Por Alberto Alerigi Jr.
SÃO PAULO (Reuters) - A Suzano (SA:SUZB3) concretizou nesta sexta-feira um antigo desejo de unir suas operações com a rival maior Fibria (SA:FIBR3), anunciando um acordo que criará a maior produtora de celulose do mundo e que deve disparar novas consolidações em um mercado cujo maior comprador é a China.
A segunda maior produtora de celulose do Brasil, Suzano, fechou acordo com os controladores da Fibria, Votorantim e BNDES, para criar a quinta maior empresa do país em valor de mercado (83 bilhões de reais) sem considerar grupos financeiros, superando oferta melhorada da holandesa Paper Excellence, que já tinha comprado a Eldorado Brasil no ano passado.
O acordo também engaveta planos de expansão de capacidade das duas companhias que esperam obter ganhos de sinergias de entre pelo menos 8 bilhões e 10 bilhões de reais nos próximos anos, a serem gerados por economias de custos com logística, aquisição de insumos e pessoal.
As ações da Suzano dispararam 21,8 por cento nesta sexta-feira, para 28,50 reais, enquanto as ações da Fibria fecharam em baixa de 10,22 por cento, a 64,25 reais, depois de terem avançado nos últimos pregões diante da oferta de 71,50 reais feita pela Paper Excellence, segundo fontes informaram à Reuters.
Segundo o presidente da Suzano, Walter Schalka, não há um prazo definido para a conclusão da operação com a Fibria, que vai precisar passar antes pelo crivo de autoridades de defesa da concorrência do mundo inteiro, incluindo Brasil e China. Além disso, ele explicou que as companhias seguirão operando de forma separada nos próximos trimestres "por questões tributárias".
A fusão de Fibria com Suzano vai criar uma companhia com 37 mil funcionários, 18 bilhões de reais em exportações e investimentos estimados este ano de 6,4 bilhões de reais. A nova empresa terá 11 unidades industriais e capacidade de produção anual de 11 milhões de toneladas de celulose de mercado por ano, além de 1,4 milhão de toneladas de papel.
Schalka afirmou que Suzano e Fibria não têm planos de venda de qualquer uma dessas unidades e que a empresa não espera ser obrigada por autoridades de defesa da concorrência a vender alguma fábrica, apesar da capacidade de celulose de mercado combinada ser cerca duas vezes maior que a da rival mais próxima, a International Paper, segundo dados da consultoria Poyry.
"Estamos criando uma empresa com competitividade difícil de ser replicada... Nossa competitividade vem das florestas (plantadas de eucalipto)", disse Schalka. Florestas que, inclusive, serão componente importante para a obtenção das sinergias, disse o executivo, que espera uma redução do raio médio do transporte das toras de eucalipto para as fábricas que as transformam na pasta que é a base da produção do papel.
"Não entendemos que seja necessário nenhum desinvestimento de ativos por exigência de órgãos reguladores. Estamos falando de uma empresa que produz commodity que é produzida por múltiplos grupos no mundo", disse Schalka.
Segundo o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, o principal critério usado pelo banco para aprovar a operação com a Suzano foi "criação de valor". O banco vai levantar 8,5 bilhões de reais com a operação.
"Isso não torna ninguém campeão nacional. Tornará todos nós um gigante mundial", disse Rabello de Castro. "Nós vendemos uma parte e recompramos 11 por cento da nova companhia, junto com Votorantim, porque acreditamos no negócio", acrescentou. Ele afirmou ainda que o BNDES não teria feito acordo com a Suzano se "tivesse expectativa de que o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) não aprovasse" a transação.
"Deve ter algumas exigências, mas esperamos que o bom senso prevaleça", disse Rabello de Castro.
Mais cedo, a diretora de mercado de capitais do BNDES, Eliane Lustosa, afirmou à Reuters que a proposta da Suzano foi a única com garantias concretas de financiamento e que a oferta da Paper Excellence "foi apenas uma manifestação de intenção". Procurada pela Reuters, a Paper Excellence não se manifestou.
O BNDES, que antes da conclusão da transação tem 29,1 por cento da Fibria e 7 por cento da Suzano, manterá parcela de 11,1 por cento na companhia combinada. Já o grupo Votorantim, vai reduzir sua fatia de 29,4 por cento para 5,6 por cento. Os controladores da Suzano, que incluem família Feffer, terão 46,4 por cento da nova empresa, que segundo a Poyry terá 25 por cento do mercado mundial.
Para conseguir viabilizar a união das empresas, a Suzano propôs que os acionistas da Fibria receberão 52,50 reais por ação, corrigidos pelo CDI, além de 0,4611 ação da Suzano. A operação prevê emissão pela Suzano de 255 milhões de novas ações. Todas essas etapas só vão ocorrer quando as empresas receberem aval das autoridades de defesa da concorrência.
Este aval também é necessário para a Suzano dar andamento ao financiamento de 9,2 bilhões de dólares que a companhia afirma já ter 100 por cento contratado para viabilizar a transação, que vai elevar a dívida líquida combinada das duas empresas de 21 bilhões de reais para cerca de 50 bilhões de reais.
Apesar desse salto, o diretor financeiro da Suzano, Marcelo Bacci, afirmou que a relação entre dívida líquida e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) deverá fechar 2018 em 3,5 vezes no limite da política de endividamento da companhia. Em 2017, a alavancagem ficou em 2,1 vezes e a da Fibria em 2,49 vezes.
Segundo Bacci, a expectativa da companhia para a relação de endividamento deverá cair para "abaixo de duas ou três vezes em dois ou três anos".
A redução deverá vir da própria geração de caixa da nova companhia, além das sinergias, afirmaram Schalka e Bacci. O diretor financeiro comentou que a dívida atual da Suzano não carrega mecanismos de adiantamento de vencimentos em caso de mudança no grupo controlador, mas que a dívida da Fibria reunida em cerca de 6 bilhões de reais de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) tem.
"Vamos buscar com os detentores de CRAs para aceitarem (a mudança), caso não aceitem, não teremos problemas com a antecipação (dos vencimentos)", disse Bacci.
Questionado sobre receios dos próprios clientes de celulose sobre o poder de precificação da companhia combinada, Schalka reforçou o discurso de que a nova empresa manterá postura "forte e gentil" e que não mudará sua política de preços, que, segundo ele, é baseada principalmente nos fundamentos de oferta e procura do mercado.
No início do mês, a Fibria anunciou novo aumento de preços da tonelada celulose vendida para a América do Norte, Europa e Ásia. Os preços serão elevados a partir de abril em 20 dólares na América do Norte e Europa, para 1.230 e 1.050 dólares, respectivamente; e em 10 dólares na Ásia, para 840 dólares.
Schalka afirmou que no primeiro bimestre o preço realizado da celulose vendida pela Suzano foi de 728 dólares a tonelada e que isso conjugado com um índice de volatilidade de 10 por cento registrado nos últimos 8 anos é a base das projeções de geração de Ebitda da companhia combinada até 2020, de entre 12 bilhões e 18 bilhões de reais.
(Com reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier, Carolina Mandl e Tatiana Bautzer)