Por Priscila Jordão
SÃO PAULO (Reuters) - A Suzano Papel e Celulose (SA:SUZB5) avalia direcionar no curto prazo parte da nova produção de celulose tipo fluff, material usado em fraldas e absorventes, para o exterior, com Ásia e América Latina entre os primeiros destinos prováveis.
"O foco foi primeiro concentrar a atenção no mercado interno porque é mais fácil, tem a vantagem da logística e temos desenvolvido o maquinário dos clientes. Mas certamente vamos olhar em breve o mercado externo, está no radar", disse à Reuters o gerente do projeto fluff da Suzano e gerente executivo de Novos Negócios da empresa, Alexandre Corrêa.
Atualmente, 90 por cento da produção global do insumo está nos Estados Unidos, com o restante na Argentina, que é o segundo maior produtor por conta de fábrica da Arauco, perto da fronteira com o Brasil. Há também algumas produtoras menores na Europa, segundo Corrêa.
Diante dessa distribuição da produção global do insumo, a Suzano avalia que outros países na América Latina que hoje importam todo o fluff utilizado poderiam ser clientes da produção da companhia no Brasil. Outro foco da empresa para o produto é a China, que já é maior mercado mundial de celulose.
O produto da Suzano é produzido a partir da celulose de fibra curta de eucalipto, diferentemente do fluff tradicional, que vem da fibra longa de árvores como pinheiros. Segundo a companhia, que não fabrica celulose de fibra longa, o produto traz ganhos de capacidade de absorção de líquidos e permite redução da espessura do produto final.
A Suzano começou a produzir o insumo em novembro e a vendê-lo em dezembro. A empresa tem no momento 15 clientes no Brasil, dos quais cinco têm feito compras regulares desde dezembro e três são empresas de médio porte. Outros 20 clientes estão testando o material ou já aprovaram o produto, disse Corrêa.
Os clientes grandes precisam de mais tempo para aprovarem o insumo, mas a Suzano espera anunciar pelo menos um ainda neste ano. Duas empresas de grande porte acompanharam o processo de desenvolvimento do fluff com a Suzano durante os testes.
O objetivo da Suzano não é substituir todo o fluff de fibra longa usado atualmente no mercado por fibra curta, e sim fazer uma mistura, definida nas pesquisas da companhia em 30 por cento de fluff fibra curta para fraldas e 70 por cento para absorventes femininos. Com a celulose fluff já em produção, a Suzano afirma que clientes já estão conseguindo chegar a níveis maiores, de 50 por cento para fraldas e 80 por cento para absorventes.
Na avaliação da Suzano, a mistura traz ganhos na capacidade de absorção e espessura do produto final. Entre as desvantagens, está a impossibilidade corrente de substituição completa da fibra longa em determinados produtos. "Com o tempo, o processo vai mudar, tem produtos que dá para ir para 100 por cento, mas não hoje. Agora temos olhado muito mais para como conseguimos fazer um complemento do que um substituto", diz.
Para obter o novo material, a companhia modificou uma máquina de produção de papel instalada em fábrica da companhia em Suzano (SP), alternando a produção de papel couchê com a de fluff. A capacidade anunciada de produção inicial é de 100 mil toneladas anuais de fluff. Com a curva de aprendizado da máquina, o nível máximo deve ser atingido em quatro meses, contando a partir de janeiro, segundo Corrêa. A companhia investiu 30 milhões de reais para começar a produzir o insumo no país.
O Brasil tem um mercado de cerca de 290 mil toneladas anuais de celulose fluff, volume que deve crescer 4,3 por cento ao ano nos próximos cinco anos, na avaliação da Suzano. Além da empresa, a rival Klabin (SA:KLBN4) também passará a produzir fluff com a inauguração de fábrica no Paraná, cuja partida ocorre neste mês. No caso da Klabin, a matéria-prima será fibra longa.
"Já temos planos para converter outras máquinas e fazer uma nova (só para fluff), mas depende do 'ramp-up' (desenvolvimento) do mercado", afirmou o executivo. A produção pode ser realizada também nas fábricas de Limeira (SP) ou de Mucuri (BA), por exemplo.
A visão de longo prazo da Suzano é de que, considerando que o mercado global de fluff é de cerca de 5,6 milhões toneladas por ano, o fluff de fibra curta teria espaço para ocupar pelo menos de 1 milhão a 1,5 milhão de toneladas desse volume, dado os percentuais de substituição.