Seguros, Luciano Soares, em evento em São Paulo.nPaula Arend Laier/Reuters

Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - As tarifas recíprocas comerciais anunciadas pelo presidente Donald Trump na véspera representam uma mudança geopolítica e comercial significativa e um risco de cauda aos mercados, mas, no relativo, o Brasil saiu beneficiado, avaliou o presidente da prestigiada gestora Verde Asset, Luis Stuhlberger, nesta quinta-feira.

"O Brasil saiu muito beneficiado dessa história", disse em evento de lançamento de fundo de previdência privada multimercado da Icatu Seguros em parceria com a Verde, citando a "balança comercial equilibrada" entre ambos os países, o que permitiu a tarifa mínima, de 10%.

"Resta saber se o Brasil vai saber aproveitar essa oportunidade", acrescentou o gestor da Verde, que tem R$17 bilhões em ativos sob gestão.

Trump anunciou uma tarifa de 10% para os produtos brasileiros, enquanto outras economias tiveram taxas maiores, como China, que ficou com 34%, além dos 20% aplicados anteriormente. O governo brasileiro responderá às tarifas com base no projeto de reciprocidade aprovado pelo Congresso.

Stuhlberger observou que o anúncio surpreendeu, mas que o estilo de Trump na linha "dou uma paulada e depois negocio" pode significar que esses percentuais diminuam. "Não quer dizer que as tarifas vão para zero... Na margem, pode melhorar. Mas não esqueçam que antes de melhorar pode piorar", afirmou.

Nesta tarde, o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, afirmou em entrevista à CNN que "não há chance" de Trump recuar das tarifas.

Stuhlberger enxerga como pior cenário a China decidir não vender mais determinados produtos para os EUA.

"E aí os EUA param por falta de produto chinês... A China não vai fazer isso amanhã. Mas temos que estar sabendo que existe um 'tail risk' no mercado, existe um 'tail risk' que os mercados não precificam'", afirmou. "Temos que levar em conta que estamos em um ambiente novo e difícil."

Na visão do gestor, a economia norte-americana caminha para uma forte desaceleração, embora o mercado de trabalho ainda dê sinais de estabilidade.

A Verde, afirmou, deve revisar para baixo sua estimativa de crescimento do PIB dos EUA em 2025, atualmente de 1,4%. "Provavelmente, a próxima previsão vem com um número muito mais abaixo do que esse...perto de zero... Não acho que chegue à recessão, mas ainda vai cair bastante."

Em paralelo, Stuhlberger vê riscos altistas para a inflação, principalmente na parte de bens, com o efeito das tarifas anunciadas na véspera, embora também enxergue alguns componentes contrabalançando esse movimento, como preços menores de energia, do petróleo e aumento menor de salários.

Na visão da Verde, algumas políticas de Trump estão gerando um ambiente estagflacionário e atrapalham uma economia que estava em equilíbrio. Stuhlberger explicou que, apesar do cenário de inflação mais alta, o risco de recessão mantém os juros baixos, o que enfraquece o dólar.

Para o gestor, o euro deve ser o grande beneficiário desse cenário.

BRASIL

Stuhlberger afirmou que o Brasil continua com uma inflação elevada e persistente, estimando algo em torno de 5,5% no final do ano com a queda da taxa de câmbio, embora enxergue pressões de alta vindas de alimentos, incluindo ovos e carne.

O presidente da Verde também classificou o déficit nominal do país neste ano e as projeções para os próximos como "absolutamente surreais" para um país que cresceu 3,5%, enquanto avaliou que a situação cambial é "ok, mas não maravilhosa". "Não é para o dólar ir a R$5", disse, citando a vantagem do país de um juro "altíssimo".

Ainda assim, ele avaliou que a piora na avaliação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva "é absolutamente inexplicável pela macroeconomia".

Stuhlberger citou o índice de miséria, que considera o desemprego mais a inflação, afirmando que está baixo, o que é positivo e deveria refletir em uma popularidade maior do governo. "Apesar da inflação estar alta, o desemprego que está muito baixo... está muito difícil encontrar mão-de-obra", afirmou.

Para o gestor, essa piora na avaliação parece algo estrutural, "de esgotamento do Lula". "E isso cria uma vantagem competitiva de mudança de governo muito grande", avaliou. "Então, se a popularidade não melhorar...a tendência é mais medidas" para melhorar a popularidade do presidente, avaliou.

Stuhlberger avalia que uma derrota do PT nas próximas eleições pode mudar esse cenário negativo do Brasil, especialmente se o vitorioso for o atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, uma vez que vê o ex-ministro capaz de promover medidas como um nova reforma da previdência e a volta do teto de gastos.

"Começa a ficar evidente essa fraqueza estrutural do Lula... Mas ainda vai ter muita emoção", afirmou. Ainda assim, disse que, pelas condições e apesar de o CDI estar "muito apetitoso", fazer uma posição aplicada em NTN-B 30 lentamente "parece ser uma boa estratégia".

O gestor afirmou que seu fundo Verde está "zerado" em ações brasileiras, mas não descarta um rali na bolsa envolvendo o desfecho das eleições.

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