Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros fecharam a terça-feira em queda no Brasil, na esteira da divulgação de dados que indicaram deflação em julho, o que ampliou as chances precificadas na curva a termo de o Banco Central iniciar o novo ciclo de redução da Selic com corte de 0,50 ponto percentual na semana que vem.
Este foi o terceiro dia consecutivo de baixa nas taxas dos Depósitos Interfinanceiros (DIs). O gatilho para o movimento foi a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), que mostrou deflação de 0,07% em julho, contra variação positiva de 0,04% em junho, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado do mês foi o mais baixo desde setembro de 2022 (-0,37%), e a queda foi mais intensa do que a expectativa de pesquisa da Reuters, de variação negativa de 0,01%. Considerado prévia da inflação oficial, medida pelo IPCA, o IPCA-15 passou a acumular em 12 meses até julho alta de 3,19%, de 3,40% em junho. A projeção dos analistas era de 3,26%.
“Já se vê este movimento de queda das taxas faz um bom tempo. Com esta confirmação do IPCA-15 mais fraco, o mercado está basicamente dando sequência à tendência mais clara de queda dos juros, que começou em março”, afirmou Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
Segundo ele, apesar dos recuos recentes, os DIs mostram taxas elevadas até o contrato para janeiro de 2029, perto de 10,5%, o que sugere um “caminho até confortável para cair mais que isso”.
Neste cenário, a curva a termo passou a precificar chances maiores de que o BC corte a taxa básica Selic, hoje em 13,75% ao ano, em 0,50 ponto percentual na próxima semana.
Perto do fechamento desta terça-feira, a precificação na curva a termo era de 65% de chances de corte de 0,50 ponto percentual da taxa básica Selic na próxima semana e de 35% de probabilidade de corte de 0,25 ponto percentual. Na segunda-feira, os percentuais eram de 55% e 45%, respectivamente.
Embora a curva a termo precifique corte de meio ponto percentual, economistas do mercado seguem adotando um discurso moderado.
“Acreditamos que o comitê seguirá cauteloso e parcimonioso na condução da política monetária do país, de maneira que os cortes iniciais devem ser de baixa magnitude e só serem ampliados quando a autoridade monetária julgar que de fato o processo de desinflação se sustentará no tempo”, avaliou o economista Matheus Pizzani, da CM Capital, projetando corte de 0,25 ponto no próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom).
Para o economista-chefe da Órama, Alexandre Espirito Santo, “o indicador (IPCA-15) traz otimismo nessa última leitura antes da próxima reunião do Copom, abrindo espaço para uma precificação na curva de queda de 50 bps. Contudo, mantemos nossa visão de um corte mais conservador, de 25 bps, motivado pelo discurso do BC nas últimas comunicações e pela perspectiva de retomada da aceleração dos preços”.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,64%, ante 12,706% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,645%, ante 10,733% do ajuste anterior. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2026 estava em 10,08%, ante 10,152% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,14%, ante 10,194%.
O recuo das taxas futuras no Brasil ocorreu a despeito de, no exterior, os rendimentos dos Treasuries sustentarem ganhos, com investidores à espera da decisão de política monetária do Federal Reserve na quarta-feira.
Às 16:36 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- subia 4,30 pontos-base, a 3,9003%.